quinta-feira, 31 de julho de 2003




tal a emoção e o cansaço, esqueci-me de duas coisas que era essencial referir: a partir de hoje a vida recupera o sabor da liberdade (estou oficialmente de férias). «Amar-te é dizer-te: tu não morrerás jamais.» em que amar-te não é equivalente a querer-te.





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posted by saturnine | 23:01 | 0 Comentários


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«Amar-te é dizer-te: tu não morrerás jamais.» | no arame.

a forma como me deixa abismada a natureza de certas palavras faz-me perder, por vezes, a capacidade de raciocínio. a evidência inequívoca da verdade que carregam é como um soco no estômago. procuro virar o rosto a esta frase e ela não mo permite: força-me a olhá-la nos olhos e engolir em seco. porque de facto o reconhecimento do amor traz consigo uma promessa de eternidade. mas não é ainda isso que por si só pacifica ou constrange, é antes a ideia de que lhe é subjacente: a de que nenhum amor poderá então morrer. e se não pode morrer, alturas haverá em que se arrastará morto-vivo pelas concavidades doridas dessa mesma eternidade desastrada. mas isto, isto, pouco importa. importa é que tens um rosto que eu conheço de cor, que amo o que nele houve de comum com o sonho, e que onde quer que estejamos, qualquer que seja a fibra do silêncio que nos divida, tu não morrerás jamais.



Eis que morreste. Mortalmente triste
Divaga a flor da aurora entre os teus dedos
E o teu rosto ficou entre as estátuas
Velado até que o novo dia nasça.


Se nenhum amor pode ser perdido
Tu renascerás – mas quando?

Pode ser que primeiro o tempo gaste
A frágil substância do meu sono.


Sophia de Mello Breyner Andresen | Eis que morreste





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quarta-feira, 30 de julho de 2003




Porque tremo se tu escreves?
Desta cela,
Um lugar tão secreto como o teu.


escrito pelo Luís, a quem, por isto, dedico o primeiro beijo do little black spot. *chuac!*





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humpf... parece que o little black spot passou as últimas 24 horas em black out. peço desculpa, é o que dá ser vítima dos acessos de um computador esclerosado. >B(

retomaremos a emissão dentro de momentos.





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terça-feira, 29 de julho de 2003



é preciso ouvir


sycamore trees, twin peaks | fire walk with me b.s.o. (feat. jimmy scott)

porquê? por motivo do inesperado Verão. do esmagador silêncio do calor no asfalto, da inclemência de um céu despovoado, dolorosamente azul sobre os meus ombros cansados sem o equilíbrio dos teus. por toda esta ausência feita memória estilhaçada, redobra-se a ardente memória das árvores. e subitamente por dentro é Inverno, estamos rodeados de plátanos e aprendemos o amor na completa escuridão das ruas.





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lido no Aviz (uma cerveja, na lentidão que lhe é própria, parece ter realmente efeitos magníficos), um texto de domingo:

ADEUS. A morte tem uma particularidade, para além do que escrevemos sobre ela enquanto figura ou enquanto texto: aproxima-nos do rosto de Deus — que, de facto, não tem rosto, nem voz (porque perecerá aquele que a ouvir), nem idioma. E aproxima-nos do seu sorriso. E do seu nome. Anteontem, na morte de um homem bom, que eu admirava e com quem gostava tanto de falar, a inquietação volta a tocar-me. «Agora ele descansa», foi a única coisa que pude dizer, já foi dito tantas vezes; mas a morte não é um tema e sobre ela dizemos as coisas mais absurdas. As despedidas são sempre invadidas por vozes que não são deste mundo.

e depois, atrevo-me eu a acrescentar (supondo) o seguimento incontornável, um texto de segunda-feira:

O QUE RESTA É A VIDA INTEIRA. Faz-se tantas vezes essa pergunta: o que fica, depois de quase tudo desaparecer? E, de repente, entre a noite e os ruídos da noite, muda-se a pergunta. Muda-se a vida. O que fica é um perfume ligeiro, uma ventania que abre o coração ao meio. Vida perfeita, imperfeita, capaz de tudo.


isto vem hoje em jeito de comemoração: o Aviz teve a gentileza de me referir na sua lista de blogs, e eu agradeço. :)





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[inesperadamente verão]

ao fim do dia a estrade arde
sob o seu pulmão verde de sombras.

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segunda-feira, 28 de julho de 2003




*concretização*:

[por vezes]

sob o corpo aberto deste sol
o silêncio torna-se tangível
e até as pedras se enroscam

numa ternura de coração.

[por vezes]





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domingo, 27 de julho de 2003




substâncias #2

na densidade do sono
o silêncio
é espessura visível

que logo se perde
e se esfuma
se um leve estremecimento
do corpo
acaso ousa
acordar recordando.





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*contemplação*:

a varanda é o lugar
de onde o sonho se faz trajecto:
um voo azulado e nocturno.





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o primeiro poema de Brecht que li, permanecerá sem dúvida predilecto:

DA VIOLÊNCIA

Do rio que tudo arrasta se diz que é violento.
Mas ninguém diz violentas
As margens que o comprimem.



e acrescento que será possivelmente dos poemas mais geniais que já li. até em Brecht se fala de uma referência ao haiku. aqui, creio poder comprovar-se porque a fórmula resulta.





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*acerto*:

enquanto divaga a nuvem
todo o sal e toda a água:
parco vestígio dos teus olhos.





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descrição de um weblog:

em oposição ao vazio imenso das grandes casas, aqui se encontra a ternura acolhedora das quatro paredes brancas, cingindo o aroma adocicado da madeira. um pequeno apartamento na penumbra de um fim de tarde cheio de luz exterior. o negro dos estores risca o silêncio das paredes. um rumor de árvores ouve-se próximo, lá fora. há aqui o espaço meramente suficiente. a casa inteira um quarto de férias, com varanda para o mar. respira-se azul e sossego e a ausência das grandes causas. aqui repouso, aqui esqueço. aqui é o lugar para ir sendo, para existir devagarinho, para relembrar o amor de vez em quando, mas esquecendo tudo o que é desmesurado e para sempre.





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imperdoável ainda não estar referido este site de poesia castelhana. por exemplo:


A través del follaje perenne
que oír deja rumores extraños,
y entre un mar de ondulante verdura,
amorosa mansión de los pájaros,
desde mis ventanas veo
el templo que quise tanto.

El templo que tanto quise...,
pues no sé decir ya si le quiero,
que en el rudo vaivén que sin tregua
se agitan mis pensamientos,
dudo si el rencor adusto
vive unido al amor en mi pecho.

Rosalia de Castro | Orrillas del Sar I


Miré los muros de la patria mía,
si un tiempo fuertes, ya desmoronados,
de la carrera de la edad cansados,
por quien caduca ya su valentía.
Salíme al campo, vi que el sol bebía
los arroyos del hielo desatados,
y del monte quejosos los ganados,
que con sombras hurtó su luz al día.
Entré en mi casa; vi que amancillada,
de anciana habitación era despojos;
mi báculo, más corvo y menos fuerte.
Vencida de la edad sentí mi espalda,
y no hallé cosa en que poner los ojos
que no fuese recuerdo de la muerte.

Francisco de Quevedo | Miré los muros de la patria mía



Hoy he sentido el río entero
en mis brazos...
Lo he sentido
en mis brazos, trémulo... Vivo
como el cuerpo de un hombre verde...
Esta mañana el río ha sido
mio: Lo levanté del viejo
cauce. ¡Y me lo eché en el pecho!
Pesaba el río... Palpitaba
el río adolorido del
desgarramiento... -¡Fiebre mía
delagua!...-.
¡Me dejó en la boca
un sabor amargo de amor y muerte!

Dulce María Loynaz | Abrazo





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sábado, 26 de julho de 2003




*predisposição*:

na palma da mão
um sonho vago:
um coração de pássaro.





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current mood:


«A sombra azul da palavra moira
O branco vivo da palavra sal.»

O Búzio de Cós | Sopia de Mello Breyner Andresen



Alcácer do Sal | 2002

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posted by saturnine | 23:23 | 0 Comentários


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substâncias #1

apesar de tudo
inequívoco é que o instante passa
e da espuma
como da pedra
também se esvai a substância

não resta senão
um ponto ponto por onde
recomeçar

a fragilidade da espera
é ainda a eternidade possível.





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«Depressa se vai a Primavera
choram os pássaros e há lágrimas
nos olhos dos peixes»

O Caminho estreito (p. 59)


«SALGUEIROS

Em Ashimo há também salgueiros que se debruçam sobre os regatos. Adivinham-se entre os carreiros que separam um arrozal do outro. Tobe, senhor deste lugar, prometera que nos ia mostrá-los. Passei grande parte desse dia, em frente de um salgueiro:

Ficou plantado o arrozal
quando me despedi
do salgueiro»

O Caminho estreito (p. 66)


há palavras cujo poder evocativo é maior, por algum motivo. se penso em arroz, logo me vêm à ideia olhinhos rasgados de profunda serenidade oriental. se penso em arroz, penso nas águas caudalosas do Mékong, que não conheço. penso na paisagem que me aguarda algures no interior do corpo que habito. este foi o mais belo livro que comprei. nada está mais próximo da serenidade do que a simplicidade. Ad Reinhardt defendia que less is more, e o minimalismo tem aqui uma valente razão de ser. com Matsuo Bashô redescubro a frescura das raízes, e relembro a aprendizagem da paciência, essencial à construção da tranquilidade.

Estou em crer que a leitura de um diário de viagem é também ela uma viagem (...). | Jorge Sousa Braga





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posted by saturnine | 22:52 |


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Primeiro canto do lugar da incerteza

[Propósito]

Vou erguer o meu amor do nada
e cantá-lo ainda assim
- não há coisa mais cantável
do que o que do nada vem.


[Explicação]

Como os malmequeres
que nascem das pedras que se atiram
- debaixo das pedras que se atiram -
assim este amor
e este canto a acompanhá-lo.


[Redundância]

Para sempre
- pois para sempre é sempre o amor.


descoberto hoje no lugar da incerteza. com muito gosto lhe dou as boas vindas.





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«conversa com um amigo:

- Então acabaste com a tua namorada?
- Há 15 dias.
- Outra vez?
- Sempre que termino uma relação penso que devia ter dado ouvidos àquilo que a minha mãe me dizia...
- O que era?
- Não sei. Não estava a ouvir.»


escrito pelo Luís, no desejo casar (também eu. companheiro procura-se.)





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«Este academismo, agora instalado (não só em Portugal como em muitos outros países, como a França, para citar um exemplo extraordinário), proclama o fim do eterno e exalta o efémero admirável. Autointitula-se "conceptual", negando todo o processo criativo e produtivo, tal como era ensinado "antigamente". Mais, expande o horizonte da Arte até onde a vista não alcança e já nem o céu é o limite.»

lido n' a sombra, na sequência de uma discussão inciada ali mais em baixo sobre o rumo da arte contemporânea. [para seguir o fio à meada]

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angularidades #5

quebrados os espaços
o silêncio estilhaçado pelos cantos
orlas negras
de bruços
os meus passos dispersos

o distinto nojo converte-se
em consagrada indiferença.





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sexta-feira, 25 de julho de 2003




angularidades #4

a substância do meu cansaço
a orla invisível do meu corpo
como espuma branca

ou pedra sobre a falta.

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hoje ocorreu-me outro motivo porque vale a pena ter um blog: é agradável receber os e-mails.
durante semanas, o mesmo gesto repete-se, avolumando-se a espessura que atravessa para repetir-se, pelo simples facto de que resulta em vazio. verifica-se sistematicamente, de 5 em 5 minutos, a caixa de correio, quando se sabe precisamente que não há nada de novo. e este silêncio esmagador dói, por vezes. em alguns momentos difíceis. é como o telefone que não toca, o carteiro que chega de mãos vazias, é o mesmo sabor de todas as palavras que ninguém diz.

hoje, esqueço-me do telefone que não toca, das sms que não recebo, e o silêncio é menos brutal - sinto-me no convés de um navio, outrora sozinha a olhar o mar, agora então trocando sorrisos com os outros passageiros. gosto de receber os e-mails. tenho tanto de voyeur como tenho de exibicionista. gosto de saber que se sabe que estou aqui. mesmo pequenina. mesmo negra sobre um minúsculo pontinho negro.





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Man Ray, Les Larmes



Man Ray, Noire et Blanche



Cindy Sherman, Untitled Film Still #56


hoje fui à FNAC.





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quinta-feira, 24 de julho de 2003




não sei como descrever este fenómeno. não sei se é um reflexo da crescente falta de qualidade ultimamente muito discutida no mundo literário, ou se simplesmente antes era ignorante e agora estou mais atenta: sinto-me profundamente defraudada com a leitura que me tem chegado às mãos. não tenho (ainda) estofo para ler originais noutras línguas. por isso mesmo, toda a minha vida confiei nos tradutores portugueses. nunca sequer me questionei sobre a fidelidade das traduções até me ter apercebido que não há valores absolutos nas equivalências linguísticas.

mesmo eu sendo capaz de embrulhar o estômago e aceitar uma tradução que encurte em 20 páginas a obra original, ou uma que traduza o «mi niña se fue al mar» de Lorca por « o meu amor foi ao mar» (não sou picuinhas, confesso, nem muito metódica nas leituras), o que não posso de qualquer forma aceitar é que 2 em cada 3 livros que compro me cheguem às mãos com uma enxurrada de erros ortográficos e de pontuação, é vergonhoso. pensei que não fosse possível, pelo menos em editoras de maior gabarito. mas está provado - a Assírio & Alvim e a Livros do Brasil publicam livros com erros que envergonham e enervam. esperei 2 anos até finalmente conseguir ler O Estrangeiro de Camus (adquiri a edição da Livros do Brasil); e tudo isto para quê? para isto:

«não posso deixar de, tremer.»
«Perguntou-me, então, se eu, julgara que ele ia responder»
«Fechou, a porta»
«modificar a minha, vida»
«disse-lhe que poderíamos Jantar juntos no Celeste»
«mulherezinha»
«refresca-vam-me as têmporas»
«introduzi-riam»
«embaraça-damente»

para não falar da terminação das frases sem pontos finais. dos inícios de frase sem maiúsculas. da lombada mal colada com suas folhas que estalam cada vez que as manuseio. como se não bastasse já o meu mau humor natural. vou procurar O Estrangeiro em francês, isso é que vou!





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[odeio-te. odeio-te pelo dia de hoje. revoltas-me e repugnas-me. odeio-te pela mentira que se procura fazer anestesia. odeio-te pelo amor ao desapego. odeio-te ainda. revoltas-me e repugnas-me. mais um minuto e isto passa.]

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angularidades #3

dizem-me que nada do que rui
subsiste
que te perderei um dia
quando aprender a perder-te
como quem de súbito
odeia o sol
que lhe ilumina os passos

recortados de ângulos
negros impossíveis.

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quarta-feira, 23 de julho de 2003




angularidades #2

porque me disseram
que da flor se engendra a eternidade
estendo um leque de acácias
sobre o silêncio agudo dos dias

para que a minha boca
inflamada de sal
adquira
desde já
o contorno do teu nome.





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angularidades #1

dizem que os dias arrastam a fibra
da memória
que te perderei algures
numa dessas ruas
em que não passa ninguém
senão eu

ao dobrar uma esquina

por onde se curva a noite
por onde espreita a morte.





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do esmagamento e da comoção


estive frente a frente com estas coisas. monumentais. esmagadoras. exactas. sinto-me sempre duplamente emocionada quando contemplo uma escultura maior do que eu.



L'homme qui marche, Alberto Giacometti




Diego, Alberto Giacometti




Femme debut ["Leoni"], Alberto Giacometti




estúdio de Giacometti





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posted by saturnine | 22:03 |


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o voyeurismo duplicado acontece quando observamos os gestos dos outros através do olhar de terceiros. neste espaço, os gestos têm a forma de palavras, e o olhar interposto tem a forma de citação. assumo o risco da diluição gradual das referências exactas, em prol da absoluta necessariedade de colocar aqui estas palavras incontornáveis:

«Devíamos mudar de nome e de nacionalidade quando os amores terminam. Os amores deixam pegadas nos sítios por onde passam; território proibido que não se apaga.».

do autor da flor de obsessão mas lido pela primeira vez no noite escura. sempre me senti assim, estrangeira no mundo tomado por um amor que acaba e não morre. o que acontece frequentemente é passearmo-nos pelas ruas transportando ao nosso lado o lugar da ausência, e subitamente nos apercebermos de que todos os espaços estão cheios de buracos - onde outrora estiveste e hoje já não estás.


mas esta citação agora é mesmo minha:

«CONDIÇÃO HUMANA: A verdade é que apanhamos a vida a meio. Não começamos nada. Não acabamos nada. As memórias estão todas feitas. A nossa condição é a de quem espera mas sem saber bem o quê. Quando nos esforçamos por saber, dizem-nos maduramente que não adianta.».

da mesma flor de obsessão, de que gosto muito, gosto cada vez mais. são assim os românticos. :|

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segunda-feira, 21 de julho de 2003




«E é a ausência destas preocupações que me faz feliz. Há coisas que não preciso. Há coisas que não quero. Desculpem-me os ofendidos.», disse o David.

não pretendo fazer considerações sobre todo o texto do dia de ontem. apenas destaquei isto porque disto me apeteceu falar. se bem que é sempre triste o desencanto de alguém que apenas começamos a perceber que floresce, estas três frases que transcrevo dizem muito. se ainda nos pusessemos a perguntar 'para que serve um blog?', eu seria das que responderia 'para colocar dedos nas feridas'. e então, daria a minha mão à palmatória do David, reconhecendo que há coisas de que, de facto, não precisamos.

gosto de ti, pá! :)*

posted by saturnine | 23:40 | 0 Comentários


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«A luz opera, sobretudo, em nome
do nome duma luz desconhecida.
Que a si se punge, ao fundo do seu longe,
a dar somente aquilo que retira
para o sítio invisível para de onde
em negrura nos chega. Ou em enigma
a dar sinal. E, até a dar-se. Só que
o dar-se tem recuo de subida.
De solavanco côncavo de noite
que, apenas textual, a sua intriga
entrega de um amor que perde o nome
no drástico recuo que cintila.»


Fernando Echevarría

e depois, sobre o autor:

«Poética do deslumbramento, a poesia de Fernando Echevarría conduz-nos ao coração do ser, o indefinível nas palavras de Heidegger. Tal como nos conduz, ainda nas palavras de Heidegger, à obra de arte como obra fazendo-se, como obra operando-se em si mesma, buscando a verdade.»

lido aqui.


não conheço praticamente nada de Fernando Echevarría. mas apetece-me. obviamente que ainda agora estou recém-recuperada de uma crise aguda de consumismo que me ia levando à desgraça, e por isso mesmo é com tristeza que digo que me passaram pela mão livros do poeta, e da mão regressaram tristemente à prateleira. em breve, quem sabe. deste poema gostei, para já. que outra substância poderia ser a da poesia senão a da busca da verdade?





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posted by saturnine | 22:26 | 0 Comentários


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o que mais há por esse mundo fora são espectros que se alongam, esguios, como as sombras das frustrações - sentimentos inacabados, vidas mal resolvidas. um jovem Tom Cruise (ainda longe dos tempos de 'Entrevista com o Vampiro') dizia em jeito de aforismo que «tudo acaba mal, se não não acabava». e em certa medida, pode dizer-se que é verdade. por isso é que não seria de todo má ideia defender que - em certas situações particulares - se voltrasse atrás, que se recompusessem os laços por mais um momento, para que assim as coisas pudessem então acabar como deve ser, sem mágoas nem rancores, com uma despedida sã em que um «Até à vista!» sossegasse os soluços do coração, antes martirizado de saudade inconclusiva. mais uma vez cito Mia Couto:

«Não saberei nunca
dizer adeus
Afinal
só os mortos sabem morrer»
*

por isso se poderia defender o voltar-se atrás - «anda cá outra vez que não era nada disso que eu queria dizer!» -, para que, reconstruído o momento já com o coração no prego, se aprendesse a morrer mais um pouco. precisamos de mais vidas resolvidas. só assim poderemos novamente falar de amor.

* do Poema da despedida





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domingo, 20 de julho de 2003



a hora do diabo


assim fala o Diabo, pela mão de Fernando Pessoa:

«Corrompo, é certo, porque faço imginar. Mas Deus é pior - num sentido, pelo menos, porque criou o corpo corruptível, que é muito menos estético. Os sonhos, ao menos, não apodrecem. Passam.»

A Hora do Diabo | Fernando Pessoa, Assírio & Alvim [1997]


ideia interessante para reflectir. não que o pretenda fazer agora. isto é, frases como esta erradicam a vontade dos comentários.





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do desencantamento essencial


tenho que ser sincera: pouco me dizem um Tapiès, ou um Baselitz, ou um Douglas Gordon. não gosto, de uma forma geral, do rumo da arte contemporânea. o uso e abuso das novas tendências tornam as obras (aos meus olhos) monstruosidades assépticas que, por isso mesmo, me resultam indiferentes.
como me dizia o Rui, d'a sombra, existe em comum entre nós uma profunda tendência para o romantismo que, a mim, me distancia desta coisa sem fronteiras a que, encontrando-se no domínio da arte, não sei ainda classificar - não consigo encontrair raízes que me comovam. na verdade, nem sequer me entusiasmam muito as exposições. ver o quê, e para quê? para ter visto? não basta. não gosto do eco oco com que saio das salas das super-em-voga instalações. gosto de sair abalada e com os joelhos a tremer, com o peito feito num balão de ar quente - por isso prefiro os museus. como quando vi a Guernica; como quando vi o meu primeiro Giacometti. assumo o meu romantismo exacerbado e o ímpeto expressionista que me leva a procurar sempre o reconhecimento de cada gesto. tenho alguns quadros preferidos, e todos eles mais de 50 anos de existência.





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sábado, 19 de julho de 2003




funny how secrets travel >

hoje visitei pela primeira vez a natureza do mal. senti-me tão em casa...

> i'm deranged.

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pergunta para hoje: porquê?





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sobre 'UM TEXTO LONGO, SIM'


e o seguimento da constatação que este é um mundo pequeno, acontece que finalmente tive que dar o braço a torcer: por todo o lado encontrei fervorosas recomendações a um certo texto longo publicado no Aviz; pois foi hoje mesmo (qualquer semelhança com o post anterior é pura coincidência, note-se) que recolhi a vontade necessária para sobre ele me debruçar. e percebo porque se insiste que é um texto que não se pode deixar passar. assim, o mesmo texto passa - ironicamente - a ser citado pela enésima vez na blogosfera:

«Repito: está tudo tão à vista, aqui — os que contam as visitas e as page-views, os que não resistem a dizer que foram citados. Mas há os outros, sim: os que escrevem — e pronto. Os que dizem o que querem dizer. Os que se estão nas tintas. Os que têm uma palavra que não nega que gostava de ser lida? É isso um pecado assim tão criticável, tão menosprezável? Quando é que as pessoas escrevem — e pronto? Quando é que passam a escrever o que querem mesmo dizer, escondendo aquilo que acham que é para manter escondido, e não estão com muitas justificações, lapsos, vulgaridades, paralaxes?
Há nos blogs uma fragilidade muito evidente: são coisas que se escrevem porque sim, porque apetece naquele momento, porque nos lembramos, porque alguém falou disso, porque a ventania vem do lado do mar, porque o pó se levantou no meio do deserto em frases curtas, em textos longos, ou porque começou a chover no domingo. Essa fragilidade é um bem porque podemos discutir com ela — ou comover-nos.»


eu sou das que escrevo - e pronto - porque me apetece, porque sim, porque me lembro, e também porque quero ser lida (e como tal conto as visitas e as page views), porque anseio pela cumplicidade com o seu quê de exibicionismo naturalmente egocêntrico (e fico muito feliz com as citações que me fazem), porque me comovo com a fragilidade essencial desta espécie de intimidade exposta, que é o lugar comum em que as afinidades se geram. era isto que queria dizer. de resto, acrescento isto: não acredito que seja necessário saber-se o que se quer fazer/dizer. aliás, eu ando aqui precisamente porque não sei. e basta-me. é só.





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música para o dia de hoje #2


peter gunn, henry mancini
i'm deranged, david bowie
across the universe, fiona apple
gling gló, björk
i can't help loving that man, björk
nu flyver anton, björk
the ice princess & the killer whale, björk





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--> é hoje.





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sexta-feira, 18 de julho de 2003




poucas imagens devem ser tão intensamente belas como a da expressão 'corpo a corpo'. não só pelo que há de íntimo na luta, como também pelo que existe de violento na paixão. talvez porque o jogo tangencialmente perigoso tenha o sabor suado da dança. o 'corpo a corpo' tem o tom das noites quentes de verão entre quatro paredes (brancas), ou a acidez metálica do sangue ao canto da boca. é uma dualidade em que se entrega e se morre. na luta, como no amor, joga-se à cabra-cega com o inexorável vazio de sermos um.





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quarta-feira, 16 de julho de 2003




3 quadros de Edvard Munch > parte II [ansiedade]



Despair, 1893-4



Anxiety, 1894



Evening on Karl Johan, 1892





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mais um voyeur. a que agradeço por me ter 'debaixo d'olho'. B)
e por isso mesmo aqui fica uma sugestão:


Spy in the cab | Bauhaus

Hidden in the dashboard
The unseen mechanized eye
Under surveillance
The road is full of cats eyes
It's sick function to pry
The spy in the cab

Coldly observing- callously reserving
A drivers time
Automated autonomy
Playing on his mind
The spy in the cab

The spy in the cab

An eye for an eye
A spy for an eye
An eye for an eye
A spy for a spy

A twenty-four hour unblinking watch
Installed to pry
Installed to cop
The spy in the cab
The spy in the cab
The spy in the cab

I spy with my little eye spy with my little I spy with my
Little eye spy with my little I spy... spy... spy





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posted by saturnine | 21:07 | 0 Comentários


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[do peito para os dedos]

numa esquina de luz amarela
numa mesa de muda intimidade
um pássaro qualquer grita

ou canta.

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muito obrigado ao Vítor pela simpatia do seu comentário, acima de tudo por me pôr ao som de Lisa Ekdahl. :)
gosto deste blog, e das suas moods musicais.





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posted by saturnine | 20:21 | 0 Comentários


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do posfácio de Shanghai Baby | Wei Hui:

«Gostaria de conseguir dissimular-me um pouco melhor entre as palavras, um pouco melhor do que faço, mas reconheço que é difícil. Sou incapaz de renegar essa filosofia de vida, simples e autêntica, que é a minha filosofia. Não posso esconder as comoções, as dores e as paixões que me percorrem dos pés à cabeça, mesmo que, na maioria das vezes, acolha contra vontade o que me reserva o destino. Sou uma jovem fatalista, cheia de contradições e difícil de explicar.
Por isso escrevo tudo o que me apetece dizer, sem me entrincheirar atrás seja do que for.»


coloco isto aqui ainda em seguimento do post anterior, no que respeita aos desabafos sobre a (in)utilidade da escrita. a verdade é que sou assim - incapaz de me esconder e dissimular. se o faço por vezes, é através das múltiplas variações no tom, conforme os 'apetites'. embora admire francamente os grandes ficcionadores, a sua grande capacidade criativa para engendrar mundos inteiros a partir do nada, não consigo conceber a escrita que não seja de alguma forma autobiográfica. talvez seja, à transparência, uma simples egocêntrica. mas sou-o com gosto. com gosto de gostar de mim. mesmo quando não gosto.





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posted by saturnine | 19:57 | 0 Comentários


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segunda-feira, 14 de julho de 2003




às vezes pergunto-me sobre a utilidade de se escrever num blog que [quase] ninguém lê. muitas vezes me interrogo sobre isso. escrever aqui ou nos cadernos, tanto faz. é uma terna inutilidade, suponho. escrevo como se oferecesse presentes e no entanto ofereço presentes como se atirasse folhas ao vento. estou certa que não estou sozinha nestas minhas indagações. por vezes acontece, entristecermo-nos assim com o vazio da escrita. com os seus abismos. mas, tal como Mia Couto:

«nenhuma palavra
alcança o mundo, eu sei
ainda assim
escrevo.»


do Poema da Despedida
in Raiz de Orvalho e Outros Poemas





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posted by saturnine | 23:03 |


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preâmbulo

no quadriculado plano das ruas
a luz desdobra-se lenta:
silêncio e mar, ao largo.




I

o que de mim há
na lisura deste chão
é a sombra azul que projecto.




II

a ausência total do teu rosto
semelhante ao quebrar da espiga:
o vento uiva pelas manhãs.




III

a fragilidade exacta
de dedos entrelaçados:
um pássaro faz-se céu.



resolução

por vezes na inquietude da pergunta
destila-se o rigor possível
segundo o qual sobrevivo.






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posted by saturnine | 19:20 | 0 Comentários


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este é o Gecko. o meu melhor amigo. a solução ideal para combater os dias cinzentos. para se libertar da melancolia, ponha o Gecko a cantar para si. não lhe resolve os problemas, mas garanto-lhe que é a coisa mais linda que já viu a cantar.

[para melhores resultados aconselha-se o acompanhamento da coreografia juntamente com o boneco.]

posted by saturnine | 00:29 | 0 Comentários


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é [quase] imperdoável. um site belíssimo, das coisas mais criativas que tenho visto na net nos últimos tempos... e eu sem fazer referência. nobody here * vale a pena visitar, deixar-se envolver pelo fascínio dos labirintos intermináveis, descobrindo passo a passo que a teia da intimidade tem ramifiações muito para além do que imaginamos. vale mesmo a pena.

* o URL não aponta para a página inicial do site, muito simplesmente porque foi precisamente neste ponto que o descobri, e é um lugar tão bom para começar como outro qualquier. metam-se à aventura!





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posted by saturnine | 00:13 | 0 Comentários


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domingo, 13 de julho de 2003




não é um blog [mas podia ser]: um site onde se encontra reunida alguma poesia latina, ou pelo menos é assim que o(a) autor(a) se nos apresenta. com actualizações mais ou menos periódicas, lá vamos encontrando algumas coisas que sabem muito bem. [citando um amigo, é impressionante como no 'saber bem' se confunde o saber e o sabor, não é?]



Entre ir e ficar duvida o dia,
enamorado de sua transparência.

A tarde circular é já baía:
em seu quieto vaivém se mexe o mundo.

Tudo é visível e tudo é efusivo,
tudo está perto e tudo é intocável.

Os papéis, o livro, o copo, o lápis
repousa à sombra de seus nomes.

Bater do tempo que em minha têmpora repete
a mesma teimosa sílaba de sangue.

A luz faz do muro indiferente
um espectral teatro de reflexos.

No centro de um olho me descubro;
não me olha, me olho em seu olhar.

Dissipa-se o instante. Sem me mover,
eu fico e me vou: sou uma pausa

Entre ir e ficar | Octavio Paz



Os animais foram
imperfeitos,
compridos de rabo, tristes
de cabeça.
Pouco a pouco se foram
compondo,
fazendo-se paisagem,
adquirindo pintas, graça, vôo.
O gato,
só o gato
apareceu completo
e orgulhoso:
nasceu completamente terminado,
anda sozinho e sabe o que quer. (...)

Ode ao gato | Pablo Neruda



Minha menina se foi ao mar
a contar ondas e pedrinhas,
porém se encontrou, de pronto,
com o rio de Sevilha.
Entre adelfas e sinos
cinco barcos se mexiam,
com os remos na água
e as velas na brisa.
Quem olha dentro a torre
adornada de Sevilha?
Cinco vozes contestavam
redondas como anéis.
O céu monta elegante
ao rio, de margem a margem.
No ar cor-de-rosa,
cinco anéis se mexiam.

Minha menina se foi ao mar | Frederico garcía Lorca



Com tal veemência o vento
vem do mar, que seus sons
elementares contagiam
o silêncio da noite.

Só em tua cama o escutas
insistente nos cristais
tocar, chorando e chamando
como perdido sem ninguém.

Porém não é ele quem em desvelo
Tem-te, senão outra força
de que teu corpo é hoje prisão,
foi vento livre, e recorda.

O vento e a alma | Luís Cernuda



Nem treva nem caos. A treva
Requer olhos que vêem, como o som.
E o silêncio requer o ouvido,
O espelho, a forma que o povoa.
Nem o espaço nem o tempo. Nem sequer
Uma divindade que premedita
O silêncio anterior à primeira
Noite do tempo, que será infinita.
O grande rio de Heráclito o Escuro
Seu irrevogável curso não há empreendido,
Que do passado flui para o futuro,
Que do esquecimento flui para o esquecimento.
Algo que já padece. Algo que implora.
Depois a história universal. Agora.

Cosmogonia | Jorge Luís Borges





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posted by saturnine | 21:30 | 0 Comentários


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Gling Gló | Björk

Gling gló, klukkan sló
Máninn ofar skyum hló
Lysti upp gamli gótuslód
Thar gladleg Lína stód

Gling gló, klukkan sló
Máninn ofar skyum hló
Leitar Lási var á leid
Til Lína hanns er beid

Unnendum er máninn kær
Umm thau tófraljóma slær
Lási á bidilsbuxum var
Brátt frá Línu fær hann svar

Gling glo, klukkan slo,
Máninn ofar skyum hló
Lási vard svo hyr á brá
Thvi Lína sagdi "Já"

Gling glo, klukkan slo,
Maninn ofar skyum hlo,
Lysti upp gamli gotuslod,
Thar gladleg Lina stod.

Gling glo, klukkan slo,
Maninn ofar skyum hlo.
Leitar Lasi var a leid,
Til Lina hanns er beid.

Unnendum er maninn kaer,
Umm thau tofraljoma slaer.
Lasi a bidilsbuxum var,
Bratt fra Linu faer hann svar.

Gling glo, klukkan slo,
Maninn ofar skyum hlo.
Lasi vard svo hyr a bra,
Thvi Lina sagdi "Ja".


pois, em islandês. importa não perceber a letra? importa não perceber quando o entendimento da música passa pela orquestra de sons que aprendemos a reconhecer pelo encanto e pela familiaridade? bem, em todo o caso, e porque a letra de facto tem piada, aqui fica um link com as duas versões: original e traduzida.





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posted by saturnine | 13:50 | 0 Comentários


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posted by saturnine | 12:13 | 0 Comentários


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pois hoje foi dia de navegações. como sempre resisti um pouco ao círculo afinal muito promíscuo - não me levem a mal, não é pejorativo, é apenas que toda a gente conhece toda a gente, anda todo o blog citado em todo o blog, é só isso... B) - da blogosfera, poucos eram os pontos de paragem regular. alguns amigos apenas. entretanto, tem-me dado para 'investigar' mais a fundo e hoje há coisas novas nas liações ali ao lado. apetece-me dar destaque ao dicionário do diabo, pronto.





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posted by saturnine | 00:31 | 0 Comentários


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sábado, 12 de julho de 2003




3 quadros de Edvard Munch > parte I [o amor]



The Kiss, 1897





Ashes, 1894




Melancholy, 1891





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posted by saturnine | 19:28 | 0 Comentários


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Segue o teu grande caminho!
As Estrelas que encontrares
São como Tu mesmo -
Pois o que são as Estrelas senão Asteriscos
Para sinalizar uma Vida humana?

Emily Dickinson

«Tirai-me tudo, mas deixai-me o Êxtase.», era o que me dizias?





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posted by saturnine | 18:21 | 0 Comentários


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os dias de agosto | remembering 2001


1. Vambora (ao vivo), Adriana Calcanhotto
2. Spirits in Transit, 4 Hero
3. Ghost in the shell, Aphex Twin
4. Le voyage de Penelope, Air
5. Across the universe, Fiona Apple
6. Space oddity, Natalie Merchant
7. Not an addict, K's choice
8. Living in a lie, Guano Apes
9. Clubbed to death, Rob D
10. Put your lights on, Carlos Santana (feat. Everlast)
11. Eyes without a face, Billy Idol
12. Roxanne (The Police cover), George Michael
13. Candy, Iggy Pop (feat B52's)
14. Goodnight Moon, Shivaree
15. Flying Away, Smoke City
16. Dream on, Depeche Mode

compilation by little black spot

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posted by saturnine | 15:01 | 0 Comentários


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os primeiros blogs que li, ainda em 2001, creio - na altura nem sequer fazia ideia do que seria um blog - estavam alojados no LiveJournal . tudo começou com este aqui, com uma afinidade nascida a propósito de fotografia, Placebo e a urticária dos sentimentos. não sei se o conseguirão visualizar, visto que Mamé o tornou privado desde que a intimidade exposta começou a ser enxovalhada (parece que afinal coisas destas acontecem em todo o lado). bom, mas o que queria dizer é que achava piada aos diários do LiveJournal porque em cada entrada não constava só a data e a hora, mas também 'music' e 'mood'. coisas essenciais para a visualização dos momentos, entenda-se. e a propósito de 'moods' - poderia falar mais uma vez do CD de Lyambiko Out of this Mood, mas acho que já chega B) - algo que encontrei num livejournal algures por aí:




[o que eu precisava]



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posted by saturnine | 13:25 |


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sexta-feira, 11 de julho de 2003






o meu preferido. corta logo à partida com os existencialismos.
© www.garfield.com





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posted by saturnine | 21:05 | 0 Comentários


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alheia a toda a formalidade, próxima apenas da ressonância íntima das palavras


assim se define a minha falta de defesa perante os livros. a forma como não sei efectivamente ser crítica das minhas paixões. procuro apenas a textura familiar daquilo que transporto também, e tudo o que é estrutura, afinal, acaba por escapar-me. tenho pouco respeito pelos livros, deve ser isso. mas gosto tanto.

finalmente cheguei ao ponto de 'descobrir' a razão de ser da 'campânula de vidro'. tal como pensava. é Esther enclausurada numa redomazinha translúcida que a acompanha com a envolvência de um campo magnético. diz a personagem que onde quer que vá estará dentro dessa campânula feita do seu próprio ar, «amargo ar». o livro tornou-se brutal com o avançar dos últimos capítulos. aquilo que começou por ser uma leitura quase desinteressada (por desilusão da expectativa que criara relativamente ao tipo de imagens que encontraria) torna-se agora am algo sombrio e cavernoso, como se subitamente ocorresse uma inesperada transfiguração em que o ponto de quebra não se encontra reconhecível. não sei se Esther vai morrer ou não, mas acabarei o livro esta noite. entretanto, tornou-se um inesperado enriquecido. nas artes plásticas fala-se muito disso, de encontrar no erro um melhor caminho do que no trabalho proposto.



© Mário Bismarck





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posted by saturnine | 18:15 | 0 Comentários


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quinta-feira, 10 de julho de 2003




pouco adianta falar de regressos e (des)encontros, afinal. o que resta, no meio disto tudo, são os livros. faz-se um pouco de tudo. vive-se, experimenta-se, ensaia-se uma existência paralela dentro das folhas de papel. tudo em nome do enriquecimento de algo a que tão pobremente chamamos 'alma', no desconhecimento de uma palavra melhor. de uma ideia melhor, acrescento. apetecia-me citar a Inês Pedrosa no seu Fazes-me Falta:

«Eu só queria ver de que material era feito o teu amor por mim. Precisava de escangalhar o teu coração para o fazer encaixar no meu. E agora tenho que o desencaixar outra vez para sair deste limbo. Mas não sei como. Sem o teu coração não consigo amar - não me abandones outra vez. (...)»

creio que abusamos das palavras - lidas, pensadas, escritas - numa tentativa semelhante, de nos escangalharmos para ver se encaixamos uns nos outros, para perceber de que matéria afinal somos feitos. sendo que de nada serve então falar muito sobre o assunto - que o inexorável silêncio dos dias permanece apesar de tudo assim, inexorável - o que nos resta mesmo são os livros como companhia. aconchegamo-nos neles como na divisão de uma casa familiar há muito perdida e subitamente reencontrada. vivemos uma vida mais íntima e verdadeira dentro deles. mas quanta presunção em ousar um 'vivemos'. seria bem melhor que dissesse 'vivo'. mas não gosto de me imaginar sozinha nesta penumbra que resiste à luz acesa: a noção de um chão apenas tão sólido quanto a densidade dos nossos sonhos.





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posted by saturnine | 23:28 | 0 Comentários


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música para o dia de hoje #1


the three shadows (part II), bauhaus
sycamore trees, twin peaks 'fire walk with me' b.s.o.
red bats with teeth, lost highway b.s.o.
space bugaloo, mike nock (between or beyond the black forest)
it's oh so quiet, lisa ekdahl
outro lugar, salomé de bahía (bossa très jazz | when japan meets europe)
fade into you, mazzy star
all that jazz, chicago b.s.o.
afro blue, lyambiko
i can't stand the rain, cassandra wilson
theme from to kill a dead man, portishead
i'm deranged, david bowie





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posted by saturnine | 19:07 | 0 Comentários


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«Pensei que a letra minúscula no início poderia significar que nada começa verdadeiramente de novo, como o sugere a maiúscula, mas que, pelo contrário, tudo se insere num constante fluir.»

A Campânula de Vidro, Sylvia Plath


nunca tinha pensado nisto. mas incomoda-me seriamente escrever com maiúsculas no início das frases. não sei porquê. aos nomes, aplico-as por respeito. devo concluir que não tenho respeito pelos parágrafos. talvez não. mas também que interessa isso?





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current mood:




Woman once a bird, Joel-Peter Witkin





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posted by saturnine | 14:53 | 0 Comentários


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* só para avisar que uma destas noites perdi todo o código java do blog durante um ataque de histeria do meu PC e como tal tive que fazer tudo de novo. por isso, perdi os comentários que cá estavam antes. se alguém os encontrar por aí, por favor devolva.


* Meester Fly © Björk Community

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posted by saturnine | 14:35 | 0 Comentários


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quarta-feira, 9 de julho de 2003



a thing of beauty


duas coisas por causa da Sandra: a descoberta do haiku e de Maria do Rosário Pedreira. duas coisas para a Sandra, pois então:


«Se hei-de morrer no caminho
que seja
entre os campos de trevo»


Matsuo Bashô, O Gosto Solitário do Orvalho
[Assírio & Alvim, 2003]





«São horas de voltar. Tu já não vens, e a espera
gastou a luz de mais um dia. Agora, quem passar
trará um corpo incerto dentro do nevoeiro,
mas terá outro nome e outro perfume. Eu volto

à casa onde contigo se demorou o verão e arrumo
os livros, escondo as cartas, viro os retratos
para a mesa. Sei que o tempo se magoou de nós,
sei que não voltas, e ouço dizer que as aves
partem sempre assim, subitamente. Outras virão

em março, apago as luzes do quarto, nunca as mesmas.»


Maria do Rosário Pedreira, A Casa e o Cheiro dos Livros
[Gótica, 2002]





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posted by saturnine | 23:01 | 0 Comentários


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current mood:








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posted by saturnine | 22:45 | 0 Comentários


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curiosamente, nenhum navio cruza hoje o horizonte do meu peito. um porto nocturno onde nenhum lamento rompe o vazio. vagueio como se navegasse. dói-me o negro destas águas, mas pressinto a quietude do seu silêncio. das raízes prossigo para a calma, para o olho no centro da tempestade. qualquer coisa. há-de acontecer qualquer coisa. há-de passar este dia de difíceis projecções. quem me manda a mim...?





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posted by saturnine | 21:03 | 0 Comentários


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terça-feira, 8 de julho de 2003




imperdoável. a tudo isto não poderia excluir Erykah Badu.

e vá lá. se já comecei a ouvir Jeff Buckley, hoje se calhar experimento ouvir Nick Drake. como muitas outras coisas, os objectos também nos confortam, por vezes. e este fá-lo não só pelo som mas pelo tacto que lhe ficou impresso, pelas imagens do momento exacto em que tudo seria diferente.

[hoje começo de novo à procura das raízes. digo não à melancolia.]





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posted by saturnine | 21:13 | 0 Comentários


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regresso da cidade azul com a paciência silenciosa dos livros e dos discos. com a sua condescendência de objectos enquanto seres com mérito próprio - sim, porque eu acredito nos livros e na música como seres independentes detentores de uma vida própria, construindo um lugar onde ocorrem as mais diversas osmoses afectivas [esse que é o lugar onde depositamos as nossas coisas e tornamos nossos também as palavras e sons dos outros] - porque me aturam os motivos por que me sirvo deles. uso as palavras e a música para esvaziar o peito desta agudez de espírito que me torna desacertada e dispersa, e não é nem inocente nem honesto como abuso das palavras dos outros como pretexto para excitar ou adormecer o meu peito em chamas.

fim de semana de resgate. Lisboa subitamente clara às 6h da manhã, o fumo anilado dos cigarros sobre os rostos, a precipitação de uma tal madrugada difícil. a claridade que coincide com a saudade brutal dos teus olhos de mar caribenho. descobri (finalmente!) Jacinta e outra coisa maravilhosa de seu nome Lyambiko. isto ao mesmo tempo que descobri Mafia, o jogo perfeito para os espíritos mafiosos dos que não têm remorso de semear o mal no seio do 'politicamente correcto'. B) descobri que afinal vale mesmo a pena comprar os livros de Eugénio de Andrade. que talvez valha a pena o Ruy Belo. esses que procurei sempre por vias travessas porque não me agradam os seus calhamaços de 'poesia toda' - onde é que alguma vez já sei viu caber a poesia toda num livro só? e o que fica para além [dentro] das palavras? seja como for, agradeço-te a ti que sabes quem és a luz destes dias e o resgate.

regresso ao cinzento destes dias nortenhos, e o que tenho é ainda e apenas a paciência condescente dos livros e dos discos que aceitam o acordo de fingir-se meus, para que eu finja ter alguma coisa realmente minha, quanto mais não seja a possibilidade para a poesia, para o 'ritmo' que me une a todas as coisas.


::lista possível de coisas para fazer::


Heaven, Earth and Beyond, Lisa Ekdahl
Belly of the Sun, Cassandra Wilson
Black Stars, Jason Moran
Casa, Morelenbaum/Sakamoto
A Casa e o Cheiro dos Livros, Maria do Rosário Pedreira
Cadernos da Casa Morta, Fiodor Dostoievski
O Encontro Inesperado do Diverso, Maria Gabriela LLansol


a ver vamos.





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posted by saturnine | 21:02 | 0 Comentários


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hoje li «queria ter alguém à minha espera num sítio qualquer» de Anna Gavalda. o título sem dúvida mais sugestivo que o conteúdo. tropeça-se aqui e ali mais ou menos inesperadamente numa ou noutra visão do amor inacabado, mas de resto nada de muito perigoso. poderia ter passado sem este livro, afinal. mas o mesmo não poderia dizer de Jeff Buckley. incontornável e absoluto, doloroso de tão lindo, ainda assim inevitável.

::música para o dia de hoje:: Mojo Pin, Grace.

com isto tenho saudades tuas, tu que não sabes que és tu e de quem tenho eu saudades afinal. há momentos assim, difíceis de tão dispersos.

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[levar isto a sério ou não levar isto a sério. quando no espaço ilimitado da palavra já há demasiados sítios onde se escreve. abandonei - não, suspendi temporariamente - os meus cadernos onde fazia exactamente a mesma coisa que aqui: escrever para que ninguém me ouça. tudo porque isto é mais giro e está muito na moda e hoje em dia não ter blog activo é como não ter telemóvel. a 'blogosfera' proporcionou-me então um lms - long message service - onde me exponho com destino incerto. se digo destino, poderia dizer propósito, é indiferente. e incerto também.
nunca gostei sequer da palavra 'diário'. chamo aos meus cadernos de escrita aquilo que sempre foram: cadernos. levar então isto a sério, ou não. sei lá, logo se verá. entretanto, os pequenos parágrafos continuarão a suceder-se como quem distraidamente repousa na sombra caligráfica dos dias.]





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posted by saturnine | 19:45 | 0 Comentários


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quinta-feira, 3 de julho de 2003




há uns tempos passou uma sexta-feira 13 quase sem dar por isso. nunca me ocupei muito de superstições, se bem que nunca descurei o facto de que «yo no credo en bruxas, mas que las hay, hay»... entretanto desenhei um 13 em forma de coração. sem perceber. e amanhã vou sentar-me num número 11 rumo ao sossego possível.





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posted by saturnine | 21:54 | 0 Comentários


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quarta-feira, 2 de julho de 2003




por algum motivo, quando dói, fazemos das tripas coração.





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posted by saturnine | 23:14 | 0 Comentários


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'o amor é mais gástrico que vascular'. comprova-o esta dilaceração interna das entranhas, esta dor visceral que cola o estômago às costas como se o roesse. não é nada de extraordinário, é só a constatação de que além de sangue, suor e lágrimas também somos ácidos e bílis. digo-o sem deambulações dramáticas. digo-o para o ter dito.





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terça-feira, 1 de julho de 2003




do blog que na realidade fez nascer o meu, a célebre gota de água:

Domingo, Junho 30, 2002

não farei mais nada até as cicatrizes sararem. sorrirei. sei que não vais voltar. ninguém volta. se vieres, virás de novo. e eu amar-te-ei de novo, como pela primeira vez. pura. acordaremos dentro de dias lindos. somos um só corpo. o corpo em luz, debaixo de árvores que entrelaçam os corpos. a minha casa és tu. e é assim que me levarás a casa à rua onde eu estiver - quando vieres ter comigo, quando for ter contigo, quando nos encontrarmos pela primeira vez, numa rua azul-escura de um cinzento azulado nébula. afundo-me no círculo negro dos teus olhos, estaremos sós e com o mundo inteiro.


o problema disto tudo é a atroz coincidência do espaço e do tempo, as mesmas palavras que eu escrevo, no mesmo dia em que me quebram - apenas um ano desfazadas. somos todos iguais. todos procuramos aqui a forma para um grito amarfanhado: lá fora, gritamos todos para dentro. aqui grita-se para uma multidão anónima, em cujo interior se passeiam as mesmas sombras doridas, ávida destas laços precários que se formam na milagrosa arbitrariedade de nos encontrarmos, de sabermos que não estamos sós, mesmo apesar de o vazio ser tão incontornável como inexorável em redor.





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posted by saturnine | 13:47 | 0 Comentários


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Se tanto me dói que as coisas passem
É porque cada instante
em mim foi vivo
Na busca de um bem definitivo
Em que as coisas de Amor se eternizassem


[Sophia de Mello Breyner Andresen]


porque não voltas? o lunário quebrado encontra-se fixo numa lua nova já distante. qualquer coisa dentro do teu olhar luminoso, mas agora longínquo. cortam-me os vidros dessa campânula de palavras estilhaçadas, dentro deste silêncio onde nada acontece. nem sempre a noite é o poço mais fundo, por vezes a maior dificuldade é a de sobreviver a estas longas manhãs, à sua luz demasiada e ao não saber o que fazer a tantas horas cinzentas. dói-me que o tempo passe como se não passasse. dói-me que não estejas no lugar que sempre guardo ao meu lado, desenhando um corpo ausente. dóis-me.





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posted by saturnine | 11:08 | 0 Comentários


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spot player special




"us people are just poems"
[ani difranco]


*

calamity.spot[at]gmail.com



~*. through the looking glass .*~




little black spot | portfolio
Baucis & Philemon | tea for two
os dias do minotauro | against demons
menina tangerina | citrus reticulata deliciosa
the woman who could not live with her faulty heart | work in progress
pale blue dot | sala de exposições
o rosto de deus | fairy tales








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~*. rearview mirror .*~


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~*. spying glass .*~


a balada do café triste . ágrafo . albergue dos danados . almanaque de ironias menores . a natureza do mal . animais domésticos . antologia do esquecimento . arquivo fantasma . a rute é estranha . as aranhas . as formigas . as pequenas estruturas do ócio . atelier de domesticação de demónios . atum bisnaga . auto-retrato . avatares de um desejo . baggio geodésico . bananafish . bibliotecário de Babel . bloodbeats . caixa-de-lata . casa de cacela . chafarica iconoclasta . coisa ruim . com a luz acesa . comboio de fantasmas . complicadíssima teia . corpo em excesso de velocidade . daily make-up . detective cantor . dias com árvores . dias felizes . e deus criou a mulher . e.g., i.e. . ein moment bitte . em busca da límpida medida . em escuta . estado civil . glooka . i kant, kant you? . imitation of life . isto é o que hoje é . last breath . livros são papéis pintados com tinta . loose lips sink ships . manuel falcão malzbender . mastiga e deita fora . meditação na pastelaria . menina limão . moro aqui . mundo imaginado . não tenho vida para isto . no meu vaso . no vazio da onda . o amor é um cão do inferno . o leitor sem qualidades . o assobio das árvores . paperback cell . pátio alfacinha . o polvo . o regabofe . o rosto de deus . o silêncio dos livros . os cavaleiros camponeses no ano mil no lago de paladru . os amigos de alex . Paris vs. New York . passeio alegre . pathos na polis . postcard blues . post secret . provas de contacto . respirar o mesmo ar . senhor palomar . she hangs brightly . some variations . tarte de rabanete . tempo dual . there is only 1 alice . tratado de metatísica . triciclo feliz . uma por rolo . um blog sobre kleist . vazio bonito . viajador


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~*. the bell jar .*~



os lugares comuns: against demons . all work and no play . compêndio de vocações inúteis  .  current mood . filosofia e metafísica quotidiana . fruta esquisita menina aflita . inventário crescente de palavras mais-que-perfeitas . miles to go before I sleep . música no coração  .  música para o dia de hoje . o ponto de vista dos demónios . planos para dominar o mundo . this magic moment  .  you came on like a punch in the heart . you must believe in spring


egosfera: a infância . a minha vida dava um post . afirmações identitárias . a troubled cure for a troubled mind . april was the cruellest month . aquele canto escuro que tudo sabe . as coisas que me passam pela cabeça . fruto saturnino (conhecimento do inferno) . gotham style . mafarricar por aí . Mafia . morto amado nunca mais pára de morrer . o exílio e o reino . os diálogos imaginários . os infernos almofadados . RE: de mail . sina de mulher de bandido . the woman who could not live with her faulty heart . um lugar onde pousar a cabeça   .  correio sentimental


scriptorium: (des)considerações sobre arte . a noite . and death shall have no dominion . angularidades . bicho escala-estantes . do frio . do medo . escrever . exercícios . exercícios de anatomia . exercícios de respiração . exercícios de sobrevivência . Ítaca . lunário . mediterrânica . minimal . parágrafos mínimos . poemas . poemas mínimos . substâncias . teses, tratados e outras elocubrações quase científicas  .  um rumor no arvoredo


grandes amores: a thing of beauty is a joy forever . grandes amores . abraços . Afta . árvores . cat powa . colectânea de explicações avulsas da língua portuguesa  .  declaração de amor a um objecto . declaração de amor a uma cidade . desolação magnífica . divas e heróis . down the rabbit hole . drogas duras . drogas leves . esqueletos no armário . filmes . fotografia . geometrias . heart of darkness . ilustraçãoinício . matéria solar . mitologias . o mar . os livros . pintura . poesia . sol nascente . space is the place . the creatures inside my head . Twin Peaks . us people are just poems . verão  .  you're the night, Lilah


do quotidiano: achados imperdíveis . acidentes quotidianos e outros desastres . blogspotting . carpe diem . celebrações . declarações de emergência . diz que é uma espécie de portfolio . férias  .  greves, renúncias e outras rebeliões . isto anda tudo ligado . livro de reclamações . moleskine de viagem . níveis mínimos de suporte de vida . o existencialismo é um humanismo . só estão bem a fazer pouco


nomes: Aimee Mann . Al Berto . Albert Camus . Ana Teresa Pereira  . Bauhaus . Bismarck . Björk . Bond, James Bond . Camille Claudel . Carlos de Oliveira . Corto Maltese . Edvard Munch . Enki Bilal . Fight Club . Fiona Apple . Garfield . Giacometti . Indiana Jones . Jeff Buckley  .  Kavafis . Klimt . Kurt Halsey . Louise Bourgeois . Malcolm Lowry . Manuel de Freitas . Margaret Atwood . Marguerite Duras . Max Payne . Mia Couto . Monty Python . Nick Drake . Patrick Wolf  .  Sophia de Mello Breyner Andresen . Sylvia Plath . Tarantino . The National . Tim Burton


os outros: a natureza do mal . amigos . dedicatórias . em busca da límpida medida . retalhos e recortes



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...it's full of stars...


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