quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011



...


Dói-me quase tudo. Dói-me principalmente aquilo que não posso nomear. Dói-me quase tudo, e eu agora sou o homem que não dorme e que se vira para o lado esquerdo, mas nem assim vence. Não se consegue esmagar o coração.





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posted by saturnine | 04:02 | 2 Comentários


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segunda-feira, 15 de novembro de 2010



every now and then...


«De vez em quando a insónia vibra com a nitidez dos sinos, dos cristais. E então, das duas uma: partem-se ou não se partem as cordas tensas da sua harpa insuportável.
No segundo caso, o homem que não dorme pensa: "o melhor é voltar-me para o lado esquerdo e assim, deslocando todo o peso do sangue sobre a metade mais gasta do meu corpo, esmagar o coração."»


Carlos Oliveira








© little black spot





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posted by saturnine | 00:31 | 2 Comentários


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sexta-feira, 18 de abril de 2008



on being the woman who could not live with her faulty heart


foi a lebre que me serviu o prato. o mundo passou a fazer subitamente muito mais sentido desde o dia em que Margaret Atwood passou a constar do meu livro de citações internas de emergência. assumi um epíteto.

há uma certa ordem subjacente a todas as coisas, incluindo ao caos de uma vida, tudo espera o momento para se revelar e em cada revelação, ao olho atento, se mostram as intricadas ramificações de ligações que atribuem significância ao universo em redor. há uma luta corpo-a-corpo, de dentro para fora e de fora para dentro, de um corpo consigo próprio. uma sucessão truculenta de mútuos ataques, investidas, atraiçoamentos, reconciliações. em pano de fundo, existe a morte, muda, silenciosa, impenetrável, mediadora: é, pois, uma luta até à morte.

este é o meu objecto de estudo (e a Margaret Atwood enuncia-o). para efeitos de elucubração neste post, nomeio-me primeira cientista das poéticas corporais.

o que eu não sabia, então, é que há poemas que têm duas cabeças* e eu tinha ainda uma para descobrir. finalmente, chegou-me isto pelo correio:




e assim, eu, que não consigo viver com o meu coração defeituoso, constato:



The Woman Makes Peace with Her Faulty Heart

It wasn't your crippled rhythm
I could not forgive, or your dark red
skinless head of a vulture.

but the things you hid:
five words and my lost
gold ring, the fine blue cup
you said was broken
that stack of faces, gray
and folded, you claimed
we'd both forgotten,
the other hearts you ate,
and all that discarded time you hid
from me, saying it never happened.

There was that, and the way
you would not be captured,
sly featherless bird, fat raptor
singing your raucous punctured song
with your talons and your greedy eye
lurking high in the molten sunset
sky behind my left cloth breast
to pounce on strangers.

How many times have I told you:
The civilized world is a zoo,
not a jungle, stay in your cage.
And then the shouts
of blood, the rage as you threw yourself
against my ribs.

As for me, I would have strangled you
gladly with both hands,
squeezed you closed, also
your yelps of joy.

Life goes more smoothly without a heart,
without that shiftless emblem,
that flyblown lion, magpie, cannibal
eagle, scorpion with its metallic tricks
of hate, that vulgar magic,
that organ the size and color
of a scalded rat,
that singed phoenix.

But you've shoved me this far,
old pump, and we're hooked
together like conspirators, which
we are, and just as distrustful.
We know that, barring accidents,
one of us will finally
betray the other; when that happens,
it's me for the urn, you for the jar.
Until then, it's an uneasy truce,
and honor between criminals
.


Margaret Atwood in *Two-Headed Poems






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posted by saturnine | 23:54 | 3 Comentários


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domingo, 30 de setembro de 2007



Bad liver and a broken heart



© lbs 2005




segundo auto-retrato: aos 25 anos descobri o sentido do corpo. que se ama visceralmente, como quem faz das tripas coração. na metáfora do corpo a corpo, o que há de apaixonado na luta e o que há de violento na paixão. cultivei o amor profundo pela epiderme e fiz da escrita um tecido intrincado de ramificações sanguíneas e terminações nervosas. apurei a construção: substitui-se o minotauro pelo prolapso sistólico da válcula mitral. o corpo um gigantesco orgão, de um barro impuro, que falha e dói. perdi, na descoberta do corpo, o sentido da invenção do amor. fiz-me fluída: sangue, suor, lágrimas, secreções, pus. uma intacta ferida. no lugar do peito, uma inscrição invisível, um emblema de Louise Bourgeois: rouge est la couleur du sang. ao fundo, um disco de Einstürzende Neubauten. esgotado o amor, um novo sentido para o corpo: a construção de uma anatomia das palavras. fazer das entranhas um hábito do desenho. aqui estou eu, tão cedo tarde demais, a procurar o sentido de outros corpos, abeirando-me de outros discos. fiz da incerteza uma dedicação profunda às funções corporais. se eu tivesse um tumor, chamava-lhe Marla. mas tenho maus fígados e um coração despedaçado.



Tom Waits | Bad liver and a broken heart

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posted by saturnine | 18:47 | 5 Comentários


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quinta-feira, 20 de setembro de 2007



silence is definitely sexy





Einstürzende Neubauten | In Circles



tudo o que eu teria a dizer sobre as minhas funções corporais
:




beauty remains in the impossibilities of the body.







I wish this would be your colour:


rouge est la couleur du sang * Louise Bourgeois



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posted by saturnine | 12:38 | 8 Comentários


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quinta-feira, 13 de setembro de 2007



The woman who could not live with her faulty heart




ao longo dos anos em que tenho escrito, há meia dúzia de imagens e temas recorrentes:


# a memória fictícia de uma casa branca ao pé do mar (pedra solar)
# o meu demónio de estimação, o minotauro triste
# o canto escuro, que tudo sabe
# a intacta ferida/a ferida aberta
# a desolação magnífica, a vastidão por dentro, o vazio bonito: o deserto.
# os subterrâneos: a noite, o outono, a morte
# o buraco no peito


tenho a cabeça povoada (assombrada?) de personagens, lugares, histórias por escrever. na maioria das vezes, não sei o que lhes fazer. temo um dia a falha da memória. como sempre me angustia o destino incerto das promessas que ficam por cumprir.





The woman who could not live with her faulty heart ---> Margaret Atwood



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adenda: o buraco no peito. Candy, Candy Candy, I can't let you go.





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posted by saturnine | 17:48 | 21 Comentários


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sexta-feira, 1 de dezembro de 2006



Bodily Functions Moleskine



© lbs 2006


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The Woman Who Could Not Live with Her Faulty Heart

I do not mean the symbol
of love, a candy shape
to decorate cakes with,
the heart that is supposed
to belong or break;

I mean this lump of muscle
that contracts like a flayed biceps,
purple-blue, with its skin of suet,
its skin of gristle, this isolate,
this caved hermit, unshelled
turtle, this one lungful of blood,
no happy plateful.


All heart float in their own
deep oceans of no light,
wetblack and glimmering,
their four mouths gulping like fish.
Hearts are said to pound:
this is to be expected, the heart's
regular struggle against being drowned.


But most hearts say, I want, I want,
I want, I want. My heart
is more duplicitous,
though no twin as I once thought.
It says, I want, I don't want, I
want, and then a pause.
It forces me to listen,

and at night it is the infra-red
third eye that remains open
while the other two are sleeping
but refuses to say what it has seen.

It is a constant pestering
in my ears, a caught moth, limping drum,
a child's fist beating
itself against the bedsprings:
I want, I don't want.
How can one live with such a heart?

Long ago I gave up singing
to it, it will never be satisfied or lulled.
One night I will say to it:
Heart, be still,
and it will.


Margaret Atwood




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courtesy of Lebre do Arrozal.

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posted by saturnine | 16:40 | 4 Comentários


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sábado, 20 de novembro de 2004




>>> rouge est la couleur du sang *


(veia, artéria
líquido, fluído
massa, tecido
sangue, ferida
útero, silêncio)


_________________________
vem comigo
até aos últimos lugares do sono

vamos escutar
a noite no arvoredo

_________________________


* Louise Bourgeois





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posted by saturnine | 01:25 | 0 Comentários


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spot player special




"us people are just poems"
[ani difranco]


*

calamity.spot[at]gmail.com



~*. through the looking glass .*~




little black spot | portfolio
Baucis & Philemon | tea for two
os dias do minotauro | against demons
menina tangerina | citrus reticulata deliciosa
the woman who could not live with her faulty heart | work in progress
pale blue dot | sala de exposições
o rosto de deus | fairy tales








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~*. rearview mirror .*~


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~*. spying glass .*~


a balada do café triste . ágrafo . albergue dos danados . almanaque de ironias menores . a natureza do mal . animais domésticos . antologia do esquecimento . arquivo fantasma . a rute é estranha . as aranhas . as formigas . as pequenas estruturas do ócio . atelier de domesticação de demónios . atum bisnaga . auto-retrato . avatares de um desejo . baggio geodésico . bananafish . bibliotecário de Babel . bloodbeats . caixa-de-lata . casa de cacela . chafarica iconoclasta . coisa ruim . com a luz acesa . comboio de fantasmas . complicadíssima teia . corpo em excesso de velocidade . daily make-up . detective cantor . dias com árvores . dias felizes . e deus criou a mulher . e.g., i.e. . ein moment bitte . em busca da límpida medida . em escuta . estado civil . glooka . i kant, kant you? . imitation of life . isto é o que hoje é . last breath . livros são papéis pintados com tinta . loose lips sink ships . manuel falcão malzbender . mastiga e deita fora . meditação na pastelaria . menina limão . moro aqui . mundo imaginado . não tenho vida para isto . no meu vaso . no vazio da onda . o amor é um cão do inferno . o leitor sem qualidades . o assobio das árvores . paperback cell . pátio alfacinha . o polvo . o regabofe . o rosto de deus . o silêncio dos livros . os cavaleiros camponeses no ano mil no lago de paladru . os amigos de alex . Paris vs. New York . passeio alegre . pathos na polis . postcard blues . post secret . provas de contacto . respirar o mesmo ar . senhor palomar . she hangs brightly . some variations . tarte de rabanete . tempo dual . there is only 1 alice . tratado de metatísica . triciclo feliz . uma por rolo . um blog sobre kleist . vazio bonito . viajador


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