against demons é um amuleto. se eu tivesse
etiquetas neste blog, esta seria a número um. um amuleto, uma gárgula, uma coisa inventada, mágica, simbólica, que mantém afastadas as investidas das trevas. aqui,
against demons é a música que preenche os meus dias, a certeza de que o pop/rock é mesmo um dos assuntos mais sérios da vida, e que trazer por dentro uma canção é uma protecção, como quem ostenta um qualquer objecto da sorte contra a matéria má dos dias.
há uma meia dúzia de canções (bem, na verdade bastante mais que meia dúzia) que intercedem por mim quando as sombras se excedem e ameaçam. do que dói, defendo-me cuspindo
versos. neste momento, poderia já arriscar uma enciclopédia dos afectos, primorosamente cartografados em pedaços de músicas. isto tem a sua relevância. de um modo geral, busca-se sempre um sentido. para o mundo, para qualquer coisa.
não aguentamos a desordem estuporada da vida.* precisamos que alguma coisa nos diga qualquer coisa. a
Rita arrisca tão bem uma explicação para o deslumbre do rock: é ter meia dúzia de gajos que conseguem dizer a uma geração de jovens adultos qualquer coisa que lhes diga alguma coisa.
somos todos estranhos e temos as vidas fodidas, mas não estamos sós. dito de outra forma, pela mãos dos Shins, qualquer coisa como
So affections fade away,
And do adults just learn to play
The most ridiculous, repulsive games?
Turn on mepor isso é que há dias a fio só tenho duas coisas no meu leitor:
The National e
The Shins. que por um qualquer efeito mágico, são ambivalentes. droga e antídoto. veneno e bálsamo. aos primeiros, pergunto: espelho meu, espelho meu, que perguntas te faço eu?
we were always weird but I never had to hold you by the edges like I do now
Start a waré o que eles dizem. mas depois sossegam:
turn the light out say goodnight
no thinking for a little while
let's not try to figure out everything at once
Fake Empiree há coragem para deixar que seja noite. (
we're half-awake in a fake empire, frase-refrão mais emblemática do ano passado, bem no encalço da frase-refrão mais brilhante de 2005:
break my arms around the one I love.)
já os segundos, trazem-me um retrato:
The gutter may profess its love,
Then follow it with hesitation,
But there are just so many of
You out there for rent
A stronger girl would shake this off in flight,
And never give it more than a frowning hour,
But you have let your heart decide,
Loss has conquered you,
You've won one too many fights,
Wearing many hats every time,
But you wont win here tonightmas ainda vão a tempo de deixar um pedido, um recado, um desejo:
Oh girl, sail her, don't sink her,
This time
Girl Sailore eu suspendo-me um momento, uma hora, não sei quanto tempo. aguardo que passe. e confesso que menti. há mais coisas que me passam pelo leitor, a desoras. uma canção rara de The Go-Betweens, uma canção menos rara de Van Morrison e uma canção ao vivo de Robyn Hitchcock. canções que foram ofertas, preciosas e inesperadas, pelo que têm o dom de ser amuletos da melhor espécie: contra o medo, nada melhor do que ser levado pela mão.
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* Herberto HelderEtiquetas: against demons, música para o dia de hoje, o ponto de vista dos demónios