sexta-feira, 31 de agosto de 2007



9/7


voltaram a este blog os posts autobiográficos. há alguns anos que não me recordava de somatizar a ansiedade em dores de barriga persistente - coisa mais parva. há determinamos demónios que nos habituamos a tratar por tu. há determinados dias em que seria desejável voltar ao princípio, fazer de novo, ser-se desconhecido. há também alguns anos que não me recordava de semelhante farsa de verão. não é fácil abandonar hábitos de misantropia. fazer como dizia a Glenn Close [Ligações Perigosas], aguentar e sorrir, nem que se esteja a espetar um garfo nas costas da mão por baixo da mesa. acreditar que vai passar. um vago torpor, a dormência na ponta dos dedos, a taquicardia, o tremor - incerteza do chão -, o coração à boca da garganta, como se saltasse. ali em cima, é a minha tensão arterial.



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quinta-feira, 30 de agosto de 2007



"associate" is the word


eu sabia que havia uma associação implícita no espalhar a palavra pelo chão do post anterior. é que aqui a música vive-se como uma rede intricada de afectos e memórias, cheia de ramificações sanguíneas e terminações nervosas. é por isso que coisas à primeira vista sem relação absolutamente nenhuma provocam aqui uma espécie de efeito-borboleta. e é por isso que hoje me bastou ouvir o novo disco do Richard Hawley para perceber: espalhar a palavra pelo chão é coisa do Joseph Athur. que até é um gajo porreiro, e que assombrou os dias deste blog durante muitos meses. agora é só para recordar:



I write one more
Letter I won't send
Except for across the floor



Joseph Arthur | A smile that explodes






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posted by saturnine | 15:00 | 11 Comentários


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terça-feira, 28 de agosto de 2007



Medley silencioso


a aproximação de Setembro arrasta sempre consigo o regresso de um dos lugares familiares: American Music Club. que têm aquela que será provavelmente a música da minha vida, hoje, tal como em muitos outros dias: Johnny Mathis Feet, aos pés de quem Mark Eitzel deitou todas as suas canções. e dentro dessas canções estão alguns dos melhores versos de sempre, os versos da minha vida, todos os dias.






American Music Club | Johnny Mathis' Feet


"Why do you say everything as if you were a thief?
Like what you’ve stolen has no value
Like what you preach is far from belief?"


Johnny Mathis' Feet


* * *


" It's not even closing time
And already stars are falling out of the sky"


Ex-girlfriend


* * *

" You only love one thing
And there's so little of it left
He has taken everything
And there's so little of you left"


The dead part of you




agora, ide, e ouvi as canções de American Music Club. espalhai a palavra (mesmo que seja pelo chão).



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posted by saturnine | 14:35 | 9 Comentários


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segunda-feira, 27 de agosto de 2007



uga shaka uga uga uga shaka





não precisarei certamente repetir que Tarantino é o deus das bandas sonoras (aqui apenas ensombrado pelo David Lynch, assunto que desenvolverei oportunamente), mas parece estou a fazê-lo. Tarantino é o deus das bandas sonoras, e ainda que tenha plena consciência de um certo hype que se vive aqui à custa de Death Proof, a devoção é toda inteiramente merecida. convenhamos que, em boa verdade, Tarantino é o maior. só pode ser o maior alguém que, quando lhe perguntam se não é difícil fazer aqueles diálogos tão característicos, responde que se os actores forem o tipo de actor dele não é nada difícil porque esperaram a vida toda ter diálogos daqueles para dizer. por isso é que o Samuel L. Jackson é o actor-tarantino perfeito. bad motherfucker. parece que nasceu apenas para que lhe saísse pela boca fora o "Ezequiel 25:17":






mas estou a desviar-me do assunto. eu sou uma freak das bandas sonoras. e costumo considerar que não conheço realmente um filme até conhecer bem a sua banda sonora. o que me torna uma incurável aficcionada do Tarantino é esta questão de mergulhar muitas e sucessivas vezes nas ditas cujas, que me faz conviver com os filmes muito de perto, tornando-os familiares, vividos, incorporados. a prova é que eu sei de cor o discurso do Samuel L. Jackson no Pulp Fiction, o discurso da 'noiva' Uma Thurman no Kill Bill, e poderia recitar de cor uma série de falas avulsas dos mesmos e de outros filmes - I don't wanna hear 'peep' comin' outta yo ass!
como diz uma amiga minha, por exemplo, os diálogos das personagens femininas do Deah Proof merecem ser milimetricamente decoradas e recitadas nas mais diversas ocasiões.

eu, que sou a falta-de-disciplina-e-organização-mental-do-Jack* em pessoa, é deste cinema que preciso, e que me faz feliz. o grau de felicidade aumenta, quanto mais a matéria-prima musical seleccionada pelo criador se aproxima do alimento que eu busco. é o caso do trio Pulp Fiction-Kill Bill-Death Proof, inquestionavelmente as minhas preferidas, que se contam inúmeras e repetidas vezes entre as minhas bandas sonoras de viagens de carro - curtas, longas e médias, de dia e de noite, com chuva e com sol. é a dura realidade: eu acho que nasci para ser um filme do Tarantino.
que não me entendam mal: Jackie Brown e Reservoir Dogs têm um lugar igualmente honroso na lista dos meus afectos. simplesmente não agitam tanta maldade cá dentro, é só isso.






* súbita e inesperada referência ao Fight Club.



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posted by saturnine | 14:32 | 4 Comentários


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domingo, 26 de agosto de 2007



Sleep-stalkers








Ég Er Kominn Aftur
Inn I Þig
Það Er Svo Gott Að Vera Hér
En Stoppa Stutt Við
Eg Flýt Um I Neðarsjávar Hýði
A Hóteli Beintengdur Við Rafmagnstöfluna Og Nærist
Tjú Tjú
En Biðin Gerir Mig Leiðan - Brot Hættan Sparka Frá Mér
Og Kall A - Verð Að Fara – Hjálp
Tjú Tjú
Eg Spring Ut Og Friðurinn I Loft Upp
Baðaður Nýju Ljósi
Eg Græt Og Eg Græt – Aftengdur
Onýttur Heili Settur A Brjóst
Og Mataður Af Svefn-G-Englum


Sigur Rós | Svefn-g-englar





maldição.

"Samt Vantar Eitthvað"




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posted by saturnine | 03:22 | 0 Comentários


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quinta-feira, 23 de agosto de 2007



"Girl, you better not make me go over there and put my feet in your ass."




"What the fuck happened to you, man? You used to be beautiful!"



so here's the revenge of the biggest midget in the game. who's the weirdo now, weirdo? I tol'ya YO ass is MINE!

little jackie-brown spot




esta limpeza de ego - cof cof cof - este retorno impunha-se: é que já era penoso o suficiente apresentar-me assim ao mundo em plenos preparos de sandaloca + meia às riscas (quéquefoi?! até parece que nunca foram inesperadamente surpreendidos pelo frio em Paredes de Coura. :|).



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posted by saturnine | 23:40 | 10 Comentários


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Crush with eyeliner*




Dave Dee, Dozy, Beaky, Mick & Tich | Hold Tight


Hold tight, count to three
Gotta stay close by me
And hold tight, sing and shout
Just ride my round-about
And hold tight, shut your eyes,girl
You suit me for size
Forget the other guys
You'll never fall, each time you call
Hold tight, hold tight, hold tight

Hold tight, make me feel
What you say is for real
And hold tight, Carousel
Girl you'll soon ring my bell
And hold tight, we will fly
swinging low, swinging high
We're gonna make the sky
You'll never fall, each time you call
Hold tight, hold tight, hold tight

Hold tight, count to three
Gotta stay close by me
And hold tight, sing and shout
Just ride my round-about
And hold tight, shut your eyes,girl
You suit me for size
Forget the other guys
You'll never fall, each time you call
Hold tight, hold tight, hold tight




uma das maravilhas deste verão é na verdade uma maravilha do verão de 1966, que Tarantino-deus-das-bandas-sonoras recupera. na verdade, muita da glamorosa música dessas felizes décadas que eu conheço devo-o a esse Tarantino-deus-das-bandas-sonoras. não me desagradaria nada essa ideia de existir assim num tempo de glória ao eyeliner, ao baton vermelho, aos homens de chapéu de feltro e às canções du surf pop. ainda que fosse o mesmo tempo dos penteados arranha-céus e dos maillots de gola alta.








* R.E.M.



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posted by saturnine | 23:08 | 4 Comentários


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Yo a mean bad ass mothafucka, don‘t let ‘em tell ya what to do



David Hockney | "Pearlblossom Highway"



o que a presente banda sonora deste blog me provoca é um desejo quase insuportável de largar raízes e partir. viajar. fazer de conta que não tenho idade para ter juízo, que não há trabalho à espera, nem responsabilidades castigadoras sem propósito de eloquência. fazer-me à estrada, partir, demorar muito a voltar. hei-de treinar ao espelho o meu ar de mean bad ass mothafucka e repetir vezes suficientes esta oração: I ain't no chicken shit. há-de haver uma qualquer aventura incrível à minha espera. mundo, mostra-me o caminho.



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posted by saturnine | 02:42 | 4 Comentários


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segunda-feira, 20 de agosto de 2007



phobic meditations


>>
eu nunca poderia ter (durante muito tempo) um template com sidebar ou com caixa central de texto estreita.



>>
tudo o que qualquer ser humano deseja é um reconhecimento de valor. de importância, significado, presença. qualquer coisa.* e tudo o que se precisa é de um breve sinal, como um beacon (bolas, como se traduz beacon?) na noite escura, através do silêncio, só para se saber que ainda há no mundo homens como lugares que nos reconhecem.




>>
os perigos da literalidade começam com a condição contraditória do escritor. quando em falo em ti não tens um nome nem um rosto decalcáveis, mas meras marcas avulsas de vidas passadas. sobrevive-se carregando atrás uma hoste de fantasmas anónimos, profundamente familiares. escreve-se para ordenar memórias, atribuir sentido ao que não o tem. escreve-se como quem inventa, para preencher os pedaços que faltam, espaços em branco como buracos, deixados pelas pessoas que passam. escrevo para ordenar-te, para conceber-te, acima de tudo para adormecer-te, porque o meu peito é já uma casa de espíritos onde morto amado nunca mais pára de morrer [Mia Couto].






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* Qualquer coisa
pergunta-me qualquer coisa
uma tolice
um mistério indecifrável
simplesmente
para que eu saiba
que queres ainda saber
para que mesmo sem te responder
saibas o que te quero dizer

Mia Couto




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posted by saturnine | 04:09 | 5 Comentários


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U can stand under my umbrella - notas sobre Paredes de Coura #3


também aceitaria que um desconhecido bem-parecido munido de um bom guarda-chuva se abeirasse de mim e me dissesse

you can stand under my umbrella ella ella eh eh eh



(para quem não sabe, a Umbrella da Rihanna é o single mais viciante deste verão e ninguém lhe escapa. a prová-lo está o facto de que foi hino dos festivais de verão de norte a sul do país. pelo menos dentro do meu carro.)




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posted by saturnine | 00:07 | 8 Comentários


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domingo, 19 de agosto de 2007



U can stand under my umbrella - notas sobre Paredes de Coura #2


a maior das tristezas não foi a chuva, não foi o frio, não foi o dormir numa tenda húmida, não foi o não poder mergulhar no mar nas horas mortas, não foi o não ter um duche quente para tomar ao fim do dia. a maior das tristezas de Paredes de Coura foi o adormecimento. quando se é abalroado a sul por tanta emoção, resta pouco depois para o que vier a norte. fiquei indiferente a quase tudo, e ao que não ficaria indiferente estive ausente, porque apesar de tudo a chuva e o frio e o dormir numa tenda húmida e o não poder mergulhar no mar nas horas mortas e o não ter um duche quente para tomar ao fim do dia também são uma tristeza quando se traduzem em constipação. fui a Paredes para ver Sonic Youth, vim embora sem ter visto, tendo pelo meio desejado desaparecer (completamente, como o Thom Yorke), tendo desejado que o mundo parasse. o que eu murmurei secretamente todo o tempo, enquanto o meu coração implodia de falta de comoção, era gimme something fast. o que eu desejava era que um desconhecido se virasse para mim e não me oferecesse flores, mas me dissesse sem qualquer sombra de dúvida: hold on, magnolia. também não vi Dinosaur Jr, logo eu que esperava pelo menos ver o rosto do Lou Barlow. o mundo não é lugar para mim à 1h da manhã. pela primeira vez penso que pode ser isto começar a envelhecer.



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posted by saturnine | 23:13 | 1 Comentários


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U can stand under my umbrella - notas sobre Paredes de Coura #1


quando se sente muito ou muito pouco, não há assim tanto que dizer. deixemos então vistas assim as coisas fragmentariamente*, saboreemos os pormenores insignificantes. durante a única tarde de sol de que disfrutei na relva, deitada ao sol qual lagarto em missão urgente de sobrevivência, decorria uma tal coisa de "Jazz na Relva". e apesar de em redor haver mais interessados em fumar a relva do que propriamente disfrutar da música, há muito sossego em reunir no mesmo sítio sol, natureza e Chet Baker. e assim, em jeito de dedicatória, a música que não ouvi (sempre that old feeling when my heart stood still):








If I expected love when first we kissed
Blame it on my youth
If only just for you I did exist
Blame it on my youth

I believed in everything
Like a child at three
You meant more than everything
All the world to me

If you were on my mind all night and day
Blame it on my youth
If I forgot to eat and sleep and pray
Blame it on my youth

If I cried a little bit
When first I learned the truth
Don't blame it on my heart
Blame it on my-y youth

If you were on my mind all night and day-ay
Blame it on my youth
If I forgot to eat and sleep and pray
Blame it on my youth

If I cried a little bit
When first I learned the truth
Don't blame it on my heart
Blame it on my youth







* António Maria Lisboa



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posted by saturnine | 18:20 | 0 Comentários


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sábado, 18 de agosto de 2007



The Black Spot Grindhouse Mood






Tarantino é o deus das bandas sonoras e o deus da exploração do universo feminino. e ainda que só isto bastasse para fazer de Death Proof um grande filme, ainda temos a homenagem a Robert Frost, o regresso da Pussy Wagon, uma fabulosa perseguição automóvel de chicks versus dicks, os excessos sanguinários BD-like já característicos, e um sentido de humor do camandro. por essas coisas todas, por uma lap dance ao som de Down to Mexico, pelo cabelo da Jungle Julia, pela Zoë "the coolest mothafucka" Bell agarrada ao capot de um carro, este fim de semana o little black spot deixa os templates maricas por algo com mais nervo. citando a minha sócia, RUN FOR COVER, MOTHERFUCKER!




The Coasters | Down to Mexico































ou por exemplo:



People, I've been misled
and I've been afraid
I've been hit in the head
and left for dead
I've abused
and I've been accused
been refused a piece of bread

But I ain't never
in my life before
seen so many love affairs
go wrong as I do today

I want you to STOP
and find out what's wrong
get it right
or just leave love alone

Because the love you save today
maybe will-l-l-l be your own

I've been pushed around
I've been lost and found
I've been given til sundown
to get out of town
I've been taken outside
and I've been brutalized
and I've had to always be the one to smile and apologize

But I ain't never
in my life before
seen so many love affairs
go wrong as I do today

I want you to STOP
and find out what's wrong
get it right
or just leave love alone

Because the love you save today
maybe will-l-l-l be your own




Joe Tex | The love you save today (might be your own)




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posted by saturnine | 13:56 | 9 Comentários


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sexta-feira, 17 de agosto de 2007



I'm among the missing sons and daughters of the Soho riots


escreve-se durante anos porque há coisas cá dentro que são como bolas coaguladas de matéria nociva que precisam ser extraídas - haverá mesmo então uma pedra da loucura, imaterial, que a Idade Média pressentiu. o seu único erro foi o da fé na literalidade - acreditaram honestamente que as escavações no cérebro nos livrariam do mal. mas à laia de quem sabe que as fugas são sempre circulares - como fugir de dentro? -, agora também se sabe que a pedra da loucura é um mal tão crónico como a proliferação de cogumelos em terreno fértil após chuvada intensa: convém que estejamos prontos para o compromisso de múltiplas extracções sucessivas. na verdade, posso explicar melhor:




Sentei à minha mesa
os meus demónios interiores

falei-lhes com franqueza
dos meus piores temores

tratei-os com carinho
pus jarra de flores
abri o melhor vinho
trouxe amêndoas e licores

chamei-os pelo nome
quebrei a etiqueta
matei-lhes a sede e a fome
dei-lhes cabo da dieta

conheci bem cada um
pus de lado toda a farsa
abri a minha alma
como se fosse um comparsa

E no fim, já bem bebidos
demos abraços fraternos
saíram de mansinho
aos primeiros alvores
de copos bem erguidos
brindámos aos infernos
fizeram-se ao caminho
sem mágoas nem rancores

Adeus, foi um prazer!
disseram a cantar
mantém a mesa posta
porque havemos de voltar


Carlos Tê | Jorge Palma





mas dizia eu, escrever anos a fio porque as palavras unificam e os sentimentos atrasam *, partilhar uma intimidade cúmplice com estranhos e desconhecidos reconhecidos em nome da comoção, e perceber que havia uma só pessoa - umazinha - que gostaríamos que talvez, por um breve momento, se comovesse. mas não. eu poderia ser uma canção de The National. mas sou apenas translúcida. se ao menos eu pudesse honestamente desejar que me partissem os dois braços à volta daquele que amo. mas não. sou só (mais) uma entre filhos e filhas destroçados em terra de ninguém.




* Antonin Artaud



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posted by saturnine | 11:50 | 0 Comentários


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sábado, 11 de agosto de 2007



recado




© http://postsecret.blogspot.com/





ouve-me
que o dia te seja limpo e
a cada esquina de luz possas recolher
alimento suficiente para a tua morte


Al Berto




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posted by saturnine | 22:00 | 5 Comentários


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sexta-feira, 10 de agosto de 2007



I will not go gently into the night


um dia eu escrevi um dia este blog há-de chamar-se a intacta ferida. ao fim de tanto tempo, começamos a repetir-nos, como velhos cansados, afogados em memórias intricadas, desordenadas. primeiro porque sou uma pessoa de velhos hábitos, segundo porque facilmente me esqueço, quem me lê sabe que me repito. nutro uma simpatia especial pelo Frodo Baggins, que diz que tem uma ferida que nunca há-de sarar, e pela poesia do António Ramos Rosa, é por isso. mas nem todos os dias são dias de manter intactas, abertas, as feridas, e eu não sou animal de morrer de descontentamento. sou animal que esperneia - Rage, rage against the dying of the light.* - e que acredita na sobrevivência mais do que na fome. se calhar, esgotaram-se - quem dera! - os dias de olhar para dentro. há-de haver outros ofícios para atravessar um verão mentiroso, basta de construir templos à matéria dorida.


* Dylan Thomas




Patrick Wolf | Accident & Emergency


Emergency!

So come on
Give me the worst and then again
I'm feeling braver than I've ever been
From the skull down to the feet
all of the blood and sweat and meat
and for

Accident Emergency
Terrorist
Catastrophy
Dump this agony and misery
give me
Accident and Emergency

So what happnes when you lose everythin'
You just carry on and with a grin,
Sing!
For all that lovelife has to bring,
And just get yourself back into the ring,
Knock us out,
For

Accident and Emergency,
Terrorists,
Catastrophy,
From this agony and misery,
Hold on for
Accident and Emergency

'Coz if you never lose,
How you gonna know when you've won
And if it's never dark,
How you gonna know the sun,
When it shines,
Got to let it shine,

Accident and Emegency
Accident and Emegency
Accident and Emegency
Accident and Emegency
Accident and Emegency

Bring it out,
The best in me.




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posted by saturnine | 17:57 | 2 Comentários


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quinta-feira, 9 de agosto de 2007




I'm under no illusion
As to what I meant to you
But you made an impression
Sometimes I still feel the bruise



os perigos da literalidade perseguem sempre o amor profundo às palavras. toda eu me substituo por palavras, à falta de matéria melhor que me construa. a nudez da existência é um susto, um punho cerrado ameaçador. um dia descobre-se que as palavras não chegam, que não se pode viver exclusivamente através delas a vida que inventam. mas enquanto não chega esse dia, sobrevive-se escrevendo, obcecando. isto é como dizer que é muito mais o que digo do que o que efectivamente sou. intimido porque falo demais. mas é pouco o que transporto. desmultiplico-me, ínfima, insuficiente, inexacta. como uma casa cheia de espelhos. morto amado nunca mais pára de morrer*



* Mia Couto



* * *



«Se for consultar o psicanalista, confio em Deus que ele permita que se sente também ao nosso lado um dermatologista, pois sinto que tenho cicatrizes nas mãos por tocar em certas pessoas. Uma vez, no parque, quando Franny ainda andava no carrinho, pus-lhe a mão debaixo da cabeça e deixei-lha lá ficar muito tempo. Outra vez, na Rua Setenta e Dois, fiz a mesma coisa, no Lowe, com o Zooey, durante a passagem de um filme sonoro. Ele devia ter cinco ou seis anos e metera-se debaixo da cadeira para não ver uma cena que muito o afligia. Pus-lhe a mão em cima da cabeça. Certas cabeças, certas cores, certos contactos com a pele humana deixam-me cicatrizes para sempre. Outras coisas também. Charlotte, uma vez. Fugiu-me do estúdio e eu agarrei-lhe no vestido para a deter, para a conservar perto de mim. Era um vestido de algodão amarelo, de que eu gostava por ser demasiado comprido para ela. Ainda conservo uma marca amarelo-limão na palma da minha mão direita.»

J.D Salinger | Carpinteiros, Levantem alto o Pau de Fileira





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posted by saturnine | 23:20 | 7 Comentários


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About Today


não é inocente o facto de o título do post de hoje, primeiro de vários dias de ausência, ser o nome de uma muito específica canção de The National, assunto que desenvolverei entretanto.

é que sobre o dia de hoje, eu tenho a registar isto, um feliz e muito esperado encontro de citrinos. e porque eu fui ao Sudoeste ver The National e ela não, e porque eu sei que esta é uma das músicas da vida dela, e porque foi primeiro nela em que pensei quando a ouvi e só uma fracção de segundos depois naquele que me falta, dedico esta fotografia à Menina Limão:









Today you were far away
and I didn't ask you why
What could I say
I was far away
You just walked away
and I just watched you
What could I say


How close am I to losing you

Tonight you just close your eyes
and I just watch you
slip away

How close am I to losing you

Hey, are you awake
Yeah I'm right here
Well can I ask you about today

How close am I to losing you
How close am I to losing





a revelação que eu tenho a fazer é que a "About Today" também é uma das canções da minha vida. e é comovente que nesse mesmo dia, nesse mesmo momento em que inesperadamente a ouvi, quando já não acreditava que fosse possível, quando o meu coração deu um pulo para o limiar da boca e os meus músculos petrificaram, fosse a pergunta que eu secretamente repetia, ao mesmo tempo que a afogava em silêncios sucessivos. um concerto de The National, aquele concerto de The National, foi quase emoção demasiada para tão pouca pessoa que eu sou. só suspeito que não morri porque suspeito que respiro ainda, uma respiração díficil. acresce dizer que o Matt Berninger é um homem com quem não me atrevi nem atrevo a falar. é um homem que se observa de longe ou perto, mas cujo sossego não se perturba. é um homem que se observa enquanto parte, pensando secretamente you just walked away/ and I just watched you/ what could I say. deveria ter - mas não tenho - pudor de dizer que esta canção me traz em lágrimas há três dias. um mesmo dia sobre o qual se formulam perguntas secretas afogadas em silêncios sucessivos, que se repete e perpetua. porque tu existes algures e eu não sei onde e não te posso observar de longe ou perto porque para onde tu foste é longe demais e não me sobra sequer uma música inteira para te perguntar secretamente, só what could I say, what could I say. mas hey, saber que existes algures é ordem suficiente para o mundo e eu não me queixo. sirvo-me de manobras de diversão como esta:


This is just to say hello
And to let you know
I think of you from time to time
I know I never really knew you
But somehow I miss you
Wish that you'd stayed in my life

Making contact gets harder
As the silence grows longer
And isn't it only me
Who'd like us to see eachother
How I would hate to be a bother
The way we left it was you'd ring

I'm under no illusion
As to what I meant to you
But you made an impression
Sometimes I still feel the bruise

Now and then I'll stumble on
What I've misplaced but never lost
An ache I first felt long ago
Though you've appeared and disappeared
Throughout these past few years
I'd be surprised if you now showed

Making contact gets harder
As the silence grows longer
And why would you think of me
When you were not the one in love
When you were not the dreamer
When you were just the dream

I'm under no illusion
As to what I meant to you
But you made an impression
Sometimes I still feel the bruise


The Mountain Goats | Sometimes I still feel the bruise [original de Trembling Blue Stars]





como é mais que óbvio, sou uma lírica. invento muita vida nas palavras. ainda que a comoção seja real. foi verdade que o meu coração parou:










































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posted by saturnine | 00:56 | 11 Comentários


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Da magnífica solidão na Casa do Limoeiro


o Francisco Bairrão tem tradição de me salvar quando Agosto aperta, com dilúvios inesperados ou infernos almofadados.* e porque é importante que estas coisas se digam - porque nem tudo deve perder-se afogado em silêncios sucessivos -, afirmo que hoje me salvou outra vez. um regresso é como um bálsamo, um sossego, uma familiaridade reconquistada, porque se acredita que afinal há uma ordem capaz de resistir a toda a desordem do mundo e dos afectos, e que a química é coisa cósmica, universal, não de amantes, mas de pessoas. para não esquecer:


Somewhere along this street, unknown to me,
behind a maze of apple trees and stars,
he rises in the small hours, finds a book
and settles at a window or a deskto see the morning in, alone for once,
unnamed, unburdened, happy in himself.

I don't know who he is; I've never met him
walking to the fish-house, or the bank,
and yet I think of him, on nights like these,
waking alone in my own house, my other neighbours
quiet in their beds, like drowsing flies.

He watches what I watch, tastes what I taste:
on winter nights, the snow; in summer, sky.
He listens for the bird lines in the clouds
and, like that ghost companion in the old
explorers' tales, that phantom in the sleet,
fifth in a party of four, he's not quite there,
but not quite inexistent, nonetheless;

and when he lays his book down, checks the hour
and fills a kettle, something hooded stops,
as cell by cell, a heartbeat at a time,
my one good neighbour sets himself aside,
and alters into someone I have known:
a passing stranger on the road to grief,
husband and father; rich man; poor man; thief.


John Burnside | The good neighbour




* coisa perdida por aí. o Bruno haveria de saber do que falo.






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posted by saturnine | 00:51 | 2 Comentários


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spot player special




"us people are just poems"
[ani difranco]


*

calamity.spot[at]gmail.com



~*. through the looking glass .*~




little black spot | portfolio
Baucis & Philemon | tea for two
os dias do minotauro | against demons
menina tangerina | citrus reticulata deliciosa
the woman who could not live with her faulty heart | work in progress
pale blue dot | sala de exposições
o rosto de deus | fairy tales








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~*. rearview mirror .*~


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~*. spying glass .*~


a balada do café triste . ágrafo . albergue dos danados . almanaque de ironias menores . a natureza do mal . animais domésticos . antologia do esquecimento . arquivo fantasma . a rute é estranha . as aranhas . as formigas . as pequenas estruturas do ócio . atelier de domesticação de demónios . atum bisnaga . auto-retrato . avatares de um desejo . baggio geodésico . bananafish . bibliotecário de Babel . bloodbeats . caixa-de-lata . casa de cacela . chafarica iconoclasta . coisa ruim . com a luz acesa . comboio de fantasmas . complicadíssima teia . corpo em excesso de velocidade . daily make-up . detective cantor . dias com árvores . dias felizes . e deus criou a mulher . e.g., i.e. . ein moment bitte . em busca da límpida medida . em escuta . estado civil . glooka . i kant, kant you? . imitation of life . isto é o que hoje é . last breath . livros são papéis pintados com tinta . loose lips sink ships . manuel falcão malzbender . mastiga e deita fora . meditação na pastelaria . menina limão . moro aqui . mundo imaginado . não tenho vida para isto . no meu vaso . no vazio da onda . o amor é um cão do inferno . o leitor sem qualidades . o assobio das árvores . paperback cell . pátio alfacinha . o polvo . o regabofe . o rosto de deus . o silêncio dos livros . os cavaleiros camponeses no ano mil no lago de paladru . os amigos de alex . Paris vs. New York . passeio alegre . pathos na polis . postcard blues . post secret . provas de contacto . respirar o mesmo ar . senhor palomar . she hangs brightly . some variations . tarte de rabanete . tempo dual . there is only 1 alice . tratado de metatísica . triciclo feliz . uma por rolo . um blog sobre kleist . vazio bonito . viajador


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~*. the bell jar .*~



os lugares comuns: against demons . all work and no play . compêndio de vocações inúteis  .  current mood . filosofia e metafísica quotidiana . fruta esquisita menina aflita . inventário crescente de palavras mais-que-perfeitas . miles to go before I sleep . música no coração  .  música para o dia de hoje . o ponto de vista dos demónios . planos para dominar o mundo . this magic moment  .  you came on like a punch in the heart . you must believe in spring


egosfera: a infância . a minha vida dava um post . afirmações identitárias . a troubled cure for a troubled mind . april was the cruellest month . aquele canto escuro que tudo sabe . as coisas que me passam pela cabeça . fruto saturnino (conhecimento do inferno) . gotham style . mafarricar por aí . Mafia . morto amado nunca mais pára de morrer . o exílio e o reino . os diálogos imaginários . os infernos almofadados . RE: de mail . sina de mulher de bandido . the woman who could not live with her faulty heart . um lugar onde pousar a cabeça   .  correio sentimental


scriptorium: (des)considerações sobre arte . a noite . and death shall have no dominion . angularidades . bicho escala-estantes . do frio . do medo . escrever . exercícios . exercícios de anatomia . exercícios de respiração . exercícios de sobrevivência . Ítaca . lunário . mediterrânica . minimal . parágrafos mínimos . poemas . poemas mínimos . substâncias . teses, tratados e outras elocubrações quase científicas  .  um rumor no arvoredo


grandes amores: a thing of beauty is a joy forever . grandes amores . abraços . Afta . árvores . cat powa . colectânea de explicações avulsas da língua portuguesa  .  declaração de amor a um objecto . declaração de amor a uma cidade . desolação magnífica . divas e heróis . down the rabbit hole . drogas duras . drogas leves . esqueletos no armário . filmes . fotografia . geometrias . heart of darkness . ilustraçãoinício . matéria solar . mitologias . o mar . os livros . pintura . poesia . sol nascente . space is the place . the creatures inside my head . Twin Peaks . us people are just poems . verão  .  you're the night, Lilah


do quotidiano: achados imperdíveis . acidentes quotidianos e outros desastres . blogspotting . carpe diem . celebrações . declarações de emergência . diz que é uma espécie de portfolio . férias  .  greves, renúncias e outras rebeliões . isto anda tudo ligado . livro de reclamações . moleskine de viagem . níveis mínimos de suporte de vida . o existencialismo é um humanismo . só estão bem a fazer pouco


nomes: Aimee Mann . Al Berto . Albert Camus . Ana Teresa Pereira  . Bauhaus . Bismarck . Björk . Bond, James Bond . Camille Claudel . Carlos de Oliveira . Corto Maltese . Edvard Munch . Enki Bilal . Fight Club . Fiona Apple . Garfield . Giacometti . Indiana Jones . Jeff Buckley  .  Kavafis . Klimt . Kurt Halsey . Louise Bourgeois . Malcolm Lowry . Manuel de Freitas . Margaret Atwood . Marguerite Duras . Max Payne . Mia Couto . Monty Python . Nick Drake . Patrick Wolf  .  Sophia de Mello Breyner Andresen . Sylvia Plath . Tarantino . The National . Tim Burton


os outros: a natureza do mal . amigos . dedicatórias . em busca da límpida medida . retalhos e recortes



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...it's full of stars...


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