Ultimamente, deu-me para uma certa nostalgia. Lembro-me dos primeiros tempos da blogosfera portuguesa e sinto uma pontinha de comoção orgulhosa por ter feito parte daquele núcleo que viu a coisa crescer e tomar proporções desmesuradas. Está tudo muito diferente. Antes, eu podia ir a uma festa e apresentar-me como
little black spot e toda a gente sabia quem eu era. Ok, nem toda a gente. Uma vez estive numa festa em que também estava o
Pedro Mexia e ele não me conhecia. Mas uma amiga que ia comigo conhecia-o a ele e disse-lhe "esta é a
little black spot". Portanto, ia dar tudo ao mesmo, o mundo era razoavelmente pequeno. Ter um blog era como
ter um nome visível. Hoje, tem-se um blog e um twitter e um facebook e um myspace e um flickr e um tumblr e um last.fm e um raio que nos parta... E nada chega, tentamos desesperadamente tornar-nos visíveis e somos largamente atropelados pela multidão. Tentamos, como quem diz... Eu não tento grande coisa, sou apenas um ponto anónimo, com alguns seguidores fiéis, que não se destaca da multidão.
Quando eu digo que
isto anda tudo ligado, é porque
anda mesmo tudo ligado. Estava eu nestas deambulações nostálgicas, quando reparo
neste post do
Alexandre Andrade:
«Lembram-se dos primeiros tempos da blogosfera portuguesa? Ah, as saudades! Os bloggers activos eram tão poucos que se conheciam quase todos pelo nome e apelido (ou por um "nick" bem esgalhado), os insultos choviam (desse ponto de vista, pouco mudou), trocavam-se parabéns nos aniversários, não havia "tag clouds" nem aquelas irritantes e inúteis sugestões no fim dos posts ("Poderá também gostar de..."). (...)»Eu lembro-me desses tempos. De conhecer as pessoas, de saber coisas sobre elas, de nos tratarmos todos pelo nome e de serem especiais todos os acasos que nos reuniam num mesmo lugar. Tenho saudades de muitas coisas. Dos círculos de blogs amigos e de todas as implicações líricas que daí advinham. Tenho saudades da
Janela Indiscreta. Tenho saudades de uma tarde no Porto, em que conheci a
Alexandra, que nunca tornei a ver, mas que é provavelmente, de um modo abstracto e impossível de explicar, a pessoa que mais gosto de ler, com um tipo de gostar que se mistura com o gostar da pessoa em si. Tenho saudades da lentidão. A vida acontecia-me mais lentamente, e a escrita também. Agora parece que
saborear é um verbo fora de moda. Ou talvez seja só cansaço. Vou ali repousar os meus verbos e já volto.
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