domingo, 23 de setembro de 2012



Celebrações ocasionais




© Lorenzo Durán



Outono

Uma vez um homem encontrou duas folhas e entrou em casa segurando-as com os braços esticados dizendo aos pais que era uma árvore. Ao que eles disseram então vai para o pátio e não cresças na sala pois as tuas raízes podem estragar a carpete. Ele disse eu estava a brincar não sou uma árvore e deixou cair as folhas. Mas os pais disseram olha é Outono.


Russell Edson, O Túnel
Assírio & Alvim, 2002


[via Bruaá]



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quinta-feira, 10 de maio de 2012



April was the cruellest month #5







Não gosto de misticismos. Ironicamente, o meu imaginário é povoado por redes complexas de associações líricas e mitológicas. Acredito em divindades improváveis, como os livros, as pedras, ou os girassóis. Gosto de pequenos rituais, em altares simulados, que espalho pela casa. Um frasco de vidro translúcido com flores, três pedras lisas no canto de um móvel, quatro conchas dispostas em arco, em redor de um objecto mundano. São os meus amuletos, os meus totens, a minha garantia de que é possível atravessar os dias em segurança, à margem do apelo dos velhos demónios. Porque gosto do sol, do mar, dos passeios nos lugares desabitados, do recolhimento dentro das histórias, cada um destes objectos me recorda de que o mundo não está em ruínas; que existe ainda o sol, o mar, os lugares pouco habitados e o conforto das histórias. Por causa de cada um destes objectos - o percurso matinal, desde o quarto à outra ponta da casa, "bom dia, concha", "bom dia, pedra", "bom dia, flor" - é possível respirar claramente, acreditar que em breve será possível correr para o exterior e sacudir o mofo do inverno agarrado aos ossos. A minha única religião é a do girassol e, por isso mesmo, não medito dentro de casa.


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quarta-feira, 8 de junho de 2011





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segunda-feira, 10 de janeiro de 2011



O meu quarto não tem vista para um parque (mas devia)



© little black spot 2010





Gosto de alguns enganos. A verdade, de qualquer modo, é uma quimera, um monstro com mil cabeças, é impossível ocuparmo-nos de todas ao mesmo tempo. Gosto de como as verdades dependem sempre de uma questão de perspectiva. Gosto de alguns equívocos, como este, que mente sobre o lugar onde vivo - mas que ainda assim o afirmam na sua plena genuinidade.





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terça-feira, 23 de março de 2010



being idle #2


Há na Língua Portuguesa uma falha que é urgente resolver: a falta, no nosso dicionário, do verbo esplanar. Esplanar seria o verbo que viria oficializar o acto de ficar numa esplanada durante tempo indefinido, a saborear o tempo ocioso, o não fazer nada, o não ter nada para fazer senão estar ali, a saborear o estar ali. Seria um equivalente da já reconhecida flâneurie (para quem gosta de passear e deambular pelas ruas da cidade), mas em versão imóvel, para melhor enfantizar o seu carácter ocioso.

É uma das coisas que mais gosto de fazer, desde que entrei no mundo horroroso da gente crescida, subjugada ao trabalho. Ficar sentada numa esplanada a manhã inteira nos primeiros diras de primavera com sol. A ler ou a saborear um pequeno-almoço substancial, onde a presença de um croissant não pode faltar. A boa companhia, não sendo absolutamente imprescindível, é contudo factor condicionante do grau de satisfação proprocionado pela fruição do momento. Há quem diga que a leitura é um acto solitário, há quem diga que os silêncios são incómodos. Pois eu acho que há poucas coisas tão sedutoramente cúmplices como ler em conjunto com alguém de quem se gosta, sabendo que ainda que cada um vagueie imerso nos seus próprios pensamentos, uma mesma corrente de afecto os une, sem os perturbar.

Automaticamente, o corpo reage e a memória afectiva entra em acção: o cérebro faz-nos avançar no tempo, remete-nos de imediato para o verão, com o sol escaldante, em que estaremos numa outra esplanada a ler ou a saborear uma bebida fresca, desta vez com a praia ao fundo. Os cheiros da cidade cinzenta subitamente assemelham-se ao cheiro do mar e do peixe grelhado que se prepara à hora do almoço, o ruído dos carros converte-se no barulho das ondas. Imediatamente, aos primeiros dias de sol, só porque nos sentamos numa esplanada a saborear o dolce fare niente, imaginamo-nos a mergulhar na água salgada e a nadar descontraídamente, saboreando um dos prazeres mias naturais e antigos. Eu tenho uma velha teoria de que é ao primeiro banho de mar do ano que lavamos a alma de todas as impurezas depressivas acumuladas ao longo do inverno, e é nesse mergulho demorado que restabelecemos a nossa ligação à terra, às nossas origens, num acto com o seu quê de místico, é certo, mas no qual o que é verdadeiramente importante é o bem-estar final, no regresso a casa. Não há nada melhor do que a antecipação do verão, quando temos a certeza de que ele há-de chegar.





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quinta-feira, 2 de março de 2006




life suppport exercises #2





just believe. another day. just breathe.





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terça-feira, 21 de fevereiro de 2006




life support exercises





breathe in. breathe out.





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domingo, 4 de setembro de 2005




it's alright, ma (i'm only bleeding) *





*~~~.~~.'~~~...~*~~~~.~¨~~~~º



pequenos exercícios respiratórios.



*~.'~.~*.~¨~~º







Darkness at the break of noon
Shadows even the silver spoon
The handmade blade, the child's balloon
Eclipses both the sun and moon
To understand you know too soon
There is no sense in trying


Pointed threats, they bluff with scorn
Suicide remarks are torn
From the fool's gold mouthpiece
The hollow horn plays wasted words
Proves to warn
That he not busy being born
Is busy dying


Temptation's page flies out the door
You follow, find yourself at war
Watch waterfalls of pity roar
You feel to moan but unlike before
You discover
That you'd just be
One more person crying


So don't fear if you hear
A foreign sound to your ear
It's alright, Ma, I'm only sighing
(...)


* Bob Dylan





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quinta-feira, 24 de junho de 2004




:: exercício #11 ::

respirar.








(inspira. expira.)

(...)




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quinta-feira, 20 de maio de 2004



:: exercícios diurnos ::
rituais para o sol


#1 abrir as janelas de par em par
#2 fotografar os recantos dos muros cobertos de heras
#3 descalçar os pés e sentir o calor do chão
#4 duche pela manhã com a música a tocar vinda do quarto
#5 máscara purificante com extractos naturais de pepino
#6 passeio em torno dos livros
#7 sair de casa sempre a tempo



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quarta-feira, 10 de setembro de 2003




[não é ainda um regresso. estou só à porta a chutar os móveis. aconteceu-me exactamente uma coisa assim. insuflei. entre o aperto e a quebra, ainda assim alguma em mim se reafirmou. talvez consiga. os passos que ainda são muitos para os meus pés. alcancei a superfície e respirei de uma golfada. por um momento, voltei a pertencer-me e decidi o rumo dos meus soluços. tenho o rosto endurecido e a alma estilhaçada. mas encontro-me e reconheço-me em cada um dos fragmentos destroçados. não preciso de ti afinal. e consigo passar-te por cima como o bulldozer monolítico que sempre fui. o amor e o cansaço não se implicam. a diferença do dia de hoje é que, no lugar do 'foda-se' o meu grito é 'vai-te foder'.]








against demons


flower dream

all images © radiohead






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sexta-feira, 5 de setembro de 2003




«Há uma certa ironia quando se usa a expressão "Não Fode Nem Sai De Cima" para falar de alguém que nos rouba o coração mas não nos ama.» | avatares de um desejo

era mais que óbvio que não haveria muito mais a dizer depois do último post. não era de modo algum o fim do little black spot, mas era, e é, o fim de muita coisa importante. isto fez-me escrever de novo. tinha que ser. pouco me importa o que quer que seja que faço de mim aqui dentro, ou o que fazem vocês de mim aí fora. vou dizer um palavrão: foda-se. já disse. não melhorou. anos neste não fode nem sai de cima.





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segunda-feira, 1 de setembro de 2003




repugna-me a indiferença da tua mentira, terna como se fingisses um gostar que me insulta.





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quinta-feira, 24 de julho de 2003




[odeio-te. odeio-te pelo dia de hoje. revoltas-me e repugnas-me. odeio-te pela mentira que se procura fazer anestesia. odeio-te pelo amor ao desapego. odeio-te ainda. revoltas-me e repugnas-me. mais um minuto e isto passa.]

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spot player special




"us people are just poems"
[ani difranco]


*

calamity.spot[at]gmail.com



~*. through the looking glass .*~




little black spot | portfolio
Baucis & Philemon | tea for two
os dias do minotauro | against demons
menina tangerina | citrus reticulata deliciosa
the woman who could not live with her faulty heart | work in progress
pale blue dot | sala de exposições
o rosto de deus | fairy tales








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~*. rearview mirror .*~


maio 2003 . junho 2003 . julho 2003 . agosto 2003 . setembro 2003 . outubro 2003 . novembro 2003 . dezembro 2003 . janeiro 2004 . fevereiro 2004 . março 2004 . abril 2004 . maio 2004 . junho 2004 . julho 2004 . agosto 2004 . setembro 2004 . outubro 2004 . novembro 2004 . dezembro 2004 . janeiro 2005 . fevereiro 2005 . março 2005 . abril 2005 . maio 2005 . junho 2005 . julho 2005 . agosto 2005 . setembro 2005 . outubro 2005 . novembro 2005 . dezembro 2005 . janeiro 2006 . fevereiro 2006 . março 2006 . abril 2006 . maio 2006 . junho 2006 . julho 2006 . agosto 2006 . setembro 2006 . outubro 2006 . novembro 2006 . dezembro 2006 . janeiro 2007 . fevereiro 2007 . março 2007 . abril 2007 . maio 2007 . junho 2007 . julho 2007 . agosto 2007 . setembro 2007 . outubro 2007 . novembro 2007 . dezembro 2007 . janeiro 2008 . fevereiro 2008 . março 2008 . abril 2008 . maio 2008 . junho 2008 . julho 2008 . agosto 2008 . setembro 2008 . outubro 2008 . novembro 2008 . dezembro 2008 . janeiro 2009 . fevereiro 2009 . março 2009 . abril 2009 . maio 2009 . junho 2009 . julho 2009 . agosto 2009 . setembro 2009 . outubro 2009 . novembro 2009 . dezembro 2009 . janeiro 2010 . fevereiro 2010 . março 2010 . maio 2010 . junho 2010 . julho 2010 . agosto 2010 . outubro 2010 . novembro 2010 . dezembro 2010 . janeiro 2011 . fevereiro 2011 . março 2011 . abril 2011 . maio 2011 . junho 2011 . julho 2011 . agosto 2011 . setembro 2011 . outubro 2011 . janeiro 2012 . fevereiro 2012 . março 2012 . abril 2012 . maio 2012 . junho 2012 . setembro 2012 . novembro 2012 . dezembro 2012 . janeiro 2013 . janeiro 2014 . julho 2015 .


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~*. spying glass .*~


a balada do café triste . ágrafo . albergue dos danados . almanaque de ironias menores . a natureza do mal . animais domésticos . antologia do esquecimento . arquivo fantasma . a rute é estranha . as aranhas . as formigas . as pequenas estruturas do ócio . atelier de domesticação de demónios . atum bisnaga . auto-retrato . avatares de um desejo . baggio geodésico . bananafish . bibliotecário de Babel . bloodbeats . caixa-de-lata . casa de cacela . chafarica iconoclasta . coisa ruim . com a luz acesa . comboio de fantasmas . complicadíssima teia . corpo em excesso de velocidade . daily make-up . detective cantor . dias com árvores . dias felizes . e deus criou a mulher . e.g., i.e. . ein moment bitte . em busca da límpida medida . em escuta . estado civil . glooka . i kant, kant you? . imitation of life . isto é o que hoje é . last breath . livros são papéis pintados com tinta . loose lips sink ships . manuel falcão malzbender . mastiga e deita fora . meditação na pastelaria . menina limão . moro aqui . mundo imaginado . não tenho vida para isto . no meu vaso . no vazio da onda . o amor é um cão do inferno . o leitor sem qualidades . o assobio das árvores . paperback cell . pátio alfacinha . o polvo . o regabofe . o rosto de deus . o silêncio dos livros . os cavaleiros camponeses no ano mil no lago de paladru . os amigos de alex . Paris vs. New York . passeio alegre . pathos na polis . postcard blues . post secret . provas de contacto . respirar o mesmo ar . senhor palomar . she hangs brightly . some variations . tarte de rabanete . tempo dual . there is only 1 alice . tratado de metatísica . triciclo feliz . uma por rolo . um blog sobre kleist . vazio bonito . viajador


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~*. the bell jar .*~



os lugares comuns: against demons . all work and no play . compêndio de vocações inúteis  .  current mood . filosofia e metafísica quotidiana . fruta esquisita menina aflita . inventário crescente de palavras mais-que-perfeitas . miles to go before I sleep . música no coração  .  música para o dia de hoje . o ponto de vista dos demónios . planos para dominar o mundo . this magic moment  .  you came on like a punch in the heart . you must believe in spring


egosfera: a infância . a minha vida dava um post . afirmações identitárias . a troubled cure for a troubled mind . april was the cruellest month . aquele canto escuro que tudo sabe . as coisas que me passam pela cabeça . fruto saturnino (conhecimento do inferno) . gotham style . mafarricar por aí . Mafia . morto amado nunca mais pára de morrer . o exílio e o reino . os diálogos imaginários . os infernos almofadados . RE: de mail . sina de mulher de bandido . the woman who could not live with her faulty heart . um lugar onde pousar a cabeça   .  correio sentimental


scriptorium: (des)considerações sobre arte . a noite . and death shall have no dominion . angularidades . bicho escala-estantes . do frio . do medo . escrever . exercícios . exercícios de anatomia . exercícios de respiração . exercícios de sobrevivência . Ítaca . lunário . mediterrânica . minimal . parágrafos mínimos . poemas . poemas mínimos . substâncias . teses, tratados e outras elocubrações quase científicas  .  um rumor no arvoredo


grandes amores: a thing of beauty is a joy forever . grandes amores . abraços . Afta . árvores . cat powa . colectânea de explicações avulsas da língua portuguesa  .  declaração de amor a um objecto . declaração de amor a uma cidade . desolação magnífica . divas e heróis . down the rabbit hole . drogas duras . drogas leves . esqueletos no armário . filmes . fotografia . geometrias . heart of darkness . ilustraçãoinício . matéria solar . mitologias . o mar . os livros . pintura . poesia . sol nascente . space is the place . the creatures inside my head . Twin Peaks . us people are just poems . verão  .  you're the night, Lilah


do quotidiano: achados imperdíveis . acidentes quotidianos e outros desastres . blogspotting . carpe diem . celebrações . declarações de emergência . diz que é uma espécie de portfolio . férias  .  greves, renúncias e outras rebeliões . isto anda tudo ligado . livro de reclamações . moleskine de viagem . níveis mínimos de suporte de vida . o existencialismo é um humanismo . só estão bem a fazer pouco


nomes: Aimee Mann . Al Berto . Albert Camus . Ana Teresa Pereira  . Bauhaus . Bismarck . Björk . Bond, James Bond . Camille Claudel . Carlos de Oliveira . Corto Maltese . Edvard Munch . Enki Bilal . Fight Club . Fiona Apple . Garfield . Giacometti . Indiana Jones . Jeff Buckley  .  Kavafis . Klimt . Kurt Halsey . Louise Bourgeois . Malcolm Lowry . Manuel de Freitas . Margaret Atwood . Marguerite Duras . Max Payne . Mia Couto . Monty Python . Nick Drake . Patrick Wolf  .  Sophia de Mello Breyner Andresen . Sylvia Plath . Tarantino . The National . Tim Burton


os outros: a natureza do mal . amigos . dedicatórias . em busca da límpida medida . retalhos e recortes



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...it's full of stars...


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