dói ter um corpo
um amontoado vivo
de tecidos e desejos
de vazios impossíveis
de preencher.
músculos constrangidos
tensos apertados
feridas abertas
orgãos insuficientes
se o corpo por si
falha e dói
para que queremos ainda
a invenção do amor?
prolapso sistólico da válvula mitral é disfemismo para o romântico
sopro no coração. mas há muito menos romance do que se espera nas funções corporais. um corpo que falha é um corpo que dói. é um corpo que arderá noite adentro, inconsolável, sem outro corpo que o serene. e o mundo parece um lugar mais solitário e todos os lugares parecem corredores do medo, sentir-se presa quando não há predador à vista. há minutos em que um corpo arrasado não se basta para proteger o sopro que o habita: a literatura não consegue disfarçar a enermidade. puta que pariu o
distúrbio da ansiedade crónica.
Etiquetas: Carlos de Oliveira, diz que é uma espécie de portfolio, exercícios de anatomia, exercícios de sobrevivência, ilustração