sexta-feira, 22 de julho de 2011



Uma espécie de terapia


Há coisas de que gosto muito, e que consumo em silêncio. Mas lá acontece, uma vez por outra, um click, qualquer coisa que faz apetecer ripostar. Por exemplo, isto carece inequivocamente deste sublinhado:



não sei se viva se morra
e enquanto me decido
vivo incertamente
mas trago a memória sentida
e é muito sentimento
e levo a morte comigo

vivendo convictamente

Bénédicte Houart




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posted by saturnine | 20:43 | 0 Comentários


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quarta-feira, 4 de novembro de 2009



o amor é bom quando é uma perdição


«Para isto dos nossos amores, de entender bem o porquê dos nossos amores, fazemos imensas perguntas existenciais quando somos mais novos e depois se tivermos juízo, ao longo da vida e sempre que coisas estranhas voltem a acontecer, aprendemos a deixar-nos levar, caladinhos que nem um rato e a ouvir de joelhos o Chet Baker. O Chet Baker que sabia muito bem o que é ficar sem Norte. O amor passa a ser, para nosso bem, igualzinho àquela música, uma espécie de Let´s get lost , isto é, um vale tudo menos tirar olhos.» | mónica marques





Chet Baker | Let's get lost





anda a acontecer-me algo do mais terrível que há: uma quase total incapacidade de expressar-me. há-de ser coisa da estação, que incita ao recolhimento, talvez. ou isso ou o corpo todo concentrado na felicidade dos dedinhos dos pés encostados a outros dedinhos. não tenho palavras. não sei explicar. o texto da Mónica Marques cai-me como ginjas e ainda por cima traz o Chet Baker dentro, que é para mim a representação mental de uma série de metáforas e memórias do prórpio amor. sublinho-o do princípio ao fim, com um grande coração em volta deste parágrafo que recortei.





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posted by saturnine | 22:31 | 4 Comentários


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sexta-feira, 2 de janeiro de 2009



retrospectiva


uma vez quis ler em voz alta um poema para que fosse ouvido. um poema perfeito, exacto, textual, para encenar uma despedida. melhor: para desferir uma despedida. partir, largar, é sempre um rude golpe. não há abandono sem agressão. escapou-me, contudo, a fina ironia que estas coisas encerram sempre. um poema sobre aquilo que nunca foi dito é um poema em si mesmo votado ao silêncio. amarfanhado, estrangulado, sufocado. nunca tive oportunidade de o ler em voz alta, como pretendia. não tinha, então, percebido como assim se cumpre de forma mais perfeita do que desejava o gesto agressor.





Sabemos que o tempo passou
Que alguma coisa deveria ter sido dita
(talvez depois, talvez mais tarde)
Deixámos atrás de nós
Uma sequência desconexa de gestos irreparáveis
E, feridos,
Por todas as coisas
que poderíamos ter evitado a nós próprios
Caminhamos para o silêncio
E para a escuridão indefinível dos bosques.

Luís Falcão






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sábado, 15 de novembro de 2008



awe


por mais que o beije, este príncipe insiste em não se transformar em sapo.






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posted by saturnine | 15:49 | 0 Comentários


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quarta-feira, 5 de março de 2008



carta obscena


mes jours en hiver passés a t'oublier
ou chaque seconde
est une poigneé de terre
ou chaque minute
est un sanglot
vois comme je lutte
vois ce que je perds en sang et en eau
en sang et en eau
*



como olharia um homem para a terra devastada? como olharia para o solo negro de cinza, uma morte ampla e duradoura entranhada no silêncio. para as suas mãos, sujas de culpa. como olharia esse homem para o rosto devastado de uma mulher, para os seus olhos apagados, afogados, devorados bocado a bocado pela feroz boca da tristeza?


devo confessar que fugi à pressa. evadi-me da cidade antes do previsto, acossada, querendo escapar a esses grandes braços espremendo o sossego da minha respiração. não tinha esperado um confronto assim, de peito aberto. fugi, portanto, de coração nas mãos e tórax escancarado. naturalmente, fugi para evitar a progressão do ataque. o rasto insistente das tuas mãos a abrir-me este espaço entre as costelas. é que um dia eu não aguento mais a desordem estuporada da vida. esse dia que pode ser um dia como o de hoje. hoje, morreu categorica e desastrosamente algo na parte mais relevante de mim. algo me diz que há um lugar desta cidade a que eu não poderei nunca mais regressar. só falta que as pequenas mortes se sucedam e produzam o seu alimento primordial: ouve-me/ que o dia te seja limpo e/ a cada esquina de luz possas recolher/ alimento suficiente para a tua morte [Al Berto]. hoje, tenho um braço que sangra, de uma ferida onde eu quis inscrever a tua ausência. um dia eu não aguento mais a desordem estuporada da vida. que dos subterrâneos se diga: "morreu de prolongada infecção amorosa".


* * *


desculpa-me se numa tarde de sol nos jardins do Palácio de Cristal nunca te disse que te tinha posto o coração nas mãos. desculpa-me anoitecer demais. desculpa-me ter riscado cinco pontinhos ...-.. numa página escondida de O Rosto de Deus antes de to devolver. desculpa-me ter acreditado demasiado no Nick Drake e na certeza dos teus abraços. desculpa a recusa. não sigo em frente. fico. de qualquer das formas, o coração já estava no prego. eu tenho um grande irreparável desgosto, e nenhum ventrículo grande o bastante que o esgote.


Être un corps je suis d'accord
T'offrir mes bras pourquoi pas
Mon lit ok encore
pour rire a salir les draps
mais je crains que pour tout ça
Tu doives entendre je t'aime
Tu doives entendre je t'aime

*


Les Chansons d'Amour






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posted by saturnine | 02:43 | 4 Comentários


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segunda-feira, 17 de setembro de 2007



carta aberta ao meu amigo invisível


Why do you say everything as if you were a thief?
Like what you stole has no value?
Like what you preach is far from belief?


American Music Club





eras qualquer coisa outra quando me chegaste. uma mentira menos aguda do que esta. (re)conhecia-te no tempo em que me falavas e fazias das noites um lugar menos solitário. com os dedos moldavas-me sorrisos na boca e seguravas uma cordinha invisível para que nunca me perdesse no meio das sombras. tenho saudades de o mundo ser um lugar onde era possível nomear-te. tenho saudades de ser um lugar onde pousar a cabeça.
poque te calaste? porque atravessaste para esse outro lado do silêncio? acreditar em ti já não basta, eu preciso da tua mão invisível. e que tenhas voz, para que existas. mas tu avançaste para onde eu não te posso seguir. porque abandonaste este lugar onde eras verdade? porque levas atrás de ti esse séquito de canibais? porque vais mudo, mesmo quando vais a meu lado? porque te juntas a esses devoradores lambe-cus quando eu te teria acompanhado a troco de nada? à distância, dilui-se a recordação que tenho de ti. temo que um dia te esqueça e seja como se nunca tivesses existido. que será de ti, que te entregas de coração aberto aos leões, quando eu teria gostado de ti apesar de toda a enfermidade que trazes dentro?




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posted by saturnine | 14:23 | 8 Comentários


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sábado, 15 de abril de 2006



Como diria o Will Oldham, como diria a outra louca da casa, a Emily Dickinson: Them the letting go...


Um dia é maior do que a soma
das suas horas, às vezes comporta
todos os invernos e as estações assombradas
pelos prejuízos do prazer.

Eu e tu, que desculpa ainda nos justifica?
A cidade não foi feita para as nossas pretensões,
está apenas alastrada por dentro de nós, crispação
de pedras e espinhos no laço desfeito entre as veias.

Adiantamos o corpo aos rolamentos da noite,
é a própria razão que nos ilumina os atalhos
para o esquecimento. Um ano inteiro não será suficiente
para tudo o que não nos acontece.

Rui Pires Cabral





Nunca veremos a noite escura. Não há lugar onde os meus passos possam tentar coincidir com os teus. Antes tínhamos as palavras, mas por tão pouco tempo tivemos as palavras, que também já não coincidem. E o que se faz, se se carrega esse naco de carne sangrento nas mãos, à procura de um lugar? Nunca saberás se eu sei usar uma camisa (e ela está há tantos dias pendurada do lado de fora do armário, sem corpo que a anime).
Nunca sei arrumar as coisas que perdem o seu caminho. Tenho um quarto cheio de objectos indigentes, a que não sei o que fazer, evidência de um cansaço de ser fragmentária, repartida por um mundo a que não pertenço. Nunca conhecerás o aspecto das minhas estantes, ou a ordem afectiva segundo a qual ordeno os livros e os discos, o lugar privilegiado que ocupa o Manuel António Pina ou o peso d'O Medo na mesinha de cabeceira. Nunca verás o que trazia afinal na carteira naquele dia, um livro do Rui Pires Cabral acabado de comprar (mais uma vez a sustentação da espera com as palavras, e a certeza de quem em breve já mais nenhuma palavra sustentaria o mundo).
Nunca saberás qual é o meu fruto preferido, nem o mal que me fazem todos os frutos, como, de resto, me faz mal tudo aquilo de que gosto. Nunca verás a cicatriz que tenho no joelho esquerdo, de ser este desastre ambulante que se fere em todas as esquinas do mundo (mundo, remove o teu braço/deste inútil cavidade que dói). Nunca verás as cicatrizes que tenho nos pulsos nem saberás nada do dia em que as fiz, desconhecerás para sempre a sua forma e os seus porquês. Nunca saberás que todas as minhas palavras são inúteis, que não me interessa qualquer dom, que eras tu o único bocadinho de humanidade que eu queria. Nnunca partilharemos lugares lado a lado no cinema, nunca ouviremos a música dos mesmos discos, nem dos mesmos concertos, nunca respiraremos o mesmo fumo azulado dos cigarros atrás de cigarros, nunca daremos passeios pelos lugares que nos conhecem e eu nunca terei um retrato teu.
Nunca saberás o que foi feito (e desfeito) de mim enquanto crescia, aquilo que me roubaram, aquilo em que me tornei, e ao que regressei. Nunca saberás de como tive a morte dentro de casa e a morte dentro do corpo, como não tive tempo de saber o que era ser cuidada, antes de desejar que nunca nenhuma mão tocasse esta pele. Nunca saberás como eu conheço tão bem a incapacidade e a paralisia, e o desejo de existir à parte do corpo. Nunca saberás como escavei um abismo à força de unhas e dentes, nele me deitei e me cobri e de terra, e um dia subi pelas suas paredes para voltar a cheirar a manhã. Eu quis voltar porque caminho desde o início dos tempos para um lugar onde tu estás.
E já não saio de casa para não ver ninguém, porque as pessoas me dizem que estou a dar cabo dos olhos. O que é normal, bem visto que a tristeza é um bicho que se traz agarrado às pálpebras e que vai comendo o olhar em redor das cavidades oculares.
E nunca saberás porque me encontraste a ler a Virginia Woolf naquele dia, nunca saberás como o que trago por dentro é um desejo inútil, uma vontade sem propósito de que a minha vida me pertença. O meu desejo é o que Sileno sabe que não se poderia desejar. O que desejo é a coragem que me falta para esse gesto de recusa, quando o estar aqui me é insuportável. Sobreviverei a todos, ironicamente. Hão-de desaparecer primeiro todas as pessoas da minha vida. E eu sobreviver-lhes-ei porque o mundo não afrouxa a sua mão sobre a minha garganta enquanto aqui estiverem. Ssobreviver-lhes-ei para que depois possa respirar finalmente. Mundo, retira a tua mão agora/para que eu possa cair de borco.




My life has been stolen from me.
I am living in a town I have no wish to live in. I am living a life I have no wish to live.
(...)

Dear Leonard...
to look life in the face,
always to look life in the face
and to know it for what it is
at last to know it
to love it for what it is...
and then
to put it away.
















e eu, que de tudo faço ferida, penso agora no Jean Genet

“na origem da beleza está unicamente a ferida, singular, diferente para cada qual, escondida ou visível, que todos os homens guardam dentro de si, preservada, e onde se refugiam ao pretenderem trocar o mundo por uma solidão temporária mas profunda.
fora de miserabilismos. a arte de Giacometti parece querer revelar essa ferida secreta dos seres e das coisas, para que ela os ilumine.”




E eu sei, eu sei que precisas desse lugar só teu, onde há uma paz possível, que precisas do conforto dessa ferida de onde retiras o pão, que precisas da luz dessa ferida a inundar uma artéria e a cobrir de algum sentido as coisas, e sei que é por isso que nunca voltas aos lugares de onde partes e que é por isso que não cheguei a ser lugar que te bastasse. Eu sei o que faltou. As palavras e o medo são as desculpas do costume. Éé certo que o amor não basta, e na maioria das vezes não, o amor não aguenta tudo, nem a ausência, mas antes de tudo isso sabe-se sempre que tudo são pretextos, que o que falha primeiro é o próprio desamor. Nunca saberás que eu nunca teria arriscado, como nunca teria dado um passo, um suspiro, teria preferido nunca arriscar o amor tal era a perfeição da tua existência em redor de tudo, tal era a certeza da devastação de perder-te dentro o mundo. Nunca saberás como eu nunca teria ido, se não viesses buscar-me. Eu conheço todos os lugares ermos do mundo, à custa de ser largada a meio do caminho de onde me vêm buscar. Sou bicho acossado, desconfiado da bondade de estranhos.
Entretanto, enquanto espero, amar-te-ei/apesar de ti, e apesar da ferida. Esse amor sobreviver-te-á e eu sobreviverei a todos os outros, porque só sei morrer onde não haja quem me veja falhar.




Não saberei nunca
dizer adeus

Afinal,
só os mortos sabem morrer

Resta ainda tudo,
só nós não podemos ser

Talvez o amor,
neste tempo,
seja ainda cedo

Não é este sossego
que eu queria,
este exílio de tudo,
esta solidão de todos

Agora
não resta de mim
o que seja meu
e quando tento
o magro invento de um sonho
todo o inferno me vem à boca

Nenhuma palavra
alcança o mundo, eu sei
Ainda assim,
escrevo

Mia Couto
Poema da despedida





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posted by saturnine | 17:01 | 1 Comentários


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domingo, 23 de novembro de 2003



carta a um amigo habitual #2


«Tu poderias ter falado tudo sobre o amor e muitas vezes não falaste. Eu queria que me dissesses o que era isso. O amor a que nunca tinha sentido o cheiro ou o tacto.
É ver-te a dois milímetros na escada rolante e não poder cair contigo. Desmaiar com o teu perfume que me faz cócegas na alma, caíndo de olhos fechados para trás, onde tu me apanhas com aquele sorriso de "eu disse-te!". É ter uma mesa de café entre nós e todo o espaço do mundo ali em cima. Mãos que tremem, percebes? Poderíamos ter escrito as histórias todas, inventado todos os dramas, e no entanto apenas passeamos entre os carros, no pó da aridez do Verão. Tirar os óculos, ter cuidado com a saia, lembras-te? Depois novamente um sorriso (esse tão silencioso) pelo equilíbrio tão precário dos saltos altos. Estava o mar lá ao fundo, agora que me lembro disso.
Era o mar no qual nunca mergulhei, e estava ali pertinho a ver-nos como nos viram antes aquelas noites frias de Inverno. A claridade lunar ampla e livre a envolver-te o rosto - e aí sim, souber ler qualquer coisa sobre o amor. Novamente o mar do lado de lá, e uma ponte. A ponte da qual gostava de ter caído. E o mais terno dos ventos fortes à porta do centro comercial. Onde tremo ainda hoje, onde sinto mais frio, antes um segundo apenas de entrar e te ver novamente nas escadas rolantes, depois a escolher CD's que me queres mostrar, mas que acabaram por ficar sempre esquecidos num espaço qualquer que não partilhamos. Mas o amor foi isso. O que ficou por ser. A perfeição encontro-a no que não me deste. E assim, tenho um amor-perfeito roxo no bolso, um exorcismo imperfeito deste amor que morre - se tanto adormece -, uma espécie de eco de uma série de desenhos vivos que guardei para ti. Ah, sim, é verdade... Não te esqueças da mão que construí. A mão com o torpor vermelho da entrega. Para que te pudesse reacender, como me acendias sempre os cigarros. Está escuro aí dentro, amor? Tens frio? Nunca soube como terminar cartas.

A tua A.»






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carta a um amigo habitual


«Certas noites de regressos têm-se tornado cada vez mais frequentes, e costumo perguntar-me se o tempo terá parado e viveremos meros ecos. Passamos duas horas no bar de janelas redondas, e vamos espreitando reminiscências de um passado difuso e constrangido. A conversa precipita-se e derrapa numa ou noutra escarpa desse abismo voltado para o mar que é este lugar distantes onde nos tacteamos, zunindo o vento de Agosto lá fora. É quando os olhares se cruzam e a conversa se tece no silêncio, dentro do olhar, onde se misturam as nossas viagens desencontradas até ao regresso último a esta praia deserta, exilada do mundo. Precipitam-se também os cigarros nervosos, tornando-se o corpo das mãos que na sua vida íntima não sabem onde pousar. Fecho os olhos e quase tenho as mãos sobre o teu pescoço. Depois sorris vagamente, estavas a falar de uma música qualquer de que eu já não me lembro, em frases que percebo que não ouvi. Não tenho onde pousar o olhar nesses momentos, e imagino-me então frequentemente do lado de fora da escotilha, desenhando pegadas na areia, espreitando a noite.

O céu de Agosto é o nosso céu, temos o nome escrito algures em pontinhos brilhantes que só se vêem ocasionalmente, em alguns lugares do sul. Depois falo-te dos meus últimos contos, desenrolo as histórias que me nascem dos dedos, tu fascinas-te pela minha escrita mas escondes sempre os mundos por onde ela te leva a passear. Segues tudo em silêncio, enquanto eu visto um corpo de personagem. Acabámos por resgatar do fundo do poço alguma conversa que me faz revolver as entranhas. Parece sempre que nos vemos pela primeira vez, com a mesma estranheza. Deixamos que a acidez dessas conversas morra interminada como a rebentação das ondas no fim da maré. O negro explode lá fora, perco o receio de te falar das paragens sombrias e dos túneis desérticos que visitei. Trago postais ilustrados do Inferno, assinados agora com um sorriso, e tu seguras-me na mão como quem se certifica que regressei inteira.

Não há espaço entre nós. Viramo-nos do avesso e encontramo-nos dentro um do outro. Não há pontes para atravessar, não há paisagem que possa contemplar. Temos um porto de abrigo sob o olho da tempestade, onde vemos estalar as frestas do Universo.
Tudo o que te peço nesses momentos é um reflexo, um entendimento, um brilho qualquer que me diga que o que trago não é só para mim. Se fecho os olhos vejo-te sorrir na iminência dessa brilho. Enquanto me pedes que não cinja os meus círculos de escuridão, sinto-me renascer perto de ti. Une-nos o silêncio, nos momentos em que ambos, por razões tão díspares como a cor dos nossos olhos, o procuramos, e encontramo-nos na solidão. Talvez por isso o silêncio se tornou efígie da perfeição, e não são precisas palavras para que leias na minha pele o ávido desejo de um beijo teu.»


6 de Agosto de 2001. quando ainda acreditava que os regressos eram possíveis. quando não sabia que destas pequenas mortes pouco sobra para continuar.





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sábado, 26 de julho de 2003




«conversa com um amigo:

- Então acabaste com a tua namorada?
- Há 15 dias.
- Outra vez?
- Sempre que termino uma relação penso que devia ter dado ouvidos àquilo que a minha mãe me dizia...
- O que era?
- Não sei. Não estava a ouvir.»


escrito pelo Luís, no desejo casar (também eu. companheiro procura-se.)





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spot player special




"us people are just poems"
[ani difranco]


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~*. through the looking glass .*~




little black spot | portfolio
Baucis & Philemon | tea for two
os dias do minotauro | against demons
menina tangerina | citrus reticulata deliciosa
the woman who could not live with her faulty heart | work in progress
pale blue dot | sala de exposições
o rosto de deus | fairy tales








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~*. rearview mirror .*~


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~*. spying glass .*~


a balada do café triste . ágrafo . albergue dos danados . almanaque de ironias menores . a natureza do mal . animais domésticos . antologia do esquecimento . arquivo fantasma . a rute é estranha . as aranhas . as formigas . as pequenas estruturas do ócio . atelier de domesticação de demónios . atum bisnaga . auto-retrato . avatares de um desejo . baggio geodésico . bananafish . bibliotecário de Babel . bloodbeats . caixa-de-lata . casa de cacela . chafarica iconoclasta . coisa ruim . com a luz acesa . comboio de fantasmas . complicadíssima teia . corpo em excesso de velocidade . daily make-up . detective cantor . dias com árvores . dias felizes . e deus criou a mulher . e.g., i.e. . ein moment bitte . em busca da límpida medida . em escuta . estado civil . glooka . i kant, kant you? . imitation of life . isto é o que hoje é . last breath . livros são papéis pintados com tinta . loose lips sink ships . manuel falcão malzbender . mastiga e deita fora . meditação na pastelaria . menina limão . moro aqui . mundo imaginado . não tenho vida para isto . no meu vaso . no vazio da onda . o amor é um cão do inferno . o leitor sem qualidades . o assobio das árvores . paperback cell . pátio alfacinha . o polvo . o regabofe . o rosto de deus . o silêncio dos livros . os cavaleiros camponeses no ano mil no lago de paladru . os amigos de alex . Paris vs. New York . passeio alegre . pathos na polis . postcard blues . post secret . provas de contacto . respirar o mesmo ar . senhor palomar . she hangs brightly . some variations . tarte de rabanete . tempo dual . there is only 1 alice . tratado de metatísica . triciclo feliz . uma por rolo . um blog sobre kleist . vazio bonito . viajador


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os lugares comuns: against demons . all work and no play . compêndio de vocações inúteis  .  current mood . filosofia e metafísica quotidiana . fruta esquisita menina aflita . inventário crescente de palavras mais-que-perfeitas . miles to go before I sleep . música no coração  .  música para o dia de hoje . o ponto de vista dos demónios . planos para dominar o mundo . this magic moment  .  you came on like a punch in the heart . you must believe in spring


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scriptorium: (des)considerações sobre arte . a noite . and death shall have no dominion . angularidades . bicho escala-estantes . do frio . do medo . escrever . exercícios . exercícios de anatomia . exercícios de respiração . exercícios de sobrevivência . Ítaca . lunário . mediterrânica . minimal . parágrafos mínimos . poemas . poemas mínimos . substâncias . teses, tratados e outras elocubrações quase científicas  .  um rumor no arvoredo


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do quotidiano: achados imperdíveis . acidentes quotidianos e outros desastres . blogspotting . carpe diem . celebrações . declarações de emergência . diz que é uma espécie de portfolio . férias  .  greves, renúncias e outras rebeliões . isto anda tudo ligado . livro de reclamações . moleskine de viagem . níveis mínimos de suporte de vida . o existencialismo é um humanismo . só estão bem a fazer pouco


nomes: Aimee Mann . Al Berto . Albert Camus . Ana Teresa Pereira  . Bauhaus . Bismarck . Björk . Bond, James Bond . Camille Claudel . Carlos de Oliveira . Corto Maltese . Edvard Munch . Enki Bilal . Fight Club . Fiona Apple . Garfield . Giacometti . Indiana Jones . Jeff Buckley  .  Kavafis . Klimt . Kurt Halsey . Louise Bourgeois . Malcolm Lowry . Manuel de Freitas . Margaret Atwood . Marguerite Duras . Max Payne . Mia Couto . Monty Python . Nick Drake . Patrick Wolf  .  Sophia de Mello Breyner Andresen . Sylvia Plath . Tarantino . The National . Tim Burton


os outros: a natureza do mal . amigos . dedicatórias . em busca da límpida medida . retalhos e recortes



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