segunda-feira, 27 de novembro de 2006



M., obrigada


UMA ARTE
Elizabeth Bishop



A arte de perder não é difícil de dominar;
tantas coisas parecem dotadas da intenção
de serem perdidas que a sua perda não é nenhuma tragédia.


Perde qualquer coisa todos os dias. Aceita o incómodo
de chaves perdidas, da hora mal passada.
A arte de perder não é difícil de dominar.

Depois pratica perder mais ainda, perder mais rápido:
lugares, e nomes, e onde quer que desejasses
viajar. Nada disto provocará uma tragédia.

Perdi o relógio da minha mãe. E repara! a minha última, ou
penúltima, de três casas amadas desapareceu.
A arte de perder não é difícil de dominar.

Perdi duas cidades, lindas que eram. E, mais vasto ainda,
alguns reinos que possuía, dois rios, um continente.
Sinto a sua falta, mas não foi uma tragédia.

— Até mesmo perder-te (a voz que graceja, um gesto
que amo) não é mentira nenhuma. É evidente
que a arte de perder não é difícil de dominar
embora se pareça com (anota-o!) com uma tragédia.




tinhas razão, pois. bela tradução.



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posted by saturnine | 12:26 | 3 Comentários


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quinta-feira, 23 de novembro de 2006



One Art


a propósito deste disco



Samuel Jerónimo | RIMA




cheguei a este poema


The art of losing isn't hard to master;
so many things seem filled with the intent
to be lost that their loss is no disaster.

Lose something every day. Accept the fluster
of lost door keys, the hour badly spent.
The art of losing isn't hard to master.

Then practice losing farther, losing faster:
places, and names, and where it was you meant
to travel. None of these will bring disaster.

I lost my mother's watch. And look! my last, or
next-to-last, of three loved houses went.
The art of losing isn't hard to master.

I lost two cities, lovely ones. And, vaster,
some realms I owned, two rivers, a continent.
I miss them, but it wasn't a disaster.

Even losing you (the joking voice, a gesture
I love) I shan't have lied. It's evident
the art of losing's not too hard to master
though it may look like (Write it!) like disaster.


Elizabeth Bishop



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posted by saturnine | 02:33 | 5 Comentários


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quarta-feira, 22 de novembro de 2006



Primary studies for an exercise in fear



Scott Walker | Drift


odiei de morte o disco do Scott Walker da primeira vez que o ouvi. levei a mal à pessoa que mo deu a ouvir porque isso não é coisa que se faça a ninguém assim sem mais nem menos, sem cerimónias - "mas tu queres torturar-me?!". ninguém devia pôr alguém a ouvir um disco assim, sem rede, absolutamente despreparada. aquilo doeu-me, caraças. como uma grande mão crispada a vasculhar-me as entranhas. foi horrível. insuportável. quis que aquilo parasse, que acabasse o mais depressa possível. não duvido que seja um disco que ponha uma pessoa doente, se assim ouvido com descuido e sem parcimónia. ausentei-me, reneguei-o.

até que um dia lhe peguei e o ouvi sozinha, de livre vontade, num momento cuidadosamente escolhido. dei-lhe a minha total atenção, noite adentro, com as luzes todas apagadas, como tem que ser sempre que um disco me exige que o compreenda. e criaram-se-me imagens da cabeça. como se habitasse um caleidoscópio demoníaco gigantesco. vi o "Pelikanol" dos Einstürzende Neubauten, vi as personagens dos filmes de David Lynch, os filmes inteiros, as bandas sonoras, e vi as minhas próprias imagens antiquíssimas, de um imaginário de terror construído de fragmentos dessoutras imagens que se me instalaram na memória ao longo dos tempos. o que via claramente era o meu constrangimento: atravessando uma floresta completamente às escuras, descalça. e era belo e assombroso e assustador todo o caminho. eu não sabia como iria sair dali, nem sequer se haveria saída. mas é claro que há saída. vem o dia, voltam as luzes, e somos salvos do Scott Walker.

"Drift" é um disco está já muito para além a ideia de música como potencial entertenimento e/ou objecto de prazer. ouço-o poquíssimas vezes porque sou tenrinha e ainda me acontece envolver-me tanto que me desmorono ("I keep a close watch on this heart of mine", portanto*). mas é um monumento, caraças. imprescindível. a consumir com extremo cuidado. aterrador, mas sublime.

quando hoje penso nisso, ainda detesto aquele disco. adoro-o e detesto-o.








* John Cale



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posted by saturnine | 23:02 | 3 Comentários


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domingo, 19 de novembro de 2006



Carrion




* de coração (esfrangalhado) nas mãos *




so he said.





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posted by saturnine | 20:33 | 5 Comentários


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sexta-feira, 17 de novembro de 2006



Things fall down. People Look up. And when it rains, it pours.






Hector Zazou + John Cale | First Evening



chuva em bátegas nas ruas, nos telhados, nas janelas. o mundo esvai-se, e as minhas mãos demasiado frias procuram o vazio dos bolsos. o interior da casa é um lugar sagrado, o escuro a nota preferida, e contra o frio, contra o medo, contra a saudade, só Clair de Lune no fim de todas as coisas, no fim de todos os gestos.



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posted by saturnine | 18:43 | 1 Comentários


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quinta-feira, 16 de novembro de 2006



To all the beautiful people in the world


Why do you say everything as if you were a thief?
Like what youve stolen has no value
Like what you preach is far from belief?


American Music Club | Johnny Mathis' Feet



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posted by saturnine | 00:44 | 1 Comentários


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spot player special




"us people are just poems"
[ani difranco]


*

calamity.spot[at]gmail.com



~*. through the looking glass .*~




little black spot | portfolio
Baucis & Philemon | tea for two
os dias do minotauro | against demons
menina tangerina | citrus reticulata deliciosa
the woman who could not live with her faulty heart | work in progress
pale blue dot | sala de exposições
o rosto de deus | fairy tales








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~*. rearview mirror .*~


maio 2003 . junho 2003 . julho 2003 . agosto 2003 . setembro 2003 . outubro 2003 . novembro 2003 . dezembro 2003 . janeiro 2004 . fevereiro 2004 . março 2004 . abril 2004 . maio 2004 . junho 2004 . julho 2004 . agosto 2004 . setembro 2004 . outubro 2004 . novembro 2004 . dezembro 2004 . janeiro 2005 . fevereiro 2005 . março 2005 . abril 2005 . maio 2005 . junho 2005 . julho 2005 . agosto 2005 . setembro 2005 . outubro 2005 . novembro 2005 . dezembro 2005 . janeiro 2006 . fevereiro 2006 . março 2006 . abril 2006 . maio 2006 . junho 2006 . julho 2006 . agosto 2006 . setembro 2006 . outubro 2006 . novembro 2006 . dezembro 2006 . janeiro 2007 . fevereiro 2007 . março 2007 . abril 2007 . maio 2007 . junho 2007 . julho 2007 . agosto 2007 . setembro 2007 . outubro 2007 . novembro 2007 . dezembro 2007 . janeiro 2008 . fevereiro 2008 . março 2008 . abril 2008 . maio 2008 . junho 2008 . julho 2008 . agosto 2008 . setembro 2008 . outubro 2008 . novembro 2008 . dezembro 2008 . janeiro 2009 . fevereiro 2009 . março 2009 . abril 2009 . maio 2009 . junho 2009 . julho 2009 . agosto 2009 . setembro 2009 . outubro 2009 . novembro 2009 . dezembro 2009 . janeiro 2010 . fevereiro 2010 . março 2010 . maio 2010 . junho 2010 . julho 2010 . agosto 2010 . outubro 2010 . novembro 2010 . dezembro 2010 . janeiro 2011 . fevereiro 2011 . março 2011 . abril 2011 . maio 2011 . junho 2011 . julho 2011 . agosto 2011 . setembro 2011 . outubro 2011 . janeiro 2012 . fevereiro 2012 . março 2012 . abril 2012 . maio 2012 . junho 2012 . setembro 2012 . novembro 2012 . dezembro 2012 . janeiro 2013 . janeiro 2014 .


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~*. spying glass .*~


a balada do café triste . ágrafo . albergue dos danados . almanaque de ironias menores . a natureza do mal . animais domésticos . antologia do esquecimento . arquivo fantasma . a rute é estranha . as aranhas . as formigas . as pequenas estruturas do ócio . atelier de domesticação de demónios . atum bisnaga . auto-retrato . avatares de um desejo . baggio geodésico . bananafish . bibliotecário de Babel . bloodbeats . caixa-de-lata . casa de cacela . chafarica iconoclasta . coisa ruim . com a luz acesa . comboio de fantasmas . complicadíssima teia . corpo em excesso de velocidade . daily make-up . detective cantor . dias com árvores . dias felizes . e deus criou a mulher . e.g., i.e. . ein moment bitte . em busca da límpida medida . em escuta . estado civil . glooka . i kant, kant you? . imitation of life . isto é o que hoje é . last breath . livros são papéis pintados com tinta . loose lips sink ships . manuel falcão malzbender . mastiga e deita fora . meditação na pastelaria . menina limão . moro aqui . mundo imaginado . não tenho vida para isto . no meu vaso . no vazio da onda . o amor é um cão do inferno . o leitor sem qualidades . o assobio das árvores . paperback cell . pátio alfacinha . o polvo . o regabofe . o rosto de deus . o silêncio dos livros . os cavaleiros camponeses no ano mil no lago de paladru . os amigos de alex . Paris vs. New York . passeio alegre . pathos na polis . postcard blues . post secret . provas de contacto . respirar o mesmo ar . senhor palomar . she hangs brightly . some variations . tarte de rabanete . tempo dual . there is only 1 alice . tratado de metatísica . triciclo feliz . uma por rolo . um blog sobre kleist . vazio bonito . viajador


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~*. the bell jar .*~



os lugares comuns: against demons . all work and no play . compêndio de vocações inúteis  .  current mood . filosofia e metafísica quotidiana . fruta esquisita menina aflita . inventário crescente de palavras mais-que-perfeitas . miles to go before I sleep . música no coração  .  música para o dia de hoje . o ponto de vista dos demónios . planos para dominar o mundo . this magic moment  .  you came on like a punch in the heart . you must believe in spring


egosfera: a infância . a minha vida dava um post . afirmações identitárias . a troubled cure for a troubled mind . april was the cruellest month . aquele canto escuro que tudo sabe . as coisas que me passam pela cabeça . fruto saturnino (conhecimento do inferno) . gotham style . mafarricar por aí . Mafia . morto amado nunca mais pára de morrer . o exílio e o reino . os diálogos imaginários . os infernos almofadados . RE: de mail . sina de mulher de bandido . the woman who could not live with her faulty heart . um lugar onde pousar a cabeça   .  correio sentimental


scriptorium: (des)considerações sobre arte . a noite . and death shall have no dominion . angularidades . bicho escala-estantes . do frio . do medo . escrever . exercícios . exercícios de anatomia . exercícios de respiração . exercícios de sobrevivência . Ítaca . lunário . mediterrânica . minimal . parágrafos mínimos . poemas . poemas mínimos . substâncias . teses, tratados e outras elocubrações quase científicas  .  um rumor no arvoredo


grandes amores: a thing of beauty is a joy forever . grandes amores . abraços . Afta . árvores . cat powa . colectânea de explicações avulsas da língua portuguesa  .  declaração de amor a um objecto . declaração de amor a uma cidade . desolação magnífica . divas e heróis . down the rabbit hole . drogas duras . drogas leves . esqueletos no armário . filmes . fotografia . geometrias . heart of darkness . ilustraçãoinício . matéria solar . mitologias . o mar . os livros . pintura . poesia . sol nascente . space is the place . the creatures inside my head . Twin Peaks . us people are just poems . verão  .  you're the night, Lilah


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nomes: Aimee Mann . Al Berto . Albert Camus . Ana Teresa Pereira  . Bauhaus . Bismarck . Björk . Bond, James Bond . Camille Claudel . Carlos de Oliveira . Corto Maltese . Edvard Munch . Enki Bilal . Fight Club . Fiona Apple . Garfield . Giacometti . Indiana Jones . Jeff Buckley  .  Kavafis . Klimt . Kurt Halsey . Louise Bourgeois . Malcolm Lowry . Manuel de Freitas . Margaret Atwood . Marguerite Duras . Max Payne . Mia Couto . Monty Python . Nick Drake . Patrick Wolf  .  Sophia de Mello Breyner Andresen . Sylvia Plath . Tarantino . The National . Tim Burton


os outros: a natureza do mal . amigos . dedicatórias . em busca da límpida medida . retalhos e recortes



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