terça-feira, 26 de julho de 2011



música antológica


Por algum desses acasos sem grande explicação, acabei por amigar, numa certa e determinada rede social ainda dominante (mas em previsível declínio), o Rui Pires Cabral. E isto é uma coisa a que eu não sei o que fazer. Há como uma espécie de reverência, qualquer coisa que me assombra e, por iso, me intimida. Não ouso mover-me, esboçar uma palavra. A proximidade, quando não é cúmplice, é quase promíscua, uma intromissão. Mas que dizer deste grande paradoxo dos novos tempos, em que a proximidade está ao alcance de um dedo, mas não está o resto do corpo preparado para sofrer o que é esse embate da indizível comoção...





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segunda-feira, 4 de julho de 2011



Declaração


A Zooey Deschanel é assim tipo, coiso, um evento de fofinhice sem par, uma daquelas coisas que fazem o mundo funcionar melhor, assim tipo, coiso, um dia de sol quentinho em pleno verão, ou tartinhas de mirtilo acabadinhas de fazer.







Mas, na verdade, eu tenho um fraquinho pela outra jóia da família, a mana mais velha Deschanel (o dia em que não houver mais Bones para ver será um dia triste para mim).








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domingo, 3 de julho de 2011



Down, down, down... Would the fall never come to and end?


Alice in Wonderland é, possivelmente, o livro mais pefeito de sempre. Relê-lo, trelê-lo, à medida que o tempo avança, vai revelando camadas sucessivas de interpretação. Percebe-se, por exemplo, que a infância é um território paradoxal, que, não obstante o facto de todos dele provirmos, se torna mais cada vez desconhecido, mais misterioso, à medida que dele nos afastamos. A raiz do medo, que se converte em insónia, no conhecimento do inferno, no terror assombrado dos dias povoados de demónios, tem origem nos lugares profundos dos quais a memória se destaca. Crescer é uma espécie de reencontro. Quando a fantasia se converte ela mesma em metafísica, e na metáfora aparentemente pueril se encontra o consolo de um sentido verdadeiramente existencial.






© Benjamin Lacombe







'Would you tell me, please, which way I ought to go from here?'
'That depends a great deal on where you want to get to', said the Cat.
'I don't much care where -' said Alice.
'Then it doesn't matter which way you go', said the Cat.






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segunda-feira, 6 de junho de 2011



Voltando ao que interessa






Li ontem A Pantera, de Ana Teresa Pereira. Faltou qualquer coisa, não fascinou. Há algo que me intriga e que, por impossibilidade de distanciamento, não consigo discernir correctamente: é a autora que alterna textos belíssimos com outros claramente menores, ou é o meu vício que atenua o ecanto, apagando a cintilância da sua escrita?

Neste livro, uma vez mais, é a mesma história revisitada. Os escritores e as suas personagens, os seus demónios, o perpétuo combate entre ficção e realidade. Mas pensava que depois de Quando atravessares o rio o reaparecimento de Kate e Tom seria mais inequietante, levantando um pouco mais a ponta do véu, ainda que, com isso, descobrindo as sombras de outros monstros escondidos. Este livro soube-me a pouco, e ainda que me tenha parecido mais complexo do que à primeira vista pode parecer, o facto de não me ter impressionado irremediavelmente fá-lo parecer claramente menor.

Tenho achado que Ana Teresa Pereira exercita melhor a sua singularidade, nos últimos anos, quando se desprende dessa história antiga que ameaça tornar-se demasiado familiar para que possa inquietar ou angustiar. O seu estilo é mais refinado em obras como O Verão Selvagem dos Teus Olhos ou A Outra. Tenho vontade de ver, cada vez mais, outros castelos, outros jardins, outros fantasmas. Tenho vontade de voltar a surpreender-me com o inesperado.





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domingo, 5 de junho de 2011



A Relógio d'Água já se pareceu com as outras editoras...







... mas felizmente passou-lhe.







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terça-feira, 24 de maio de 2011



Coisas que a gente sabe logo


Ao primeiro livro de Virginia Woolf, torna-se logo pouco surpreendente que tenha terminado por decidir morrer, qual Ofélia, de morte precoce e premeditada. Um cérebro, como um disco num gira-discos, só aguenta um certo limite de rotações.


Ao primeiro livro de Tennessee Williams, já estou rendida e fascinada, como só acontece tão raras vezes, reconhecer um escritor da carne viva, como com o Juan Rulfo, tão perfeito que um único livro bastaria para sustentar a obra inteira de uma vida.





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domingo, 15 de maio de 2011



One Hopper a day keeps the doctor away #1



Edward Hopper | Lighthouse and Buildings, Portland Head





«Tal como num dia de verão as ondas se juntam, se desequilibram e caem; e o mundo todo parece dizer, cada vez mais gravemente, "não há mais nada", até que o próprio coração dentro do corpo estendido ao sol diz também não há mais nada. Não mais temas, diz o coração, confiando o seu fardo a qualquer mar que suspira colectivamente por todas as mágoas, um mar que se renova, que recomeça, que se ergue e se deixa cair.»

Mrs. Dalloway, Virginia Woolf
Relógio d'Água, 2004





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domingo, 6 de março de 2011



Preparação:


Uma criatura como eu não aguenta seis meses de escravidão. Escravidão do frio, do céu de chumbo, dos dias demasiado curtos para que alguma vida de jeito se desenhe. Estou, como a criança que sempre fui, com bichos carpinteiros, a retorcer-me de impaciência na cadeira da escola. É que uma criatura como eu também não se aguenta em obediência silenciosa. Eu já nem digo que suspiro secretamente por um verão esplendoroso. Para já, contentava-me com uma Primavera antecipada. Com as manhãs ao sol, o tempo lento, os livros em catadupa.

Eu sempre disse que um verão perfeito tinha que ter The Shins e Fleet Foxes em Paredes de Coura. Ainda por cima agora há The Drums e Morning Benders e podia ser tudo perfeito. Eis que acontece o milagre da chegada dos Fleet Foxes e eles aterram justamente no Merdoso Alive. Há um desequilíbrio cósmico no universo, só pode, e eu não gosto quando o cosmos se põe a conspirar contra mim.

Resta a esperança, agora que há qualquer coisa nova e fresca, que para Paredes de Coura não esteja ainda tudo perdido:










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segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011



There's a devil waiting outside your door



Nick Cave & The Bad Seeds | Loverman





Gosto do Nick Cave, de paixão assolapada. Gosto dos seus extremos. Do seu ar de pastor traficante, da sua irónica religiosidade e paradoxal consciência do mal, da sua imaginação fantasmagórica, cheia de cenários impossíveis, mas tão prováveis. Gosto da sua lamechice baladeira tanto quanto da sua rockalhice fervorosa. Gosto de tudo, não sei se me entendem. Gosto de como o Henry's Dream parece um livro de histórias assombradas, uma floresta encantada, um pátio cheio de demónios. Gosto da singela raiva melancólica dos duetos de Murder Ballads. Gosto de como o Let Love In continua a parecer o álbum da minha vida, em recortes que se metamorfoseiam e permanecem exactos. Poderia ter escolhido 31 canções diferentes. Foi esta porque é assim que acontece com as assombrações: elas aparecem, possuem-nos, tomam conta de nós. Escolhemos muito pouco, ou quase nada.





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segunda-feira, 3 de janeiro de 2011



Love



Love | Always see your face





2011, let the good times just keep on rollin'.







Harold's Planet






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domingo, 28 de novembro de 2010



a thing of beauty


O (500) Days of Summer só poderia ter sido mais perfeito se tivesse chegado algum tempo antes, quando teria caído em sobreposição perfeita, qual papel químico, finíssimo, exacto, textual, sobre a sombra dos meus próprios dias. Será sempre um filme de final de adolescência - mesmo quando ela invade e se prolonga bem para além da idade adulta.
E os Smiths, pá. Quem cresceu nos anos '80 e não gosta dos Smiths com paixão assolapada que levante o braço. É um filme de final de adolescência para uma geração particular, que melhor que nenhuma sabe daquela forma de desejar tanto ter, finalmente, aquilo que se deseja.









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domingo, 21 de novembro de 2010



Hello darkness, my old friend *


A visita periódica dos velhos demónios é ritual que me lembra sempre *Simon & Garfunkel. Com o tempo, a familiaridade converte-se numa espécie de simpatia. O terror cede lugar ao mero amedrontamento. A dor excruciante converte-se em amena perturbação. Há uma espécie de ternura no hábito do conhecimento do inferno.

Depois, há a certeza de que isto continua sempre tudo ligado, e que a vida quotidiana justifica o seu lirismo nesta complexa teia de associações simbólicas.

Foi um mero acaso de circunstâncias que me levou primeiro ao filme The Hours, e à Mrs. Dalloway de Virginia Woolf depois. Lembro-me da primeira e única noite em que o filme incendiou o meu quarto, e eu me queimei quase de verdade nessa inflamação desenfreada. Foi por pouco, que sobrevivi.

Quanto à Mrs. Dalloway, ainda hoje está em vantagem no marcador: sucumbi, não o terminei. É absolutamente irrespirável, o ar no seu interior. Um dia. Este foi o ano da domesticação do demónio Sylvia Plath. E com isto da familiarização com o submundo não se pode querer ser muito ganancioso, de uma vez só.

Por ora, tilintam os meus cristais interiores, alargando a rede de associações líricas. Dizem-me que me perturba esta Nicole Kidman/Virginia Woolf porque me lembra a Ofélia dos pré-rafaelitas:








J.E. Millais



J.W. Waterhouse




E, por sua vez, que me perturba este abandono porque me lembra o Will Oldham, na voz de quem diz a outra louca da casa, a Emily Dickinson:



After great pain a formal feeling comes--
The nerves sit ceremonious like tombs;
The stiff Heart questions--was it He that bore?
And yesterday--or centuries before?
The feet, mechanical, go round
A wooden way
Of ground, or air, or ought,
Regardless grown,
A quartz contentment, like a stone.

This is the hour of lead
Remembered if outlived,
As freezing persons recollect the snow--
First chill, then stupor, then the letting go.




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terça-feira, 30 de março de 2010



current mood:


não há nada de novo no facto de eu ter epifanias musicais muito muito retardadas. mas a verdade é que só depois de Where The Wild Things Are é que me apaixonei a sério pela Karen O.




Yeah Yeah Yeahs | Zero






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terça-feira, 23 de março de 2010



being idle #2


Há na Língua Portuguesa uma falha que é urgente resolver: a falta, no nosso dicionário, do verbo esplanar. Esplanar seria o verbo que viria oficializar o acto de ficar numa esplanada durante tempo indefinido, a saborear o tempo ocioso, o não fazer nada, o não ter nada para fazer senão estar ali, a saborear o estar ali. Seria um equivalente da já reconhecida flâneurie (para quem gosta de passear e deambular pelas ruas da cidade), mas em versão imóvel, para melhor enfantizar o seu carácter ocioso.

É uma das coisas que mais gosto de fazer, desde que entrei no mundo horroroso da gente crescida, subjugada ao trabalho. Ficar sentada numa esplanada a manhã inteira nos primeiros diras de primavera com sol. A ler ou a saborear um pequeno-almoço substancial, onde a presença de um croissant não pode faltar. A boa companhia, não sendo absolutamente imprescindível, é contudo factor condicionante do grau de satisfação proprocionado pela fruição do momento. Há quem diga que a leitura é um acto solitário, há quem diga que os silêncios são incómodos. Pois eu acho que há poucas coisas tão sedutoramente cúmplices como ler em conjunto com alguém de quem se gosta, sabendo que ainda que cada um vagueie imerso nos seus próprios pensamentos, uma mesma corrente de afecto os une, sem os perturbar.

Automaticamente, o corpo reage e a memória afectiva entra em acção: o cérebro faz-nos avançar no tempo, remete-nos de imediato para o verão, com o sol escaldante, em que estaremos numa outra esplanada a ler ou a saborear uma bebida fresca, desta vez com a praia ao fundo. Os cheiros da cidade cinzenta subitamente assemelham-se ao cheiro do mar e do peixe grelhado que se prepara à hora do almoço, o ruído dos carros converte-se no barulho das ondas. Imediatamente, aos primeiros dias de sol, só porque nos sentamos numa esplanada a saborear o dolce fare niente, imaginamo-nos a mergulhar na água salgada e a nadar descontraídamente, saboreando um dos prazeres mias naturais e antigos. Eu tenho uma velha teoria de que é ao primeiro banho de mar do ano que lavamos a alma de todas as impurezas depressivas acumuladas ao longo do inverno, e é nesse mergulho demorado que restabelecemos a nossa ligação à terra, às nossas origens, num acto com o seu quê de místico, é certo, mas no qual o que é verdadeiramente importante é o bem-estar final, no regresso a casa. Não há nada melhor do que a antecipação do verão, quando temos a certeza de que ele há-de chegar.





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being idle #1


Se fosse enunciar alguns dos meus prazeres ociosos, a coisa passaria mais ou menos por escrever; comer cerejas durante todo o dia, sob todos os pretextos, como se não houvesse amanhã; cozinhar só para mim, quando não há mais ninguém por perto, requintadas refeições, como cogumelos Portobello recheados e gratinados no forno com folhadinhos de requeijão com espinafres e azeitonas; folhear livros de receitas apetitosas, com fotografias de fazer crescer água na boca, imaginando quão saborosas serão, mas que muito provavelmente nunca irei experimentar; ter um gato ao colo, afundando as mãos na sua barriga fofinha e felpuda, enquanto o seu ronronar me acalma e embala; passear em livrarias, escrutinando todas as estantes e todas as preciosidades, como se tivesse todo o tempo do mundo, mesmo que não tenha no fim de contas dinheiro para comprar nada; ficar deitada na areia da praia, de olhos fechados, sentindo um crescente rejúbilo enquanto o sol me aquece a pele, ouvindo ao longe os gritos das crianças a brincar, enquanto o cheiro do protector solar se mistura com o odor da maresia.

Este é um dos meus prazeres mais antigos. Situa-se bem enrarizado nas memórias afectivas da infância e transporta-me para os longos verões que passava na praia com os meus primos (que eram os meus irmãos, no final de contas), onde o ponto de encontro era sempre debaixo da bola gigante da Nivea (ainda hoje não sei, sendo a praia tão vasta, como é que toda a gente marcava encontro debaixo da bola da Nivea, e toda a gente se encontrava), onde fazíamos das toalhas turbantes e véus, e onde me lembro, desde sempre, de aprender aquilo que reencontrei continuamente nos poemas de Sophia de Mello Breyner, anos mais tarde: mergulhar, nadar, brincar nas rochas, sabendo que é com o sal do mar que se sacode a poeira do desencontro e se parte em busca da límpida medida.





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os prazeres do ócio






Li O Livro dos Prazeres Inúteis [Quetzal, 2010]. Agradou-me, como me agradaria qualquer - ainda que subtil - manifesto hedonista. Parece-me louvável a enumeração dos deleites possíveis, não vá a memória tecê-las. Reencontrei nele algumas das minhas coisas favoritas de sempre: a praia, a varanda, a rede de descanso, o acto de cabriolar, a procrastinação, o escárnio, o olhar pela janela, a fruição da melancolia, a revolução do roupão... A questão fundamental é que os prazeres ociosos são incontáveis, provavelmente infinitos. O que é mais sublime no meio disto tudo é que o movimento da imaginação, posto em marcha pela sugestão proprocionada pela leitura, incita à enunciação mental de tantos outros actos livres e ociosos dignos de registo - e isso constitui em si mesmo um prazer inútil. É pena que o livro não tenha sido escrito por um poeta. Falta-lhe na generalidade requinte linguístico, sensibilidade poética, para que as palavras digam exactamente aquilo que querem dizer, e mais ainda, de modo a que a descrição de uma gruta nos coloque dentro da gruta, sentindo a sua frescura e ouvindo o marulhar da água, vendo os seus reflexos na pedra.

Sou efectivamente pessoa sugestionável, e sensível à matéria sensorial das palavras. Lembro-me sempre de quão impressionante foi para mim a primeira leitura do texto de Sophia de Mello Breyner sobre uma maçã vermelha pousada em cima de uma mesa junto a uma janela, para lá da qual o mar impunha a sua magnífica presença. Essa imagem cravou-se na minha memória, tão nítida e vívida como um quadro, e nunca mais a pude esquecer. Nunca mais abandonei aquele quarto em que Sophia encontrou a maçã, e aquela maçã nunca até hoje perdeu a sua cor vermelha brilhante, nem me pareceu menos doce ou sumarenta. Quase consigo sentir o seu sabor na minha memória, e quase consigo descrever com exactidão o azul daquele mar. Era essa a força que eu esperava dos textos deste pequeno livro. Delicioso, mas perecível. Louvável apenas porque incita à imaginação.





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gosto


da luz que entra pelas minhas janelas enormes quando está sol.
dos livros arrumados nas estantes, por editora, podendo passar-lhes a mão pelas lombadas intuindo uma imperceptível homogeneidade.
da casa vazia quando entro, como se de braços abertos, à minha espera.
de adormecer na sala, ainda vestida, afundada no sofá a ver televisão.
de dozinhar se me apetecer, às horas que me apetecer, aquilo que me apetecer.
de deixar a loiça por lavar dias a fio, tirar os sapatos onde me apetecer e deixá-los ficar, não guardar o pijama mas largá-lo pousado na casa-de-banho, e outras rebeliões afins contra o excesso de organização.


gosto da minha casa e do seu silêncio, quando existe. só não gosto mesmo é dos vizinhos.





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sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010



segunda alma gémea
(ou a sublime arte de fazer beicinho)



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domingo, 24 de janeiro de 2010



where the wild things are





quase não tenho palavras para explicar a adoração que sinto pela pequenina história de Maurice Sendak, que se transformou já no meu filme do ano (se calhar por alguns anos). há poucas coisas tão dolorosas como o dedo sobre a ferida da infância, e qualquer pessoa que já tenha consultado o psicanalista deve sabê-lo.
e como ter um dedo que carrega lenta mas insistentemente sobre um lugar que dói não mata, mas mói, saí do cinema incapaz de falar, lavada em lágrimas. os monstros - que não são monstros, mas uma coisa bem diferente, wild things, que se perdeu na tradução - olham-nos secretamente como memórias de algo remoto, que conhecemos bem. são ferozes, mas fofinhos, agressivos, mas amorosos. têm tantos conflitos interiores que são até demasiado humanos. uma coisa excepcional, que me deixou reduzida a um silêncio cuja natureza não é possível descrever.
a comoção surgiu como numa erupção, com a força de uma torrente de lava, sem explicação. a empatia gerada por um Carol rufião, que tem algo de Tony Soprano, desconcertou-me. literalmente. preciso de qualquer coisa que me concerte outra vez. porque não parece de bom tom andar por aí a chorar, tendo que trabalhar e fazer coisas de gente grande e ter que responder, se me perguntam, que "foi uma coisa selvagem de uma história que me fez lembrar das dores de crescimento".





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sexta-feira, 15 de janeiro de 2010



toda a gente procura um lugar onde pousar a cabeça




© Harold's Planet




e já se sabe que uma cabeça só pousa perfeitamente no lugar preparado para a acolher, num pequeno vazio expectante, naquela concavidade terna que é o espaço entre a curva de um pescoço e um ombro, morno, macio, com o cheiro exacto que deve ter, e uma dor fina e subtil se lhe falta a cabeça que nele pouse e que o torne cheio. a história antiquíssima do amor como a cosmogonia clássica o entendia, e que procuramos avidamente todos os dias que desperte nos nossos amores terrenos, assim mais ou menos como na história dos Burros da Orfeu Negro:




da colecção Orfeu Mini






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spot player special




"us people are just poems"
[ani difranco]


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calamity.spot[at]gmail.com



~*. through the looking glass .*~




little black spot | portfolio
Baucis & Philemon | tea for two
os dias do minotauro | against demons
menina tangerina | citrus reticulata deliciosa
the woman who could not live with her faulty heart | work in progress
pale blue dot | sala de exposições
o rosto de deus | fairy tales








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~*. rearview mirror .*~


maio 2003 . junho 2003 . julho 2003 . agosto 2003 . setembro 2003 . outubro 2003 . novembro 2003 . dezembro 2003 . janeiro 2004 . fevereiro 2004 . março 2004 . abril 2004 . maio 2004 . junho 2004 . julho 2004 . agosto 2004 . setembro 2004 . outubro 2004 . novembro 2004 . dezembro 2004 . janeiro 2005 . fevereiro 2005 . março 2005 . abril 2005 . maio 2005 . junho 2005 . julho 2005 . agosto 2005 . setembro 2005 . outubro 2005 . novembro 2005 . dezembro 2005 . janeiro 2006 . fevereiro 2006 . março 2006 . abril 2006 . maio 2006 . junho 2006 . julho 2006 . agosto 2006 . setembro 2006 . outubro 2006 . novembro 2006 . dezembro 2006 . janeiro 2007 . fevereiro 2007 . março 2007 . abril 2007 . maio 2007 . junho 2007 . julho 2007 . agosto 2007 . setembro 2007 . outubro 2007 . novembro 2007 . dezembro 2007 . janeiro 2008 . fevereiro 2008 . março 2008 . abril 2008 . maio 2008 . junho 2008 . julho 2008 . agosto 2008 . setembro 2008 . outubro 2008 . novembro 2008 . dezembro 2008 . janeiro 2009 . fevereiro 2009 . março 2009 . abril 2009 . maio 2009 . junho 2009 . julho 2009 . agosto 2009 . setembro 2009 . outubro 2009 . novembro 2009 . dezembro 2009 . janeiro 2010 . fevereiro 2010 . março 2010 . maio 2010 . junho 2010 . julho 2010 . agosto 2010 . outubro 2010 . novembro 2010 . dezembro 2010 . janeiro 2011 . fevereiro 2011 . março 2011 . abril 2011 . maio 2011 . junho 2011 . julho 2011 . agosto 2011 . setembro 2011 . outubro 2011 . janeiro 2012 . fevereiro 2012 . março 2012 . abril 2012 . maio 2012 . junho 2012 . setembro 2012 . novembro 2012 . dezembro 2012 . janeiro 2013 . janeiro 2014 . julho 2015 .


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~*. spying glass .*~


a balada do café triste . ágrafo . albergue dos danados . almanaque de ironias menores . a natureza do mal . animais domésticos . antologia do esquecimento . arquivo fantasma . a rute é estranha . as aranhas . as formigas . as pequenas estruturas do ócio . atelier de domesticação de demónios . atum bisnaga . auto-retrato . avatares de um desejo . baggio geodésico . bananafish . bibliotecário de Babel . bloodbeats . caixa-de-lata . casa de cacela . chafarica iconoclasta . coisa ruim . com a luz acesa . comboio de fantasmas . complicadíssima teia . corpo em excesso de velocidade . daily make-up . detective cantor . dias com árvores . dias felizes . e deus criou a mulher . e.g., i.e. . ein moment bitte . em busca da límpida medida . em escuta . estado civil . glooka . i kant, kant you? . imitation of life . isto é o que hoje é . last breath . livros são papéis pintados com tinta . loose lips sink ships . manuel falcão malzbender . mastiga e deita fora . meditação na pastelaria . menina limão . moro aqui . mundo imaginado . não tenho vida para isto . no meu vaso . no vazio da onda . o amor é um cão do inferno . o leitor sem qualidades . o assobio das árvores . paperback cell . pátio alfacinha . o polvo . o regabofe . o rosto de deus . o silêncio dos livros . os cavaleiros camponeses no ano mil no lago de paladru . os amigos de alex . Paris vs. New York . passeio alegre . pathos na polis . postcard blues . post secret . provas de contacto . respirar o mesmo ar . senhor palomar . she hangs brightly . some variations . tarte de rabanete . tempo dual . there is only 1 alice . tratado de metatísica . triciclo feliz . uma por rolo . um blog sobre kleist . vazio bonito . viajador


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~*. the bell jar .*~



os lugares comuns: against demons . all work and no play . compêndio de vocações inúteis  .  current mood . filosofia e metafísica quotidiana . fruta esquisita menina aflita . inventário crescente de palavras mais-que-perfeitas . miles to go before I sleep . música no coração  .  música para o dia de hoje . o ponto de vista dos demónios . planos para dominar o mundo . this magic moment  .  you came on like a punch in the heart . you must believe in spring


egosfera: a infância . a minha vida dava um post . afirmações identitárias . a troubled cure for a troubled mind . april was the cruellest month . aquele canto escuro que tudo sabe . as coisas que me passam pela cabeça . fruto saturnino (conhecimento do inferno) . gotham style . mafarricar por aí . Mafia . morto amado nunca mais pára de morrer . o exílio e o reino . os diálogos imaginários . os infernos almofadados . RE: de mail . sina de mulher de bandido . the woman who could not live with her faulty heart . um lugar onde pousar a cabeça   .  correio sentimental


scriptorium: (des)considerações sobre arte . a noite . and death shall have no dominion . angularidades . bicho escala-estantes . do frio . do medo . escrever . exercícios . exercícios de anatomia . exercícios de respiração . exercícios de sobrevivência . Ítaca . lunário . mediterrânica . minimal . parágrafos mínimos . poemas . poemas mínimos . substâncias . teses, tratados e outras elocubrações quase científicas  .  um rumor no arvoredo


grandes amores: a thing of beauty is a joy forever . grandes amores . abraços . Afta . árvores . cat powa . colectânea de explicações avulsas da língua portuguesa  .  declaração de amor a um objecto . declaração de amor a uma cidade . desolação magnífica . divas e heróis . down the rabbit hole . drogas duras . drogas leves . esqueletos no armário . filmes . fotografia . geometrias . heart of darkness . ilustraçãoinício . matéria solar . mitologias . o mar . os livros . pintura . poesia . sol nascente . space is the place . the creatures inside my head . Twin Peaks . us people are just poems . verão  .  you're the night, Lilah


do quotidiano: achados imperdíveis . acidentes quotidianos e outros desastres . blogspotting . carpe diem . celebrações . declarações de emergência . diz que é uma espécie de portfolio . férias  .  greves, renúncias e outras rebeliões . isto anda tudo ligado . livro de reclamações . moleskine de viagem . níveis mínimos de suporte de vida . o existencialismo é um humanismo . só estão bem a fazer pouco


nomes: Aimee Mann . Al Berto . Albert Camus . Ana Teresa Pereira  . Bauhaus . Bismarck . Björk . Bond, James Bond . Camille Claudel . Carlos de Oliveira . Corto Maltese . Edvard Munch . Enki Bilal . Fight Club . Fiona Apple . Garfield . Giacometti . Indiana Jones . Jeff Buckley  .  Kavafis . Klimt . Kurt Halsey . Louise Bourgeois . Malcolm Lowry . Manuel de Freitas . Margaret Atwood . Marguerite Duras . Max Payne . Mia Couto . Monty Python . Nick Drake . Patrick Wolf  .  Sophia de Mello Breyner Andresen . Sylvia Plath . Tarantino . The National . Tim Burton


os outros: a natureza do mal . amigos . dedicatórias . em busca da límpida medida . retalhos e recortes



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...it's full of stars...


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