domingo, 5 de junho de 2011



O terrível desgosto de viver num país de pessoas estúpidas


Os dias de reflexão são uma farsa indesculpável, e ainda mais quando não há, claramente, massa crítica na população que suponha, sequer, predisposição (senão mesmo capacidade) para reflectir.

Primeiro desgosto: com abstenção acima dos 40%, sinto vergonha de respirar o mesmo ar que os gnus que habitam este país.

Segundo desgosto: com uma abécula como Presidente da República e agora, ao que parece, um banana com o Primeiro-ministro, o desgosto é maior do que a minha dignidade de cidadã consegue aguentar.





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posted by saturnine | 20:11 | 5 Comentários


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segunda-feira, 23 de maio de 2011



Meter a cabeça na areia


Hoje e amanhã, pelo bem da minha própria auto-preservação, faço uma pausa de realidade. Nem é só esta história de não haver solução para a crise e de só me apetecer chorar quando penso nas eleições. Hoje amanhã farei de conta que nada se passa. E se me importunarem direi apenas: "The National? Céus, não faço ideia do que estás a falar."





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posted by saturnine | 11:23 | 1 Comentários


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segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011



Manifesto




© little black spot, para umaCena




Estou à espera do dia em que o trabalho será proibido.




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posted by saturnine | 19:42 | 0 Comentários


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quinta-feira, 11 de março de 2010



literatura e olharapos


tenho que confessar que gostei de ter lido Agustina Bessa-Luísa na adolescência. de qualquer maneira teve que ser, A Sibila era leitura obrigatória no secundário, e eu não sou de me ficar pelos Apontamentos da Europa-América. daqui divergem duas ideias fundamentais:


a primeira é que a obrigação é de somenos importância, uma vez que li, por vontade própria, no mesmo fôlego, o Memorial do Convento de Saramago e a Aparição de Vergílio Ferreira, que também podiam ter sido leituras obrigatórias mas acabaram por não o ser. a questão é que eu gostava de ler e não confiava nada em saber das coisas em segunda mão. queria viver a experiência na primeira pessoa.

a segunda é que o facto de ter lido A Sibila - um livro absurdamente chato e pretensioso, que parece começar e terminar sempre com o mesmo pathos morno, contido, conseguindo na melhor das hipóteses, em alguns momentos, uma vaga aproximação à catarse, mas sem jamais a concretizar - me permitiu arrumar logo ali, sem contemplações, o assunto Agustina Bessa-Luís. não teria, contudo, sido a mesma coisa, se nunca a tivesse lido e tivesse decidido que é chata, e fugido dela a sete pés. é que apesar de tudo a coisa é extremamente rica em termos literários. em suma, a coisa resultou em boa matéria de estudo e num 19 à disciplina de Português para mim. ainda hoje acho que, mais do que justa, foi uma nota empática, porque fui de certeza absoluta a única pessoa na turma (pequenina) que leu o bicho do princípio ao fim e não teve pejo em concluir "professor, este livro não tinha uma 'parte interessante'!", apenas para ouvir "sabe, achei exactamente o mesmo!"

em suma, não se pode negar que a criatura sabe escrever e sabe construir uma história com substância. só que a pompa oprime-me os nervos, e a escrita pela escrita vale pouco se é um mero exercício de excelência em recursos de estilo, e se deixa de fora a poesia - que também é coisa para mexer com os nervos, mas noutro sentido completamente diferente, e já não me apetece falar mais do assunto.





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posted by saturnine | 11:39 | 0 Comentários


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sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010



no fundo, chamaram-lhe provinciano


há quase um ano a New Yorker online publicou um artigo extenso sobre António Lobo Antunes que, por motivos vários (um dos quais sendo a minha inabilidade para lidar com o Google Reader então), me passou despercebido até hoje. não resisto a fazer uns quantos sublinhados, a propósito de um retrato bem apanhado, que tem laivos de caricatura, e por isso não pode deixar de me fazer sorrir:




«Internationally, Lobo Antunes is overshadowed by his older colleague José Saramago, who won the Nobel Prize in 1998. At home, the two writers, like rival political parties or sports teams, have noisy partisans, and those who cheer for Lobo Antunes claim that the wrong man won the Nobel. Lobo Antunes himself apparently agrees: when the Times called for a comment on Saramago’s victory he grumbled that the phone was out of order and abruptly hung up.

Their cramped country may not be big enough for both men, but from a distance the internecine feud hardly matters. Good novelists are unique, which makes them incomparable. Saramago is a benign magus whose fictions smilingly suspend reality; Lobo Antunes is more like an exorcist, frantically battling to cast out evil and to heal the body politic. Saramago’s secular parables, set mostly in unnamed or imaginary countries, easily float off into universality. Lobo Antunes remains obsessively local, worrying over the inherited ailments of Portuguese history and the debilities of its culture.

A novel always reveals to us the world inside someone else’s head. In the case of Lobo Antunes, that world is the size of a country
— small and marginal, perhaps, but teeming with villainy and vice, and as crammed with wounds and festering sores as an overcrowded hospital ward.?


> ler o artigo completo aqui




tenho pena de nunca ter conseguido terminar o único romance de Lobo Antunes em que peguei, ainda na adolescência. o problema foi exactamente esse, suspeito. voltei a tentar ao longo dos anos seguintes, mas o resultado foi sempre o mesmo: A Ordem Natural das Coisas nunca passou do meio até ser arrumado de vez. nesse, sei-o de certeza absoluta, nunca mais voltarei a pegar. e também sei que o esforço minou o desejo e que, por isso mesmo, dificilmente irei ainda a tempo, entrada a idade balzaquiana, de me apetecer experimentar o Lobo Antunes só para saber como é, para além do aborrecimento que foi em tempos. por isso é que tenho pena. porque tenho na estante à espera um Que Farei Quando Tudo Arde, que eu queria mesmo muito ter lido porque este título ilustra um período da minha vida e porque gosto mesmo muito do Sá de Miranda e porque aquele verso é dos melhores que há, do mesmo calibre de um do not go gentle into that good night, que por acaso o Lobo Antunes também soube aproveitar para um título. o que receio e, admito, me mantém na segurança da ignorância, ou seja, sem disposição para perder tempo, advém disso mesmo: naquilo que ele é muito bom é na escolha dos títulos; se eu pudesse ler por osmose, só por segurar um livro nas mãos, leria certamente quase todos os do Lobo Antunes, só porque os títulos são muito bons. o que acontece é que são quase sempre roubados de outros autores. então, suspeitando que o melhor de Lobo Antunes são os poemas que ele leu, acho que para já prefiro cingir-me ao Sá de Miranda e ao Dylan Thomas.


nota à margem: na mesma altura em que tentei ler A Ordem Natural das Coisas li, de uma ponta à outra, com entusiasmo e paixão, o Memorial do Convento do Saramago cujos contornos, passados tantos anos, começam a esbater-se na minha memória, a pedir releitura, mas não sem se manter intuitivamente no círculo mais ou menos alargado dos meus livros predilectos.





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posted by saturnine | 12:33 | 7 Comentários


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segunda-feira, 26 de outubro de 2009



current mood:


na minha rua quase nunca há estacionamento. fico de mau humor quando tenho que ir deixar a viatura ao cu de Judas, com chuva, tralhas para carregar, a lei de Murphy toda compostinha. o mínimo que se pode desejar é um pouco de sossego ao bater com a porta de casa, trancando o mundo ignóbil do lado de fora. mas não. a puta da vizinha de cima tem hora marcada para ouvir televisão aos berros, ou falar ao telemóvel aos berros, ou discutir com o marido aos berros, e é sempre de preferência a partir das onze da noite. os meus nervos não foram feitos para estas coisas. nunca foi grande surpresa gostar mais dos meus livros e dos meus gatos do que da maioria das pessoas, por isso, sim:




© 9000
descoberto via menina limão.






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terça-feira, 9 de junho de 2009



inversão


inevitavelmente, concluo: a partir de agora já não preciso de dizer Vou-me embora pra Pasárgada. substituirei o protesto por Vamos embora prà Patagónia!





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domingo, 17 de maio de 2009



planos para dominar o mundo #6


uma vez chegada à estação Albert Cossery, e encontrada a expressão literária máxima da mandriice, a máquina da revolta põe-se em marcha em progressão lenta, mas ininterrupta. a semente do protesto mina, no âmago de um indivíduo, a possibilidade de um espírito concordante. que é como quem diz, entra-se numa espécie de current mood em que só apetece reclamar, protestar, reivindicar. vá, é uma disposição um bocado socialista. ao Manifesto Contra o Trabalho acrescento mais dois para o rol de planos emergentes:

Aviso aos Alunos do Básico e Secundário | Raoul Vaneigem
Escuta, Zé Ninguém | Wilhelm Reich



contra os poderes instituídos, marchar marchar!





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terça-feira, 5 de maio de 2009



all work and no play...


é preciso levar muito a sério esta coisa dos malefícios do trabalho. eis-me finalmente chegada à estação Albert Cossery, para descobrir que num determinado vale fértil há um certo grupo de mandriões que suspeitam - horrorizados - que há por esse mundo fora - que despautério! - gente que trabalha. no Fahrenheit 451 tinham uma certa razão, a leitura é actividade extremamente perigosa. as sementes que planta no cérebro de um indivíduo, sabe-se lá por onde estenderão as suas raízes. crescem, crescem, testando os limites do corpo. até que ponto pode crescer, inflamar-se e alimentar-se um desejo de anarquia, sem que a pele ceda e a carne estale? como ser convictamente revolucionário, mantendo exteriormente a firme aparência de concordância com O Sistema? eu cá não sei. bem preferia era fugir de uma vez por todas para Pasárgada. enquanto isso, entretenho-me com o Manifesto Contra o Trabalho.








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segunda-feira, 13 de abril de 2009



current mood:


A fome, o desamor, o desabrigo,
nenhum mal é comparável à miséria
dum emprego
, com as horas escoltadas
por minutos, os minutos como lápis
afiados, rasurando dia a dia
o animoso galarim das faculdades.

A questão, uma vez mais, é recusar,
desde logo, a protecção dos que traficam
com a liberdade alheia, o conforto
de servir os mediáticos negreiros,
cuja sorte se cimenta no apelo
que dirigem ao pior de cada um.

Pois aquilo a que chamais liberdade
(a coleira do consumo para muitos,
para poucos a gestão do entreposto)
não é mais do que extorsão e propaganda,
centenária manobra de fidalgos
educados no prazer da injustiça.

José Mário Silva/Manuel de Freitas
Walkmen





...





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segunda-feira, 20 de outubro de 2008



da misantropia


declaração fundamental para hoje: odeio pessoas.





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posted by saturnine | 20:31 | 3 Comentários


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quinta-feira, 21 de agosto de 2008



fruta esquisita, menina aflita


sou, segundo dizem, a rapariga menos romântica que existe. tem no fundo uma explicação muito simples: é que eu acho que o amor é um assunto demasiado sério para arruiná-lo com a estucha do romance. mas não me interpretem mal: eu sou capaz de me comover. até choro baba e ranho com qualquer episódio da Anatomia de Grey e quando bato no fundo gosto de personificar cenas (solitárias) ridículas ao jeito de uma Bridget Jones. mas aí é que está o problema. esse tipo de comoção esgota-se-me na ficcção. ficcionalmente, a ideia de viver um amor arrebatador com um final feliz, é-me muito apelativa. mas não suporto gente demasiado próxima, demasiado necessitada, que faz sempre grandes demonstrações de elaborado afecto. é postiço e - convenhamos - aborrecido. na vida real, não funciona. sou um bicho-do-mato acossado, pouco disponível para as lides de uma socialização excessiva. se precisam de uma imagem, eu sou a casa onde há o aviso 'CUIDADO COM O CÃO'. depois, claro, há a memória de Ossanha Traidor e a frase de Rilke:

"Todas as coisas assustadoras não são mais, talvez, do que coisas indefesas que esperam que as socorramos."



estou à espera de um bandido que me salve.






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terça-feira, 19 de agosto de 2008



já dizia o outro: all work and no play makes Jack a dull boy


«Discipline is the distinctively diabolical modern mode of control, it is an innovative intrusion which must be interdicted at the earliest opportunity.
Such is "work." Play is just the opposite.»











eu e o Samuel andámos (além de ler umas coisas esquisitas na net) a ter umas conversas sobre os malefícios do trabalho. a investigação para a fundamentação científica é toda dele. eu só me ofereci para estudo de caso: eu sou nitidamente muito infeliz por causa do trabalho. não é uma questão de não gostar do que faço (gosto), é só não gostar de fazê-lo durante tanto tempo, quando há outras tantas coisas infinitamente mais importantes à minha espera. os livros, os passeios, as tardes de ócio absoluto, o cinema, até - caraças - os amores e as paixões. o meu problema é de raiz: eu não encaixo neste sistema (para mim era a abolição do trabalho, claro), mas não há muito como escapar-lhe. é a guerrilha ou a fuga para Pasárgada. como eu me vejo mais depressa de margarita do que de kalashnikov na mão (e estou certa que o Samuel também), algo me diz que o nosso escape passa mais pela fuga hedonista. bora para Pasárgada!













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sábado, 5 de julho de 2008



recusa, renúncia, desobediência, o prazer dos vícios secretos


não mais direi que ninguém me compreende. o George Steiner compreende-me. e o Michel Crépu, por arrasto, também. li de um só fôlego "O Silêncio dos Livros" seguido de "Esse Vício ainda impune". considerações filosóficas e/ou sociológicas à parte, sublinho isto: o silêncio dos livros como renúncia secreta, fuga para o interior, um vício (prazer?) por enquanto socialmente impune. eu preciso da fuga e do silêncio. preciso de fugir da gente, de não fazer conversa de chacha, de não conversar sobre o tempo, de não ouvir histórias que não me interessam, de não perder tempo com convívio que nada me diz, em suma, de não ter que ser arrancada à força do silêncio são em que me encontro emersa para ouvir o burburinho ruidoso das insignificâncias que passam (toda a gente é o besouro insolente do Kundera). foda-se, um pouco de misantropia, por favor. que é como quem diz: se estou a ler, caralhos vos fodam, deixem-me em paz, que suspendi o mundo em meu redor.

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posted by saturnine | 21:49 | 6 Comentários


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segunda-feira, 24 de março de 2008



Ora portanto, isto também é um belo manifesto






sim, so need your love, so fuck you all é uma frase do Robbie Williams. e é brilhante. e é de uma canção deliciosamente irónica. e eu que veja aqui alguém a contrariar-me.





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sábado, 16 de fevereiro de 2008



o destilar do veneno (ou um exercício de arrogância primordial)


o Homem é de facto o único grande mal da Humanidade. criatura que não presta. resumindo, as pessoas são más. brutas, selvagens como animais. estúpidas como bestas. bestas estúpidas. refugiam-se na breve ilusão de um dom de vertebralidade, mas que não se enganem: não há futuro para a alquimia, quando tudo o que tocam se transforma em merda, nunca em ouro.
o bicho escala-estantes vive atormentado entre as pessoas. deslocado, estrangeiro, desadaptado. a sua pele não é feita à medida da ignomínia. doem-lhe os dedos em ferida. sangram, porque os livros não perdoam os maus tratos. mudos e quedos, ruminam silenciosos uma vingança, e ripostam. tombam, mordem, agridem, arranham. debatem-se, furiosos, contra a destruição. em seu redor, a maldade geral das pessoas. o crime da ignorância. as pessoas, que destroem tudo em que tocam. movem-se como gigantescas implacáveis máquinas debulhadoras, avançando sem contemplações como se não houvesse amanhã num mundo que fosse como uma Zara em época de saldos.
ignoram a vida secreta dos livros e a profundeza das feridas da desconsideração. movem-se como forças defeituosas da natureza, cegas, imparáveis, deixando atrás de si cenários de guerra. os estilhaços cobrem as costas do bicho escala-estantes, cujo ofício é viver escavando no meio dos escombros. não há tempo para revisitar os velhos poemas, e os lugares encantados da literatura, o António Gancho e o seu ar da manhã, ou o Faulkner e do seu som e a fúria, por que ninguém pergunta. o bicho escala-estantes sente o coração insuflado porque conhece um qualquer livro especial numa estante em particular, sempre à espera que lhe perguntem por ele, porque dele saberá dizer "sim, ainda bem que me pergunta, porque ele tem estado aqui à espera que perguntem por ele". mas nunca ninguém pergunta.
as pessoas são animais brutos e feios. gostam do lixo bruto e feio à sua semelhança. o bicho escala-estantes sofre, atormentado, o insulto da estupidez. o crime da ignorância. nunca conheci um leitor amante de Nicholas Sparks que soubesse pronunciar correctamente o filha-da-puta do raio do nome do gajo. puta que os pariu. se não sabem ler, porque lêem? ah, imbecil ignorante vil criatura! recolhe a esse canto obscuro sob a pedra debaixo da qual saíste e não me aborreças. eu tenho estantes para escalar, mundos para conhecer, livros para cuidar, vidas inteiras para viver, ainda antes de o dia findar. não tenho mãos para ti, que te apertem o pescoço quando abres a boca para falar. oh, tivesse eu mãos que te suprimissem o fluxo verborreico, ou - porque não? - a própria respiração...! o meu coração ao pé da boca e os meus dedos em ferida anseiam pelo silêncio de um quarto com alguma luz, alguma música, e a companhia dos livros. dito em tempos, há um hábito de sanidade na misantropia.





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terça-feira, 16 de outubro de 2007



The moment history is made


não consigo concentrar-me para ouvir o novo disco dos Radiohead no meio de tanta histeria. hei-de esperar que a turba acalme e ouço-o depois, sem ruído de fundo. enquanto isso, porque o coração não sossega, e porque também a mim coisas muito feias me ofendem, entretenho-me a imaginar a minha própria embalagem para o produto que hei-de adquirir em formato digital, por download legal.








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sábado, 6 de outubro de 2007



Too much heaven on their minds



Jesus Christ Superstar | Tim Rice + Andrew Lloyd Webber



esta semana, o dever familiar obrigou-me a acompanhar uma criança de 8 anos ao Rivoli para ver o infame Jesus Cristo Superstar do La Féria. confesso que cheguei a pensar que poderia não ser muito mau, após a entrada de um Judas cheio de groove, que não fica a dever assim tanto ao Carl Anderson. mas depois entrou em cena o JC.* ao fim de 5 minutos a vê-lo e ouvi-lo, contorcendo-me na cadeira em franco sofrimento, dei por mim a pensar que o inferno é de facto um lugar na terra.
acreditem que vale a pena ver, só pelo facto de ser tão difícil descrever o quão mau é. e acreditem também que isto me dói fundo nas entranhas, porque eu nasci numa família de groupies do Jesus Christ Superstar original e toda a minha vida amei de coração aberto este musical. um JC mais fraquinho no contexto do elenco de 1973 ainda assim é muito melhor do que este que La Féria escolheu para assumir o papel. e é uma pena, nota-se que o rapaz tem uma capacidade vocal extraordinária, certamente rara, capaz de arrepiar os pelinhos dos braços ora em tons baixos, gravíssimos, ora em tons agudos, vibrantíssimos. o problema é tudo o que ele faz pelo meio: as subidas e descidas vertiginosas, qual sirene de ambulância, armado em Celine Dion, os esgares excessivamente dramáticos e artificiais, que ficariam mal à própria Dama das Camélias, os trejeitos (vocais e faciais) excessivos que faziam acreditar que a qualquer momento irromperia de dentro dele a Dulce Pontes a cantar a "Canção do Mar", o excesso emotivo nos agradecimentos a la Amália Rodrigues, tudo me faz acreditar que no fundo este rapaz nasceu para ser uma diva. só que teve o azar de lhe darem o papel errado.

no meio disto tudo, eis o que torna o sacríficio verdadeiramente merecido: a criança de 8 anos, prestes a celebrar a sua primeira comunhão, depois do espectáculo deixa escapar o seguinte comentário: "isto deixou-me a pensar que não sei se quero voltar à igreja". gotta love it!



* um deles, uma vez que o papel é alternadamente assumido por dois actores diferentes.





esta seria a música que eu cantaria, se um dia me apanhassem num karaoke:







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domingo, 23 de setembro de 2007



Por outras palavras


enquanto a maioria da juventude anda a delirar com as novidades dos Yeah Yeah Yeahs, eu ando em busca das velharias do Burt Bacharach.


vá, o máximo que concedo é ir espreitar o que anda a fazer o Neil Hannon *inserir corações aqui* com os seus Divine Comedy. que por acaso - só mesmo por acaso - até têm versões de músicas do Burt Bacharach.



A Short Album About Love é um excelente pequeno álbum sobre o amor. o melhor.

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quinta-feira, 1 de março de 2007



Do lirismo exacerbado


são demasiadas frases, demasiadas vozes, demasiados versos, demasiados retratos, demasiado reconhecimento. em toda a parte, em todo o mundo, em cada gesto, o corpo todo me excede e dói.



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spot player special




"us people are just poems"
[ani difranco]


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calamity.spot[at]gmail.com



~*. through the looking glass .*~




little black spot | portfolio
Baucis & Philemon | tea for two
os dias do minotauro | against demons
menina tangerina | citrus reticulata deliciosa
the woman who could not live with her faulty heart | work in progress
pale blue dot | sala de exposições
o rosto de deus | fairy tales








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~*. rearview mirror .*~


maio 2003 . junho 2003 . julho 2003 . agosto 2003 . setembro 2003 . outubro 2003 . novembro 2003 . dezembro 2003 . janeiro 2004 . fevereiro 2004 . março 2004 . abril 2004 . maio 2004 . junho 2004 . julho 2004 . agosto 2004 . setembro 2004 . outubro 2004 . novembro 2004 . dezembro 2004 . janeiro 2005 . fevereiro 2005 . março 2005 . abril 2005 . maio 2005 . junho 2005 . julho 2005 . agosto 2005 . setembro 2005 . outubro 2005 . novembro 2005 . dezembro 2005 . janeiro 2006 . fevereiro 2006 . março 2006 . abril 2006 . maio 2006 . junho 2006 . julho 2006 . agosto 2006 . setembro 2006 . outubro 2006 . novembro 2006 . dezembro 2006 . janeiro 2007 . fevereiro 2007 . março 2007 . abril 2007 . maio 2007 . junho 2007 . julho 2007 . agosto 2007 . setembro 2007 . outubro 2007 . novembro 2007 . dezembro 2007 . janeiro 2008 . fevereiro 2008 . março 2008 . abril 2008 . maio 2008 . junho 2008 . julho 2008 . agosto 2008 . setembro 2008 . outubro 2008 . novembro 2008 . dezembro 2008 . janeiro 2009 . fevereiro 2009 . março 2009 . abril 2009 . maio 2009 . junho 2009 . julho 2009 . agosto 2009 . setembro 2009 . outubro 2009 . novembro 2009 . dezembro 2009 . janeiro 2010 . fevereiro 2010 . março 2010 . maio 2010 . junho 2010 . julho 2010 . agosto 2010 . outubro 2010 . novembro 2010 . dezembro 2010 . janeiro 2011 . fevereiro 2011 . março 2011 . abril 2011 . maio 2011 . junho 2011 . julho 2011 . agosto 2011 . setembro 2011 . outubro 2011 . janeiro 2012 . fevereiro 2012 . março 2012 . abril 2012 . maio 2012 . junho 2012 . setembro 2012 . novembro 2012 . dezembro 2012 . janeiro 2013 . janeiro 2014 . julho 2015 .


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~*. spying glass .*~


a balada do café triste . ágrafo . albergue dos danados . almanaque de ironias menores . a natureza do mal . animais domésticos . antologia do esquecimento . arquivo fantasma . a rute é estranha . as aranhas . as formigas . as pequenas estruturas do ócio . atelier de domesticação de demónios . atum bisnaga . auto-retrato . avatares de um desejo . baggio geodésico . bananafish . bibliotecário de Babel . bloodbeats . caixa-de-lata . casa de cacela . chafarica iconoclasta . coisa ruim . com a luz acesa . comboio de fantasmas . complicadíssima teia . corpo em excesso de velocidade . daily make-up . detective cantor . dias com árvores . dias felizes . e deus criou a mulher . e.g., i.e. . ein moment bitte . em busca da límpida medida . em escuta . estado civil . glooka . i kant, kant you? . imitation of life . isto é o que hoje é . last breath . livros são papéis pintados com tinta . loose lips sink ships . manuel falcão malzbender . mastiga e deita fora . meditação na pastelaria . menina limão . moro aqui . mundo imaginado . não tenho vida para isto . no meu vaso . no vazio da onda . o amor é um cão do inferno . o leitor sem qualidades . o assobio das árvores . paperback cell . pátio alfacinha . o polvo . o regabofe . o rosto de deus . o silêncio dos livros . os cavaleiros camponeses no ano mil no lago de paladru . os amigos de alex . Paris vs. New York . passeio alegre . pathos na polis . postcard blues . post secret . provas de contacto . respirar o mesmo ar . senhor palomar . she hangs brightly . some variations . tarte de rabanete . tempo dual . there is only 1 alice . tratado de metatísica . triciclo feliz . uma por rolo . um blog sobre kleist . vazio bonito . viajador


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~*. the bell jar .*~



os lugares comuns: against demons . all work and no play . compêndio de vocações inúteis  .  current mood . filosofia e metafísica quotidiana . fruta esquisita menina aflita . inventário crescente de palavras mais-que-perfeitas . miles to go before I sleep . música no coração  .  música para o dia de hoje . o ponto de vista dos demónios . planos para dominar o mundo . this magic moment  .  you came on like a punch in the heart . you must believe in spring


egosfera: a infância . a minha vida dava um post . afirmações identitárias . a troubled cure for a troubled mind . april was the cruellest month . aquele canto escuro que tudo sabe . as coisas que me passam pela cabeça . fruto saturnino (conhecimento do inferno) . gotham style . mafarricar por aí . Mafia . morto amado nunca mais pára de morrer . o exílio e o reino . os diálogos imaginários . os infernos almofadados . RE: de mail . sina de mulher de bandido . the woman who could not live with her faulty heart . um lugar onde pousar a cabeça   .  correio sentimental


scriptorium: (des)considerações sobre arte . a noite . and death shall have no dominion . angularidades . bicho escala-estantes . do frio . do medo . escrever . exercícios . exercícios de anatomia . exercícios de respiração . exercícios de sobrevivência . Ítaca . lunário . mediterrânica . minimal . parágrafos mínimos . poemas . poemas mínimos . substâncias . teses, tratados e outras elocubrações quase científicas  .  um rumor no arvoredo


grandes amores: a thing of beauty is a joy forever . grandes amores . abraços . Afta . árvores . cat powa . colectânea de explicações avulsas da língua portuguesa  .  declaração de amor a um objecto . declaração de amor a uma cidade . desolação magnífica . divas e heróis . down the rabbit hole . drogas duras . drogas leves . esqueletos no armário . filmes . fotografia . geometrias . heart of darkness . ilustraçãoinício . matéria solar . mitologias . o mar . os livros . pintura . poesia . sol nascente . space is the place . the creatures inside my head . Twin Peaks . us people are just poems . verão  .  you're the night, Lilah


do quotidiano: achados imperdíveis . acidentes quotidianos e outros desastres . blogspotting . carpe diem . celebrações . declarações de emergência . diz que é uma espécie de portfolio . férias  .  greves, renúncias e outras rebeliões . isto anda tudo ligado . livro de reclamações . moleskine de viagem . níveis mínimos de suporte de vida . o existencialismo é um humanismo . só estão bem a fazer pouco


nomes: Aimee Mann . Al Berto . Albert Camus . Ana Teresa Pereira  . Bauhaus . Bismarck . Björk . Bond, James Bond . Camille Claudel . Carlos de Oliveira . Corto Maltese . Edvard Munch . Enki Bilal . Fight Club . Fiona Apple . Garfield . Giacometti . Indiana Jones . Jeff Buckley  .  Kavafis . Klimt . Kurt Halsey . Louise Bourgeois . Malcolm Lowry . Manuel de Freitas . Margaret Atwood . Marguerite Duras . Max Payne . Mia Couto . Monty Python . Nick Drake . Patrick Wolf  .  Sophia de Mello Breyner Andresen . Sylvia Plath . Tarantino . The National . Tim Burton


os outros: a natureza do mal . amigos . dedicatórias . em busca da límpida medida . retalhos e recortes



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...it's full of stars...


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