terça-feira, 10 de junho de 2008



subitamente :


eu teria esperado um dia inteiro
agora não resta senão o vazio dos bolsos
o Al Berto diria que era
a dor de todas as ruas vazias

e há também quem diga
que te perderei algures
numa dessas ruas
em que já não passa ninguém
senão eu

ao dobrar uma esquina
qualquer coisa podia acontecer
se apenas um vento breve soprasse
se ao menos um vento brando soprasse
e qualquer coisa acontecesse

mas as esquinas estão cheias
de acidentes imprevisíveis
uma pedra desajeitada
um cão abandonado
um transeunte apressado

e aquele que caminha
de olhos pregados no chão
inadvertidamente inevitavelmente
tropeça
cai
afoga-se
porque de nenhum lugar emergem
braços salvadores estendidos
para a respiração boca a boca


inesperadamente -
a noite é um poço.


(subitamente -
o corpo é um túmulo)






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sábado, 7 de janeiro de 2006




~


és tu a manhã

a penumbra diluída
junto às portas
porque é sempre excessiva
a primeira luz
dentro do quarto.


os corpos conhecem
os contornos silenciosos
das paredes

e um outro nome me chama
onde tu não estás


bastante é só
a certeza
de que um braço me acharia
acaso me demorasse
no meio das sombras
mais que meia-hora.





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sexta-feira, 6 de janeiro de 2006




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hoje é um dia reservado ao veneno
e às pequeninas coisas
*


como os objectos que habitam
os lugares marginais do chão
as beatas e as pedras
a lama e os passos
ou um bilhete
que cai de um bolso
distraído
porque as palavras
já não valem
a pena.







* versos de António José Forte





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quarta-feira, 11 de maio de 2005




//previsões de céu muito nublado,
...possibilidade de ocorrência de aguaceiros e trovoada



antes,
o mundo inteiro um só
lugar do medo

agora,
que vivo de malas feitas
por todo o lado lugares da sede

o meu peito aperta-se na ausência
de um corpo transmontano
que eu amo.




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segunda-feira, 9 de maio de 2005




>>> das águas escuras que habitam o fundo dos poços


ainda que a noite me habite
e haja demasiado mundo à minha volta
há ainda as coisas simples
as sardinhas assadas com pimentos
o perfume do jasmim rente aos muros
o bafo quente da tarde no pico do verão
um rapaz de olhos verdes de quem eu gosto

corpo a corpo
enfrentamos os lugares do medo.




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quarta-feira, 26 de maio de 2004




Ítaca *

agora que Ulisses repousa
o merecido descanso
sobre a pedra do regresso *

é tempo de voltar os olhos a outros mares
e deixar-me doer o coração por outras mágoas
agora não tão próximas
da partida e da ferida




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sábado, 22 de maio de 2004




:: respostas ::

Por vezes, precisávamos que tudo fosse simples

— como a luz esmorecendo sobre a tarde,
o verão balouçando nas copas das árvores,
os pés silenciosos no ardor do solo —

que tudo fosse simples como o amor pela terra.





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terça-feira, 18 de maio de 2004




:: explicação do verão ::

ouves, amor, o som dos pássaros à beira da água
ou o silêncio por trás da janela fechada

são tudo sinais da linguagem muda do chão
é por isso que o azul é deserto
e o sol abrasador

para que reconheçamos o ardor do solo
na inclinação das sombras
sobre as casas vazias feridas de branco
ou de excesso de luz





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quarta-feira, 5 de maio de 2004




:: do pão para a boca ::

se afinal nos cabelos de Penélope o sol brilhava
se o próprio mar da Ítaca partilhava o sal das suas lágrimas
então talvez seja possível começar a perdoar Ulisses
— aquele que de coração magoado
não aprendera ainda a regressar.


e eu sem saber
que no exercício da tristeza
uma outra morte se urdia
que apesar do medo e da distância
era clara a noite sobre a ilha.




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:: promessa de sangue ::

sobre as pálpebras       sobre os ombros
o peso de um verão adiado

há-de vir o dia
             o sol
e o seu reino claro de espaços

entretanto
urdem as sombras os nosso segredos.




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terça-feira, 4 de maio de 2004




*oásis*


aqui chegamos nós à beira da água
e ainda assim se cristaliza a substância da nossa sede
é o silêncio      o céu deserto      o azul esmagador
ou o sol sobre a ferida        a palavra sobre o chão.




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segunda-feira, 19 de abril de 2004




:: praia da amoreira ::


1
só uma sombra negra
denuncia junto à praia
o hálito fresco das amoreiras



2
a luz arde nas pálpebras
a claridade lisa como um espelho
talvez o sal de tão vasto mar



3
ao meio-dia
a estrada ferve e nós silenciamos
o ardor das feridas.




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sábado, 17 de abril de 2004




porquê morrer?
se até as aves                        fazem ninho sobre o mar
se já a claridade invade           os cantos vazios da casa
se no silêncio das tardes          a própria ferida
se torna matéria solar

concede às palavras                 o ânimo inspirado
de circundarem as sombras       rente aos muros

diz-me —
— se até das cinzas se fabrica o pão
porquê morrer?



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sexta-feira, 16 de abril de 2004




:: regresso ::

de coração magoado       então
Ulisses se demora

estranho o tardio entedimento       como
o leve torpor de um longo sono

compreender na distância —
— pássaro ferido
não se aventura a sobrevoar
                     o mar imenso.



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segunda-feira, 12 de abril de 2004




:: das horas mansas
    dos lugares silenciosos ::


rente aos muros          a claridade
irrompe pelas janelas
um quadrado azul          recorta
o silêncio interior

— da mesma substância da luz
uma moradia de palavras
habitada de contornos negros —

um canto subitamente feito claro
                             o odor antigo
                             do jasmim
                             da madeira
                             repousa na quietude das horas
                                                                  da tarde.



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*jasmim*










*jasmim*













*jasmim*














a palavra circunda
um ponto branco
mas não apreende
a substância do seu perfume

é este o odor das noites
ocupando o espaço todo
disponível para o silêncio

escrever —
— ainda tão distante
da matéria do amor.



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domingo, 11 de abril de 2004




ÍTACA, ainda

Penélope adormecida
sobre a negra noite deposita
o amargo silêncio da espera.


Ulisses ausente ao largo
apressa o coração magoado
em direcção à ilha rochosa
à terra mais firme
que o sonho que o demora.



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sexta-feira, 9 de abril de 2004




:: absence ::

permitam-me um pouco do néctar        em cuja falta
padeço e morro
permitam-me que me demore ao sol        ou rente
à claridade das varandas
nada mais procuro que um sopro de verão       que anime
a fértil substância dos livros.



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quinta-feira, 25 de março de 2004




:: porque ::


porque as heras já florescem rente aos muros
porque as sombras se obliquam sobre o chão
porque o ar levemente perfumado
indica que estão próximos os dias
das casas brancas de janelas abertas para o mar
dos finais de tarde no silêncio das varandas
uma memória ténue do odor das magnólias
pode ser que seja Duras
o livro pousado sobre o colo
uma já certeza de verão
mesmo se o vento ainda sopra frio nos caminhos.



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sexta-feira, 19 de março de 2004




:: do silêncio ao fundo ::


são as sombras que flutuam como pássaros
pelo fundo dos teus olhos
e a noite principia
no círculo negro que encerram

estar assim no silêncio da incerteza
a única forma possível para o amor
desconhecer
― mesmo assim tactear ―
que perigos se escondem
no escuro das profundezas.



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spot player special




"us people are just poems"
[ani difranco]


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~*. through the looking glass .*~




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Baucis & Philemon | tea for two
os dias do minotauro | against demons
menina tangerina | citrus reticulata deliciosa
the woman who could not live with her faulty heart | work in progress
pale blue dot | sala de exposições
o rosto de deus | fairy tales








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~*. rearview mirror .*~


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a balada do café triste . ágrafo . albergue dos danados . almanaque de ironias menores . a natureza do mal . animais domésticos . antologia do esquecimento . arquivo fantasma . a rute é estranha . as aranhas . as formigas . as pequenas estruturas do ócio . atelier de domesticação de demónios . atum bisnaga . auto-retrato . avatares de um desejo . baggio geodésico . bananafish . bibliotecário de Babel . bloodbeats . caixa-de-lata . casa de cacela . chafarica iconoclasta . coisa ruim . com a luz acesa . comboio de fantasmas . complicadíssima teia . corpo em excesso de velocidade . daily make-up . detective cantor . dias com árvores . dias felizes . e deus criou a mulher . e.g., i.e. . ein moment bitte . em busca da límpida medida . em escuta . estado civil . glooka . i kant, kant you? . imitation of life . isto é o que hoje é . last breath . livros são papéis pintados com tinta . loose lips sink ships . manuel falcão malzbender . mastiga e deita fora . meditação na pastelaria . menina limão . moro aqui . mundo imaginado . não tenho vida para isto . no meu vaso . no vazio da onda . o amor é um cão do inferno . o leitor sem qualidades . o assobio das árvores . paperback cell . pátio alfacinha . o polvo . o regabofe . o rosto de deus . o silêncio dos livros . os cavaleiros camponeses no ano mil no lago de paladru . os amigos de alex . Paris vs. New York . passeio alegre . pathos na polis . postcard blues . post secret . provas de contacto . respirar o mesmo ar . senhor palomar . she hangs brightly . some variations . tarte de rabanete . tempo dual . there is only 1 alice . tratado de metatísica . triciclo feliz . uma por rolo . um blog sobre kleist . vazio bonito . viajador


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