sexta-feira, 31 de outubro de 2003




esqueci-me desta: epiderme é uma das minhas palavras preferidas de sempre. e só hoje, ao ler isto, me recordei: o sexo também é deixar o corpo ser assaltado.





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posted by saturnine | 23:37 | 0 Comentários


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time spent crying is taking me in this year*


veio a gripe. era previsível, andava anunciada por aí. com ela veio um estado febril, epidérmico e emotivo, que me desapropriou dos meus contornos. por um momento, voltei a ser o que não posso, o que não devo, o que no fundo não sou. a dor de garganta, a ardência nos olhos, a boca rubra de aflição, ainda assim nada se compara ao torpor do arrefecimento.


* Beth Gibbons | it's a funny time of year





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posted by saturnine | 23:07 | 0 Comentários


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the passion fruit




flor do maracujá [passion fruit]


nesta época do ano já não há maracujás pelos muros do meu jardim. com o frio do inverno passado, morreu a árvore. mas há-os nos lugares entre as palavras.

nome científico: Passiflora edulis Sims
família: Passifloraceae
origem: trópicos americanos
descrição: aqui.





afinal ainda existem amores-perfeitos

para ti, que estás numa varanda voltada para o mar, e que sob o silêncio das estrelas te preenches de ausências. *





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sugestões para o dia de hoje


já passaram demasiados anos para que me recorde com precisão se era ou não um filme de mau gosto. mas hoje, era indiscutivelmente o que me apetecia (re)ver: Candyman.



5 vezes. Candyman. em frente ao espelho. e ele aparece. pelo sim pelo não, nunca experimentei. 'yo no credo en bruxas, mas que las hay, hay'.

depois, para adormecer, este álbum:


Tinderbox | Siouxsie & The Banshees

Candyman
Sickly sweet, his poison seeks
For the young ones who don't understand
The danger in his hands
With a jaundiced wink see his cunning slink
Oh trust in me my pretty one
Come walk with me my helpless one
Candyman

Syrup lies upon your tongue
Ge latine saliva spills
The flash of a guillotine a smile

Candyman - oh candyman

No pity for him, their misery screams
Unspeakable things

A cool missile, yes it's in his smile
With open arms to welcome you
Beware the masked pretender
He always lies, this candyman
Those lips conspire in treachery
To strike in cloak and dagger, see!

Candyman - oh candyman

And all the children, he warns "don't tell,''
Those threats are sold
With their guilt and shame they think they're to blane
For candyman - oh candyman






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halloween (all hallow's eve)




Halloween is one of the oldest holidays with origins going back thousands of years. The holiday we know as Halloween has had many influences from many cultures over the centuries. From the Roman's Pomona Day, to the Celtic festival of Samhain, to the Christian holidays of All Saints and All Souls Days.
Hundreds of years ago in what is now Great Britain and Northern France, lived the Celts. The Celts worshipped nature and had many gods, with the sun god as their favorite. It was "he" who commanded their work and their rest times, and who made the earth beautiful and the crops grow.

The Celts celebrated their New Year on November 1st. It was celebrated every year with a festival and marked the end of the "season of the sun" and the beginning of "the season of darkness and cold."

On October 31st after the crops were all harvested and stored for the long winter the cooking fires in the homes would be extinguished. The Druids, the Celtic priests, would meet in the hilltop in the dark oak forest (oak trees were considered sacred). The Druids would light new fires and offer sacrifices of crops and animals. As they danced around the the fires, the season of the sun passed and the season of darkness would begin. (...)
| ler o resto.

halloween town
halloween fun







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«Ela diz:
- Também eu, tenho vontade de escrever. Quando regressar ao país e Violette for para a escola, escreverei.
- Que escreverás tu?
- Não sei. Talvez a história de um grande amor impossível.
- Porque é que esse amor seria impossível?
Line ri:
- Não sei. Ainda não comecei.»


este excerto encontra-se na contracapa deste livro:




Ontem | Agota Kristof




peguei-lhe hoje pela primeira vez e assombrei-me. primeiro porque este excerto de contracapa se assemelha dolorosamente ao que encontrei nesta contracapa:

«É a história de um amor, o maior e mais aterrador que me aconteceu escrever. Sei-o. Sabemo-lo para nós mesmos. Trata-se de um amor jamais nomeado nos romances, inominado até por aqueles que o vivem, de um sentimento que de algum modo não encontrou ainda o seu próprio vocabulário. Um amor perdido. Perdido enquanto perdição.»




Olhos azuis cabelo preto | Marguerite Duras



o que é curioso é que no interior está presente a mesma semelhança aterradora. a mesma escrita dolorosa e lenta, densa como se atravessasse uma massa espessa de silêncios pesados, o mesmo ritmo pausado, medindo os espaços, que transforma as palavras em gestos cinematográficos. nunca pensei. talvez me seja agora um pouco mais difícil ler Agota Kristof, especialmente porque é inverno.





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terça-feira, 28 de outubro de 2003



retalhos e recortes #2


«Era isso a que eu chamava o meu país,
ruínas que não quero juntar.»


...

«Tinha medo da sombra, do silêncio,
adivinhando em cada passo o monstro
que me habitava.»


Manuel de Freitas





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retalhos e recortes #1


«A morte é um chamamento para cima, o fantasma que se mostra às crianças para que elas evitem tocar no açúcar. O açúcar da vida. Por isso a matéria vive e, na podridão, borbulha a vida e vive a própria podridão. Por isso tudo sobrevive a uma vida: o tempo de, rasgada a pele, o sangue chegar.» | lido no extravaganza


procurei o que dizer, porque recortar parece-me pouco, mas o cansaço vence, e estas linhas que saem são matéria fluída desse cansaço. há dias assim, de uma feroz incapacidade para falar do que se vive e do que se morre.





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no light, but rather darkness visible.





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o verão não me pede palavras, mas o outono sim


1. funny time of year | beth gibbons & rustin man
2. sand river | beth gibbons & rustin man
3. pale september | fiona apple
4. halellujah | nick cave
5. which will | nick drake
6. loom of the land | nick cave
7. the killing jar | siouxsie & the banshees
8. the night | morphine
9. the eternal | joy division
10. she's my friend | fun lovin' criminals
11. wüthering heights | kate bush
12. smile | peggy lee
13. fruit tree | nick drake
14. sycamore trees | jimmy scott (twin peaks - fire walk with me b.s.o.)
15. autumn leaves | miles davis
16. twin peaks theme | angelo badalamenti / david lynch

compilation by little black spot.






[e antes que chegue o chico esperto do costume, que fala muito mas sabe pouco:não, esta Hallelujah de Nick Cave não é uma versão do original de Leonard Cohen.]






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[dois postais ilustrados para o Luís]


As mães, e até as que não eram mães,
achavam salutar que mergulhasses no mosto,
na promessa apenas desse vinho tinto
que ao enrijecer os músculos
despertava a alma para infâmias e paixões.

Que diriam agora, se o pudessem dizer,
essas mães? Deixa, qualquer abismo serve:
perdste a infância e não encontraste o mundo.

Lagar | Manuel de Freitas



Não esperes que te ajude o Cavaleiro
Andante
ou - menos ainda - a música.
Cresceste demasiado, o teu corpo
não cabe no teu corpo e o amor
(ah, o amor) ajuda mas não salva.
- Vem comigo partir estes pinhões,
sob o esboroado cor-de-rosa das paredes.
Os avalos, acredita, não te farão mal.


Depois das laranjeiras havia um tanque,
depois do tanque um jardim. Mas
de pouco te serve dizê-lo, agora que tratas
por tu a mais íntima distancia do que foste.

(Opus 78) IV. Allegretto | Manuel de Freitas





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domingo, 26 de outubro de 2003



para um dia de inverno e o cheiro a Burberry #2


sabias que há perfumes que cheiram a dias inteiros, com as suas ruas cheias de cinzento, com o seu vento frio de Janeiro, com os seus passeios cúmplices sob a chuva, as mãos ardendo perdidas pelos bolsos, enfim, com tudo o que cabe dentro de um dia para falar de um amor que partiu?





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presente de aniversário tardio





«Quando o conheci, achei-o parecido com uma fotografia que dele havia visto: num jardim onde espreitavam uns magros girassóis, com o primeiro graveto que encontrara a fazer de flauta, tinha qualquer coisa de fauno ou de pícaro. Andava por ali uma malícia a que não faltava puerilidade, num rosto que poderia pertencer ao mundo que Lawrence exaltou, e um brilho sombrio nos olhos, prenúncio de melancolia. Numa palavra: estávamos em presença de uma natureza sensual, quero dizer, de um artista, isto é, alguém muito empenhado em afirmar o milagre de estar vivo. Mas só quem conhece a morte sabe amar assim a vida, só um subtil comércio com a solidão pode conduzir ao amor mais estreme que toda a arte afinal é, mesmo quando parece negá-lo.»

Eugénio de Andrade


como adivinhaste? *





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o canto escuro


ora hoje deu-me para a melancolia. abri a porta, soltou-se o escuro, e lá dentro o chamamento inconfundível daquele canto que sabe tudo. é um gesto que não devo. que não posso. mas por conforto de saudade entro e o canto reconhece-me. fala-me de mim porque nenhum outro lugar me conhece tão bem como o abismo que trago por dentro dos olhos.





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sábado, 25 de outubro de 2003



e só hoje compreendi


Terror de te amar num sítio tão frágil como o mundo
Mal de te amar neste lugar de imperfeição
Onde tudo nos quebra e emudece
Onde tudo nos mente e nos separa.

Sophia de Mello Breyner Andresen






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para um dia de inverno e o cheiro a Burberry


Sobre os Mortos | Fernando Echeverría
Os papéis de K. | Manuel António Pina
Beau Séjour | Manuel de Freitas
Assinar a pele | antologia de poesia contemporânea sobre gatos

Plastic Love Memory | De-Phazz

.................................................................................

Se tanto me dói que as coisas passem
É porque cada instante em mim foi vivo
Na busca de um bem definitivo
Em que as coisas de Amor se eternizassem

Sophia de Mello Breyner Andresen






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plastic love memory*


há pouco tempo um amigo disse-me que o meu blog tem o seu quê de enfadonho (não foi a expressão utilizada, mas serve); é demasiado 'bonito', demasiado 'perfeitinho', e ainda por cima só falo de mim. ora foda-se. não posso negar que tem uma certa razão. e tenho que admitir que me complica um pouco o sistema nervoso esta ideia de blog limpinho, bonito e perfeitinho, que em última instância é a imagem daquilo a que não posso esquivar-me: estou condenada a ser a gaja bonitinha, engraçadinha, muito queridinha, mas invisível. completamente invisível. basta passar por mim uma desneuroniada femme fatale que logo me ofusco e desapareço. que coisa.


* De-Phazz. ouvindo Nameless Life (Rapoetry).





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sexta-feira, 24 de outubro de 2003



o mais outonal dos blogs




hoje foi-me oferecido um texto, pela chegada do Outono, mais tardia em terras a sul. agradeço o presente, que no dia de hoje, sei lá se foi por causa desta manhã demasiado rápida, me soube como se eu tivesse de novo 6 anos e ele viesse embrulhado em papel e fitas azuis.





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posted by saturnine | 22:10 |


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o meu reino por duas horas de sono


é o peso das pálpebras, o peso do corpo, o peso desta noite inteira sobre mim, eu que trocaria de bom grande esta tarde por mais umas horas de sono, um resto de consolo ou de descanso, já que esta manhã já não é mais possível.





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quarta-feira, 22 de outubro de 2003





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em resposta a uma noite fria





(...) Uma floresta virgem de folhas mortas é o nosso espírito.
E se te falo por fábulas e parábolas,
É porque assim são mais doces ao teu ouvido e porque do terror
Não se fala, que é coisa viva
,
Que é coisa muda e avança sem parar;
Goteja todo o dia, goteja durante a noite
A dor das recordações. (...)

fragmento da tradução de Manuel de Resende do poema Última Estação, de Giórgios Seféris.
o poema completo aqui.





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está frio


Acordei hoje e inesperadamente era Inverno. Dizia-o a pele morna que, ainda presa ao aconchego dos lençóis como os os olhos à escuridão do quarto, recusava a ganga fria. Cá fora, um céu descolorado, as mãos que se me gelaram ao primeiro sopro do ar matinal, e o carro aos soluços pela rua fora, também engasgado com o este desconcerto de acordar despreparado para uma manhã de Janeiro em pleno Outubro.





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«NOITE, O QUE É?, 16. Agora, que regressou o frio, a noite é ainda mais difícil. Eles pensam que ela significa apenas escuridão, aquele período entre a luz mais intensa e a que vem, como um aviso, trazer a insónia. Não é assim: há os ruídos da noite, as imagens que ela traz como um incêndio, todas as coisas do céu, todas as coisas do mar, uma lembrança, um esquecimento. A espuma das noites. Coisas que não se suportam, por estarem distantes.» | lido no Aviz.


É que este frio é Inverno antecipado, as horas roubadas à tarde ainda jovem tornam-se escuridão já demasiado visível, a insónia chega mais cedo, antes ainda do sono, como um pressentimento. É a noite quebrada como um espelho, que inflecte o silêncio, que multiplica as vozes, povoa as paredes de espectros.





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do espaço


talvez por ter crescido em círculos só meus, não divididos, não partilhados, entre mim e o mundo só uma fronteira de silêncio, perturba-me a invasão do espaço a que me habituei sozinha, estranho qualquer intrusão como se me ferissem nas estranhas, e acima de tudo assusta-me a apropriação abusiva daquilo que só ousei trazer ao mundo por ser meu.





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terça-feira, 21 de outubro de 2003




«Musa, fala-me do herói dos mil estratagemas, que tanto errou depois de a sua astúcia ter feito saquear a acrópole sagrada de Tróade, que visitou as cidades e conheceu os costumes de tantos homens! Quão grandes tormentos o seu coração padeceu por sobre o mar, quando ele lutava pela sua vida e pelo regresso dos seus companheiros! Mas não conseguiu salvá-los apesar do seu desejo: o desvario deles perdeu-os, insensatos que devoraram os bois de Hélios Hiperíon. E este não os deixou ver o dia do regresso. Conta-nos a nós também estas aventuras, deusa nascida de Zeus, começando por onde te aprouver.»

A Odisseia | Homero


assim começa o livro que tenho em mãos. imagino um magnífico poema original, que me é inacessível. imagino as leituras e releituras, os avanços e retrocessos, o que vai exigir de mim este mergulho numa história que ainda por cima me é dolorosa. é que, de onde estou, vejo que Ítaca desapareceu na bruma, Ulisses não mais regressou, Penélope foi tomada pelo cansaço e dorme uma noite permanente.





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segunda-feira, 20 de outubro de 2003




«Talvez a amizade fosse isso mesmo, o regresso provisório a uma certa fragilidade reconfortante, o reflexo de um tempo em que existia sempre alguém para nos proteger de todas as feridas que só haveriam de nos doer anos depois, quando, sozinhos no quarto numa manhã de chuva, um sonho nos detivesse assustados dentro da cama.»

Alguns Homens, Duas Mulheres e Eu | Maria do Rosário Pedreira


foi na página 155 que este livro definitiva e irremediavelmente me prendeu, quando percebi de súbito que falava também de mim - e para mim - e que todas as páginas que haviam ficado para trás não fizeram senão preparar-me para essa súbita consciência que efectivamente os livros nos vêm parar às mãos quando mais precisamos deles. talvez com este livro eu tenha aprendido a deixar morrer mais um pouco o que ficou para trás, e a saber que as coisas que trazemos dentro de nós precisam de ser gastas para que deixem do nos magoar.

pág. 159: «(...) era de outra morte que se tratava. Da que a solidão faz desejar como uma cura definitiva para todas as feridas que as grandes ausências abrem na carne e não deixam cicatrizar.»

pág. 175: «(...) vestígios das pequenas violências praticadas por outro corpo que, havendo-se demorado ao seu lado, ali depositara as marcas de uma convivência temporariamente feliz.»

pág. 209: «(...) pela primeira vez desde há muitos dias, não senti que a casa estivesse fria, nem que ainda fosse Inverno, nem que os fantasmas estivessem deitados no meu quarto à espera de poderem voltar a infernizar-me.»

pág. 226: «A avó partira, deixando um imenso vazio, impossível de preencher; mas essa circunstância permitira que eu procurasse o grego e, com a sua ajuda, aprendesse a refazer os muros que essa morte esboroara e acabasse por encontrar entre eles a saída dos mais embaraçados labirintos.»





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dizer deste gosto pela obscuridade
a simpatia pelas sombras disformes
pela escuridão aguda que se passeia
pelas paredes anoitecidas ou ainda
pelo que há de improvável nestas horas
de delírios contidos encenados
como se em cada coisa na própria casa
flutuasse a transparência da morte.





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domingo, 19 de outubro de 2003




[da terra]

se conheço alguma coisa da terra
é este chão de cinza sob os pés
a certeza de um inferno mais abaixo
onde os corpos dançam e os quartos
se pintam se sombras para afugentar
a noite.





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[procura-se]




Miles Davis | Doo Bop


procuro este álbum há muito muito tempo. desde que P. me falou nele há meses, que mo deu a ouvir e se me entranhou na pele o sabor a drum'n'bass. mas entretanto eu já não posso mais estar à espera, não mais ficarei a aguardar a cópia prometida e esquecida, e peço aqui encarecidamente notícias de Doo Bop. dão-se alvíssaras.





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[sunday mood]


porque hoje é domingo e os domingos são para ficar em casa.




Cinematic Orchestra | Every Day


«Every Day is dark and a little twisted, but wiht melody and soul right next door. Don't say 'chillout' or 'hardcore' but think both. There's room to breathe on here... remember that?... Spaces and places between the notes.»





Zero 7 | Simple Things


«I only make jokes to distract myself
From the truth, from the truth.»



aconteceu lembrar-me destes discos e fecho o dia com música apropriada ao momento. nada de nostalgia de Outono. apenas soturnidade de domingo:

Sunday - Everyday | Cinematic Orchestra
Monday - All That You Give | Cinematic Orchestra
Destiny | Zero 7
Distractions | Zero 7





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diz Mefisto: «Touché.»

mais do que por esta pequena esgrima com o diabo que assim, por agora, termina, apeteceu-me escrever sobre Mephistopheles porque num mesmo post conseguiu reunir duas das minhas palavras preferidas: 'mafarrico' e 'surripiar'. deve ser a aliteração em 'r'. lembro-me de em criança me chamarem mafarrico. e de surripiar as bolachas da despensa sem autorização. enfim.


nota à margem: confesso que este Mefisto escarnecedor por vezes se assemelha a um certo personagem que ocasionalmente vem aqui destemperar os meus comentários. B) seja como for, terei que reconhecer o privilégio da porta que nos abriu ao seu inferno.





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Konstantinos Kavafis | A Cidade

Disseste «Irei para outra terra, irei para outros mares.
Uma outra cidade será encontrada, melhor que esta.
Cada esforço meu é uma condenação do destino;
e o meu coração está - como um cadáver - enterrado.
Quanto tempo permanecerá a minha mente nesta terra devastada.
Onde quer que eu volte os meus olhos, onde quer que eu olhe
vejo ruínas negras da minha vida aqui,
onde passei tantos anos a destruir e devastar.»

Não encontrarás terras novas, não encontrarás outros mares.
A cidade seguir-te-á. Vaguearás pelas mesmas
ruas. E envelhecerás nos mesmos bairros;
e amadurecerás nas mesmas casas.
Chegarás sempre a esta cidade. Não esperes nenhuma outra -
Não há navio para ti, não há estrada.
Pois como destruíste a tua vida aqui
neste pequeno canto, arruinaste-a no mundo inteiro.

'my heart is - like a corpse - buried'.





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Acabei de eleger oficialmente a música de Outono para este ano: Nick Drake, inquestionavelmente. Way To Blue tem o tom exacto das folhas que caem. do vento que sopra nos carvalhos no caminho para a estação. tem o tom exacto da saudade, que é uma coisa intrinsecamente de Outono.



nick drake | nature's son
nickdrake.com





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[eco]

Indigna-me a mediocridade. Não suporto a mesquinhez. Prefiro, sem hesitar, a maldade. Só a primeira é vil e corrupta. A última é o alívio da consciência.





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Konstantinos Kavafis | The word and the silence
If words have no meaning, silence is precious.
[arabian proverb]


Silence is golden and the word is silver.

What profane one pronounced such blasphemy?
What sluggish Asian blind and mute resigned to
blind mute destiny? What wretched madman,
a stranger to humanity, insulting virtue
called the soul a chimera and the word silver?
Our only god-benefitting gift, containing all -
enthusiasm, sorrow, joy, love;
our only human trait in our bestial nature!
You who call it silver do not have faith
in the future that will dissolve silence, mysterious word.
You do not luxuriate in wisdom, progress does not charm you;
with ignorance - golden silence - you are pleased.
You are ill. Unfeeling Silence is a grave disease;
while the warm sympathetic Word is health.
Silence is shadow and night, the Word is daylight.
The Word is truth, life, immortality.
Let us speak, let us speak - silence does not suit us
since we have been created in the image of the Word.
Let us speak, let us speak - since within us speaks
divine thought, the soul's embodied speech.






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sábado, 18 de outubro de 2003




diz Mefisto: «não seria melhor falares de ti?»

por vezes canso-me e olho à volta.





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Enki Bilal (Belgrado, 1951)





como por vezes me esqueço o quanto gosto das coisas que gosto mesmo muito, era essencial que eventualmente chegasse a este nome. encontrei-o aos 17 anos e encontrei-me. ainda me lembro quando isto se me afigurou como uma questão de paixão. foi então que compreendi - e interiorizei - o desenho como destino fundamental das minhas mãos. parece que O Sono do Monstro já tem a primeira sequela nas bancas. aguardo com fervor a conclusão da trilogia anunciada.




A Mulher Armadilha | Trilogia Nikopol




A Mulher Armadilha | Trilogia Nikopol




Frio Equador | Trilogia Nikopol




O Sono do Monstro




O Sono do Monstro





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sexta-feira, 17 de outubro de 2003




para habitar um quarto que nada saiba de mim
mudei a cama para um espaço sem cantos
o quadrado da janela acima dos ombros
só me custam ainda os primeiros minutos
em que acordo com o rasto de uma memória
presa ao interior dos olhos nas pálpebras
cerradas do meu coração escangalhado.





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[...]

Por isso, como vêem, posso dizer que sou triste por natureza, o que não é totalmente verdade, é apenas que tenho um coração angustiado. Textualmente falando.





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Re:

Sofro de um prolapso sistólico da válvula mitral que desde a infância determina que não sou capaz de grandes corridas, que o peito frequentemente se me aperta em palpitações confrangedoras, que um mal de ansiedade gritante ocupa os meus dias. Os meus passos traduzem-se em respiração ofegante, as minhas noites em longas lutas contra o cansaço. Tenho uma relação frágil com a minha seratonina, invento pretextos para que o desequilíbrio se desfaça, e todo o meu tempo é passado no constante sobressalto de não saber sossegar. Custa-me o tempo que não passa. Indigna-me a mediocridade, a criança que não é incentivada a consultar o dicionário. Arrebata-me a preguiça.





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quinta-feira, 16 de outubro de 2003



exercício #3


detesto a pessoa em que te tornaste.





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posted by saturnine | 21:55 | 0 Comentários


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[síncope]

o tempo custa muito a passar. e é em interstícios destes que me surpreende o choro. não gosto. felizmente também chega de surpresa Peggy Lee que me diz «Smile (though your heart is breaking)».





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posted by saturnine | 15:02 | 0 Comentários


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«Explicar porque se tem que saber o que está no fundo de nós. Saber que, sem o outro, somos os mesmos, mas de maneira mais pobre. Esperar que nos seja dado aquilo de que precisamos para continuar o caminho, mas aprender a discernir o inevitável.»

por coisas destas é que um blog como o modus vivendi faz falta. por que não pode simplesmente desaparecer. é numa expectativa semelhante que escrevo. ainda ontem o disse. porque algo me chama constantemente ao fundo de mim, onde não quero - na maior parte das vezes - ir. mas conhecer o fundo de nós é saber que nenhum desastre nos surpreende. neste processo, só avanço na medida do que encontro. só nos outros encontro a escada para o fundo de mim.





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posted by saturnine | 14:19 | 0 Comentários


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porque geralmente outras coisas passam mas esta não. porque não falo de outros desastres, pouco me importam as considerações sobre o estado do mundo, mas eu tenho a imagem do rosto infantil congelado do Gonçalo, que não sobreviveu à leucemia, e por isso escrevo. atrasada, obrigada ao Luís porque, também atrasado, mo lembrou.

posted by saturnine | 01:57 |


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assumi a minha verdadeira forma. a partir de agora, de mim, só falarei em Re: porque é apenas em resposta que sei inventar-me, é apenas porque outros escrevem que eu me encontro nas palavras.





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posted by saturnine | 01:47 | 0 Comentários


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RE: de mail

encontrei um post que daria um RE:
é espantoso. já não me lembrava.





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posted by saturnine | 01:21 | 0 Comentários


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porque gosto de subversões


Sonho, sabendo que nenhuma ausência se compara à matéria viva dos meus sonhos.





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posted by saturnine | 00:21 | 0 Comentários


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RE: Re: Re:

Um dia aprendi que quando os olhos se abrem é para sempre. Que uma vez visitado o deserto passamos a transportá-lo connosco sob a pele. Mesmo este mundo, que não era o que os meus olhos queriam ver, agora acomoda-se à forma aberta do meu olhar. Aprendi que o buraco que tenho no peito não decresce, não diminui, não fecha, não substitui. Está presente, por vezes adormecido, por vezes silenciado, por vezes morno como a pele debaixo das camisolas de lã, outras tantas grita, lateja, ferve na sua polpa de ferida aberta. Prova-o esta minha existência constante de soluços cardíacos. Um dia, como tu, entristeci demais, e não há regresso ao antes disso. Trago sombras nos olhos, umas vezes nota-se outras não. Ainda temo o apagar da luz, não gosto de acordar cedo, não gosto de ser chamada às tarefas mundanas. Escrevo, sabendo que nenhuma palavra alcança o mundo. Sonho, sabendo que a matéria dos meus sonhos não se compara ao contorno vivo de uma ausência.





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quarta-feira, 15 de outubro de 2003



exercício #2


Diz-lhe que saíste a correr, que não poderias ter percebido as folhas em cima da mesa à tua espera, que não seria diferente dos outros dias a ausência de um beijo, que as manhãs sempre te atrasaram na corrida contra o irremediável, e que acima de tudo não sabias, não poderias saber, que havia na tua pressa uma morte silenciada.





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posted by saturnine | 20:47 | 0 Comentários


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do Quartzo, Feldspato & Mica nos chega este belíssimo poema de Nikos Engonópoulos, traduzido por Manuel Resende:

Escutai as lágrimas a correr
como árvores imóveis
mudas
e
calmas
quando cai a noite

e contudo o jardim
- digo -
com as incontáveis janelas
era infinito
e os seus relvados
chegavam lá abaixo junto ao mar
precisamente ali onde começa
o areal amarelo

sobre este amarelo
areal
dissemos
- acho -
as nossas mais belas canções

e contudo ali
apedrejaram-nos
com pedras
e seixos
aos punhados

e os seixos eram
os brancos
eróticos dentes
das mulheres
que amámos





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posted by saturnine | 15:07 | 0 Comentários


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Esquecimento | Konstantinos Kafavis

Fechadas numa estufa
sob as caixas de vidro as flores esquecem
o que é o brilho do sol
o como as brisas matinais* sopram quando passam.


Forgetfulness | Konstantinos Kafavis

Shut up in a greenhouse
under the glass cases the flowers forget
what the sun's brightness is
and how the dewy* breezes blow when they pass.


* tradução complicada. não apenas por uma questão de literalidade, mas também de semântica - dew significa orvalho; por consequência, dewy resultaria em algo como orvalhal, que não existe em Português. optei por um termo que me pareceu aproximar-se da imagem sugerida pelo poema. aceitam-se sugestões.





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Ao pé da janela aberta | Konstantinos Kafavis

Na calma da noite outonal
sento-me ao pé da janela aberta
para horas inteiras em perfeito
delicioso sossego.
A leve chuva de folhas cai.
O suspiro do mundo corruptível
ecoa na minha natureza corruptível.
Mas é um doce suspiro, soa como uma oração.
A minha janela abre-se a um mundo
desconhecido. Uma fonte de inefáveis
memórias perfumadas é-me oferecida;
Asas batem na minha janela -
Refrescantes espíritos outonais
vêm até mim e rodeiam-me
e falam comigo na sua língua inocente.
Sinto esperanças indistintas, desmesuradas
e no silêncio venerável
da criação, os meus ouvidos ouvem melodias,
ouvem música cristalina, mística,
do coro das estrelas.


foi um exercício. experimentei traduzir do inglês. compreendi na pele a traição da tradução (a rima não deve ser acidental), mas mesmo assim arrisco.





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posted by saturnine | 13:12 | 0 Comentários


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intersecção de uma recta oblíqua com uma pirâmide hexagonal com base de nível





para determinar o percurso da recta no interior da pirâmide, é necessário determinar primeiro a secção efectuada por um plano auxiliar projectante que contem a recta. os pontos de entrada e saída da recta na pirâmide encontram-se sobre o contorno da área seccionada.





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posted by saturnine | 12:23 | 0 Comentários


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o desencanto do surrealismo


incomoda-me o surrealismo na pintura. não sei explicar, é uma questão de entranhas. algo em mim se contorce quando penso nos pintores surrealista. tenho que confessar: não suporto Dali. não consigo encontrar-lhe o génio, não acho piada às suas recriações oníricas, parece-me tudo de um mau gosto fenomenal. o pedaço de surrealismo pictórico que me encanta cabe todo aqui:




Max Ernst | The Robing of the Bride




Max Ernst | Eye of the Silence





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o meu e-mail do SAPO não anda de confiança. sei lá eu que coisas andam perdidas por aí. sei que estou muito aborrecida. ainda por cima não consigo enviar mails. vou fazer um pequeno motim: por favor re-encaminhem tudo aquilo a que não tenham recebido resposta para little_black_spot[at]hotmail.com.

posted by saturnine | 01:00 | 0 Comentários


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exercício #1


Olha-te ao espelho. Olha-te ao espelho para que não te esqueças. Olha-te ao espelho para que não te esqueças que o teu rosto agora é apenas um, que já não transportas mais o seu por dentro do teu. Lembra-te de quem és, lembra-te do teu rosto abandonado, lembra-te que foi ele que partiu e largou o teu rosto no lugar triste dos olhos apagados. Força a memória, mantém presente o golpe. Olha-te ao espelho para que não te esqueças que estás só, lembra-te que os teus passos são só teus, não os encaminhes para um corpo de desastre prometido.





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terça-feira, 14 de outubro de 2003



ponto linha plano




«(Black) is like the silence of the body after death, the close of life.»
Wassily Kandinsky | Composição nº 8 (1923)



os pontos nomeiam-se com letras ocidentais maiúsculas. as rectas nomeiam-se com letras ocidentais minúsculas. os planos nomeiam-se com letras do alfabeto grego minúsculas. uma recta pode ser definida por dois pontos. um plano pode ser definido por duas rectas paralelas ou concorrentes ou por 3 pontos não colineares. um ponto pertence a uma recta quando as suas projecções se encontram sobre as projecções do mesmo nome da recta. uma recta pertence a um plano quando os seus traços se encontram sobre os traços do plano. a intersecção de duas rectas é um ponto. a intersecção de uma recta com um plano é um ponto. a intersecção de dois planos é uma recta.





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posted by saturnine | 23:34 |


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perplexidade


indiscutivelmente há coisas que se nos tornam íntimas, que aprendemos a trazer connosco junto com o resto da matéria de que somos feitos. nunca deixo de me surpreender com a proximidade da Geometria. dos cadernos passa-me para as mãos, para o tacto, até ao ponto de a trazer suspensa no lado interno dos meus olhos. ninguém acredita que a Geometria Descritiva me comove. ninguém acredita, se eu digo que basta olhar o mundo em volta para compreender um emaranhado de traços dispersos. leio num sistema de dupla (ou tripla) projecção ortogonal como quem lê nas pautas de música. tenho nas pontas dos dedos já construído um pentágono perfeito. aquilo em que me detenho é apenas o que ainda se me não sedimentou pelo hábito. de resto, olho o mundo em volta como um gigantesco perspectógrafo.





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posted by saturnine | 21:53 | 0 Comentários


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ainda a raiz do medo


sempre me descuidei do mundo por hábito de medo. juro que não suporto o sabor do fígado que não me recordo sequer de ter provado. nunca trepei às árvores, nunca roubei rosas nem laranjas. a cicatriz abaixo do joelho esquerdo prova que precisei de crescer para acomodar o meu corpo aos solavancos da bicicleta. repeti para mim própria que karting não era coisa que me fascinasse. e depois de súbito as mãos no volante e o corpo todo a ranger com o ímpeto da velocidade, eu ali inteira que não sou senão vento e adrenalina, a pensar como me pasmo e encolho e me descuido do mundo por hábitos de medo.





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posted by saturnine | 21:13 | 0 Comentários


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há vários dias que pensava neste desafio. comecei por escolher as 10 palavras:

pedra
sal
sol
ruína
ferida
quietude
destroços
azul
raiz
noite



acontece assim, o texto:

na quietude da palavra pedra absorvo a densidade possível dos lugares magoados de sol. o edifício do meu texto, outrora um templo, desfaz-se em colunas de sal. sobre a ruína, não sabem os destroços que geografia lhes pertence. o chão magoado do ardor do verão povoa-se de ângulos negros, nele me estendo e ausculto a respiração da terra, entrecortada de sombras. depois chega a noite, recortada no quadrado azul da janela. com ela os sussurros assombrados de um canto conhecido do quarto, rosto visível da raiz do medo. aqui, onde o deserto me habita, a memória das árvores converte-se em ferida.





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segunda-feira, 13 de outubro de 2003




[recado]

agora que sei que não vens
não me aflige não esperar-te
aflige-me apenas o que
deixamos para trás
e o tempo todo que falta
até que a minha vida se cumpra.





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posted by saturnine | 14:11 | 0 Comentários


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Re: Re:

O que sei de mim é pouco mais que os pés irremediavelmente gelados no inverno, o transtorno que é recordar um amor que se despediu no verão, a cicatriz funda abaixo do joelho esquerdo que não me deixa esquecer que em criança não quis aprender a andar de bicicleta. Tenho medo do escuro e do que nele habita, custa-me o primeiro silêncio da noite e a resignação de apagar a luz. Gosto dos cachecóis de muitas cores e de camisolas brancas em Dezembro, gosto do barulho dos comboios na estação, gosto dos gatos pequeninos quando ainda não têm senão garras e orelhas. O meu pecado mortal é a preguiça e o mal de que sofro é de intimismo excessivo. Tenho os olhos carregados de sombras e uma promessa de azul nas pálpebras cerradas. Um dia recriei-me numa figura que habita o papel, de olhos esbulhagados para o vazio.





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posted by saturnine | 12:43 | 0 Comentários


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Re: Re:

o canto escuro do quarto, conhece-lo bem
é sua a mesma matéria triste dos meus ombros
e eu já não reconhecia esse canto, já não sabia
que as portas portas fechadas rangem ao abrir
e lá do fundo um rumor se passeia pelas paredes
porque as mesmas sombras habitam o seu negro
quando entro
não sei de mim
mas ele sabe
esse canto
o que te assombra e fala contigo,
aquele a quem te confessas,
aquele que sabe tudo
.





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posted by saturnine | 12:17 | 0 Comentários


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[canto]

surge o Outono batendo
as suas asas de noitibó.





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posted by saturnine | 00:07 | 0 Comentários


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domingo, 12 de outubro de 2003



sunday mood


não é por acaso que o nome que escolhi para este apartamento de férias cresce em significância. sou uma espécie de alienada, descuro-me do mundo que me rodeia, não presto atenção ao que passa, alheio-me da realidade que me grita. há momentos assim em que me perturba esta tendência para a comodidade oca, esta falta de ligação com as coisas que existem, esta incapacidade de falar de outra coisa que não eu. antes era uma questão de meses, assusta-me agora já poder falar em anos. não é certo que este cansaço alguma vez se extinga, ou que deixe eu de me esconder nele para evitar pensar no que importa.





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posted by saturnine | 23:36 | 0 Comentários


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já tenho dito que não tenho estofo para textos muito longos, tenho pouca resistência para a leitura, e com isso vou perdendo coisas que fazem falta e conhecendo mal o mundo da blogosfera. é o meu mal de preguiça. mas uma coisa de que inquestionavelmente não prescindo são os pequenos parágrafos do Francisco José Viegas:

NOITE, O QUE É?, 14. Uma voz. Um sopro. A chuva que caiu durante a noite sem ser escutada. Passar um tempo esperando outro. O sabor do café, recordas o sabor do tempo, da voz. Como se estivesse aqui. Nesta altura chegam as perguntas, entram pela janela, uma perturbação sem nome, coisas vadias.

assim:

Escrito no fio da navalha, nesse lugar onde cada palavra mede o lugar onde aparece escrita.





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posted by saturnine | 23:24 | 0 Comentários


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para ti




tu que não te lembras,
tu que já não sabes quem sou,
tu que talvez nunca tenhas aqui estado.





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posted by saturnine | 21:58 |


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antevisão do esperado Thief III


don't be afraid of the dark.
be afraid of what it hides.






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detesto domingos com chuva


É domingo ainda e chove ainda
num vago jardim perdido.
Fora de mim qualquer coisa em mim finda
como em alguém desconhecido.

Como se fosse no domingo
no desfeito sonho de alguém
sonhando comigo,
lembro-me (quem?)

de outro jardim, de outro domingo,
indistintamente existindo,
como eu próprio, em mim.
Agora em que jardim

alheio e indiferente
chove em mim para sempre?
Também eu sou outro
transportando um morto.

Manuel António Pina | Schlesiches Tör





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posted by saturnine | 13:11 | 0 Comentários


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bloco de notas


sou uma rapariga de hábitos estranhos. dizem-me que há coisas que não combinam. que leio poesia e jogo Unreal Tournament com o mesmo fervor. toda a minha natureza é eclética. sou uma filha do Outono que suspira pelos girassóis recortados no azul do Verão. falo da respiração da terra aqui fechada entre paredes olhando um monitor. indigno-me com a ignorância mas aborreço-me com os programas culturais. como disse, sou estranha. como já disse também, o meu pecado mortal é a preguiça. sofro de um mal de cansaço revestido de saudosismo. é que de repente lembro-me outra vez das coisas que gosto mesmo muito.





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chegou-me por mail o primeiro conjunto de traduções de Kavafis para português. a autoria da tradução não sei, mas aproveito para deixar aqui o poema que me levou à descoberta de Kavafis:


Ítaca

Quando abalares, de ida para Ítaca,
Faz votos por que seja longa a viagem,
Cheia de aventuras, cheia de experiências.
E quanto aos Lestrigões, quanto aos Ciclopes,
O irado Poséidon, não os temas,
Disso não verás nunca no caminho,
Se o teu pensar guardares alto, e uma nobre
Emoção tocar tua mente e corpo.
E nem os Lestrigões, nem os Ciclopes,
Nem o fero Poséidon hás­-de ver,
Se dentro d'alma não os transportares,
Se não tos puser a alma à tua frente.

Faz votos por que seja longa a viagem.
As manhãs de verão que sejam muitas
Em que o prazer te invada e a alegria
Ao entrares em portos nunca vistos;
Hás­-de parar nas lojas dos fenícios
Para mercar os mais belos artigos:
Ébano, corais, âmbar, madrepérolas,
E sensuais perfumes de todas as sortes,
E quanto houver de aromas deleitosos;
Vai a muitas cidades do Egipto
Aprender e aprender com os doutores.

Ítaca guarda sempre em tua mente.
Hás­-de lá chegar, é o teu destino.
Mas a viagem, não a apresses nunca.
Melhor será que muitos anos dure
E que já velho aportes à tua ilha
Rico do que ganhaste no caminho
Não esperando de Ítaca riquezas.

Ítaca te deu essa bela viagem.
Sem ela não te punhas a caminho.
Não tem, porém, mais nada que te dar.

E se a fores achar pobre, não te enganou.
Tão sábio te tornaste, tão experiente,
Que percebes enfim que significam Ítacas.





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sábado, 11 de outubro de 2003




* Katsushika Hokusai (1760-1849)



* The Great Wave of Kanagawa


Intempérie -
infiltra-se o vento
até na minha alma


Matsuo Bashô





* Thunderstorm at the foot of the mountain | 36 views of Mount Fuji


O vento que sopra -
pergunta, que folha na árvore
cairá a seguir


Kyoshi Takahama





* Red Fugi | 36 views of Mount Fuji


A árvore antiga
Que cantou na brisa
Tornou-se cantiga


Sophia de Mello Breyner Andresen


.................................................
Katsushika Hokusai
History of Haiku





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posted by saturnine | 21:23 |


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[testing, testing]

desarranjada de susto
experimento
arrisco
encolho-me ainda
inclino-me para não ver
o desastre
do primeiro passo.





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a morfologia do susto


o Outono arrancou-me ao exílio, mas entregou-me ao silêncio. deixou-me na devastação do deserto, onde se ouve o vento mas nunca o canto dos pássaros. desapropriou-me da vontade de poesia. tudo em mim se organiza e desmonta em prosa. assombram-me coisas assim lapidadas e inexcedíveis, e há ainda o susto de não saber já de onde nos surgem.





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posted by saturnine | 19:29 | 0 Comentários


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um sobressalto tímido, um silêncio de alívio. pela não-partida, pelas linhas essenciais que regressam. lido hoje no modus vivendi:

A errância pode ser uma maldição, mas não esqueçamos que é também a suprema liberdade, a liberdade total de abrir caminho, de suportar a lonjura das raízes, de aguentar o brilho, tantas vezes excessivo, de outras verdades que quase nos cegam.
E a errância maldita sobre todas as outras não é a do nomadismo do corpo, sobretudo quando envolta em mundana glória: a praga indelével vem com a errância da alma sobre expectativas desfeitas.


'a praga indelével vem com a errância da alma sobre expectativas desfeitas'. sobre a ruína, não sabem os destroços que lugar lhes pertence.
às vezes preocupa-me não pensar nestas coisas, não verbalizá-las a tempo, não fazer da palavra concretizada um refúgio para o insondável. perturba-me andar um passo atrás, não conhecer a natureza verbal do deserto sobre o qual caminho, expôr-me assim ao constante sobressalto. apercebo-me que esgravato à superfície, as unhas estão negras apenas do pó que flutua.





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posted by saturnine | 19:14 | 0 Comentários


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Alice no País das Maravilhas #3





«when the path is problematical, consider a leap of faith. ride the wind!»


american mcgee's alice
alice: guide





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Alice no País das Maravilhas #2




Gwynedd M. Hudson, 1922



'Who are you?' said the Caterpillar.

This was not an encouraging opening for a conversation. Alice replied, rather shyly, 'I -- I hardly know, sir, just at present -- at least I know who I WAS when I got up this morning, but I think I must have been changed several times since then.'

'What do you mean by that?' said the Caterpillar sternly. 'Explain yourself!'

'I can't explain myself, I'm afraid, sir' said Alice, 'because I'm not myself, you see.'


alice in wonderland





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Alice no País das Maravilhas #1




Arthur Rackham, 1907



The rabbit-hole went straight on like a tunnel for some way, and then dipped suddenly down, so suddenly that Alice had not a moment to think about stopping herself before she found herself falling down a very deep well.

alice in wonderland





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posted by saturnine | 15:32 | 0 Comentários


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alternância


cresço, encolho, divido-me em ângulos. corpo da oscilação da luz, movo-me na volatilidade das sombras. tacteio pelas paredes uma existência parecida com a minha. também caio, como Alice, em espiral. despenho-me na matéria dos sonhos, habito um caleidoscópio gigantesco. sou eu que me alterno ou é o quarto que se move?





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sexta-feira, 10 de outubro de 2003



equinócio | parte II


The Eternal | Joy Division
Goldfrapp | Pilots
Which Will | Nick Drake
Hallelujah | Nick Cave
Wüthering Heights | Kate Bush
Little Song | Fun Lovin' Criminals
She's my friend | Fun Lovin' Criminals
Down the steps | Hope Sandoval & The Warm Inventions
Suzanne | Hope Sandoval & THe Warm Inventions
Autumn Leaves | Miles Davis





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o vício da imagem


tenho o vício dos postais, das brochuras, dos desdobráveis. por onde passo, trago comigo restos dos lugares que visito. o saco carregado de papel e cartão, em que seguramente nunca mais voltarei a pegar, senão para um olhar casual quando arrumo as gavetas. o que levo para depois sei desde o início que será para nunca mais. mas que vale a pena assim mesmo só por isso, pelo momento fragmentário, pelo instante da captura, pelo fascínio da imagem. há coisas mesmo bonitas.

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infernos almofadados.

não tenho existência suficiente para ocupar este espaço todo onde tu faltas.





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assombro pelo dia de hoje #4


não sei que fazer de mim nestas manhãs de verão. o corpo excede-me, em uníssono as fibras que não sei nomear reclamam a estranheza da estação. preparei-me em cinzas para Outubro, já não sei como habitar o azul. pesa-me aquilo que transporto comigo e a certeza de que são horas a mais para inventar novos hábitos. a noite despenha-se na massa espessa destes dias todos iguais. há qualquer coisa que me escapa neste tempo que passa, e temo que de súbito seja inverno, ou novo verão, e eu ainda aqui neste mesmo quarto povoado de espectros.





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dos monstros


Medusa

Na pura face do horror
resta um brilho antigo de estátua
e as duras linhas que se movem
sobre a pele calcária
de súbito se fazem translúcidas
e livres

flutuam pelo ar
abraçadas de silêncio e de morte.





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indentidade


little black spot é um nome que cresce em significância: a blogosfera amplia a noção da minha pequenez. a cada passo me torno minúscula, encolhida, insuficiente. a consciência da minha ignorância arrasa-me. entretanto, poderá acontecer que tão pequenina me faça que me torne invisível - se não para os outros, talvez para mim.





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ida e volta


fiz 300 km para ir à festa e regressei. não trouxe marido. trouxe apenas um artigo do Código Civil que contradiz o meu estado de ausência, um nome para finalmente procurar no Soulseek o que há meses me faltava, e a brevidade demasiada de pequenos encontros inesperados.
subitamente partilhamos a tristeza destas manhãs de verão em Outubro.





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quinta-feira, 9 de outubro de 2003



mais uma vez os enganos


a coisa que mais temo são os malentendidos. a confusão, o desencontro, o equívoco desastroso. tudo o que acidentalmente se assemelha à mentira, à traição, à falta de cuidado. tenho pouca habilidade para os gestos. talvez me explique demasiado por medo que me entendam mal. talvez haja em mim uma incapacidade de acomodar o que não é para ser compreendido.





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os pés juntos marcam o sítio de onde vejo o mundo


é assim. inesperadamente, de um golpe certeiro. subitamente o espaço torna-se infimamente pequeno, e o corpo encolhe-se para caber nele. a noite, desencontrada das sombras, não tem por onde cair. chega a manhã e avoluma-se a vertigem. o espaço torna-se agora demasiado grande. no plano macio dos lençóis, quem diria que se pudesse cair tão fundo?





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quarta-feira, 8 de outubro de 2003




desconcertante. não percebo porque é que o little black spot nunca recebeu visitas resultantes de pesquisas de gosto duvidoso. parece que vêm sempre inequivocamente à minha procura. reparem que ainda hoje vieram cá parar em busca da minha alma. 'your soul', diz o sitemeter.

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se tivermos em conta que os termos pesquisáveis na etiqueta publicitária que encima os blogs estão de algum modo relacionados com o conteúdo dos mesmos, certamente entenderão o meu constrangimento ao verificar durante dias sempre o mesmo 'itchy skin'. mas que raio é isto?
entretanto, o google redimiu-se, e estranhamente hoje apareceu-me uma quase-frase curiosa:

twin peaks * shine * love * tell me * cry * baby * mine * blue * down





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Re: Re: Re:

de mim costumo dizer que sou um girassol, que no fundo dos meus olhos brilham dois sóis negros. a tristeza é o meu ofício. vivo de verão, de sede de sol, definho e encolho-me no Outono à passagem das folhas caídas. levei anos a substituir o negro, o antracite do meu guarda-roupa pelos vermelhos e azuis. levei anos a deixar crescer o cabelo. os anos não aprenderam ainda a expulsar o deserto que me habita. 'pedra', 'sal', 'ruína' são as minhas plavras preferidas. de vez em quando. também tive um amor que me deixou no verão. um que, se morresse, me deixaria os olhos como dois sóis apagados.

for nostalgic moods: Around My Smile | Hope Sandoval & The Warm Inventions

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primeiro fiquei assombrada com isto. e a seguir veio isto.

Re:

«Habito a terra dos que passam. A morte é a minha maior especialização. Detesto a chuva nos pulsos, desconcerta-me quem se senta ao Sol. Tive um amor que deixei no Verão. Sofro dum mal de espanto, tenho um problema de estilo, sou vulgar. Hoje entristeci demais.»


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Re: Re:

«vieste assim triste é essa a sabedoria de prender
os corpos uma laranja que se solta
ao ritmo do coração desarranjado
as pessoas tristes não sabem soluçar
o pensamento está preso fundo muito fundo
e é por isso que apenas se deixam adivinhar»






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simplificando a geometria da paisagem #2


as ruas ladeadas
de plátanos esqueceram
quem somos
por onde passámos.





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assombro pelo dia de hoje #3


quanto tempo ainda até que das pedras cresçam árvores como cabelos? o cansaço assemelha-se a um pedaço de terra, como um peito cavalgado, um chão magoado que não sabe ainda ser húmus. quanto tempo até que o negro da ruína, ou a dor que ribomba sobre os ombros, encontre um outro corpo qualquer para desfigurar, ou talvez outras cordas para torcer?





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terça-feira, 7 de outubro de 2003




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Bavarian Fruit Bread | Hope Sandoval & The Warm Inventions


não sabia. a menina Hope Sandoval afinal tem mais trabalho recente. descobri-o hoje, acidentalmente. procurei, e já ouvi Drop e Butterfly Mornings. relembra Mazzy Star. a mesma melancolia, a mesma doçura triste e soturna. é aquela voz, aquela voz que escorrega das profundezas da saudade. e subitamente, eis que descobri mais música outonal. totalmente outonal [data de lançamento do álbum: 23 de Outubro de 2001].





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assombro pelos dias que virão




These silent words of conversation
Hold me now this adulation
See me now
Oh it's easy now

Falling like a silent paper
Holding on to what may be

And I only hear
Only hear the rain

And many rains turn to rivers
Winter's here
And there ain't nothing gonna change
The winds are blowing telling me all I hear
Oh it's a funny time of year
There'll be no blossom on the trees

Turning now I see no reason
The voice of love so out of season
I need you now
But you can't see me now
I'm travelling with no destination
Still hanging on to what may be


It's a funny time of year
I can see
There'll be no blossom on the trees
And time spent cryin' has taken me in this year
Oh it's a funny time of year
There'll be no blossom on the trees

Falling like a silent paper
Holding on to what may be
It's a funny time of year

I can see
There'll be no blossom on the trees
And time spent cryin' has taken me in this year


It's a funny time of year
I can see no blossom no blossom on the trees

Funny Time of Year | Beth Gibbons & Rustin Man





How can I forget your tender smile
Moments that I have shared with you
Our hearts may break
But they're on their way
And there's nothing I can do


Ohh...

So do what you gotta do
And don't misunderstand me
You know you don't ever have to worry 'bout me
I'd do it again

I can understand that it can't be
Guess it's hard as you were meant for me
But I can't hide my own despair
I guess I never will

Ohh...

So do what you gotta do
And don't misunderstand me
You know you don't ever have to worry 'bout me

I'd do it again

So tired of life
No fairytale
So hold your fire
'Cause I need you

Ohh...

Just do what you gotta do
And don't misunderstand me
You know you don't ever have to worry 'bout me
I'd do it again

Do what you gotta do
And don't misunderstand me
You keep going over every word that we've said
But you don't have to worry
About me

Tom the Model | Beth Gibbons & Rustin Man





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posted by saturnine | 00:35 |


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segunda-feira, 6 de outubro de 2003



assombro pelo dia de hoje #2


de que é que me lembro? que equívocos terei para contar quando já não houver vestígio deste vento? a certeza de que cada Outono é irrepetível, que não se detêm as mesmas árvores para que se aprenda o amor sob os seus ramos. não há uma única casa de paredes brancas na minha memória. invento a passagem dos dias como entre corredores estreitos e camisolas de lã. de que me lembro do que não fizemos?





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posted by saturnine | 13:32 | 0 Comentários


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assombro pelo dia de hoje


«(...) A morte é como os taberneiros: não pergunta a idade.
Serve-nos, indistintamente, cicuta em copos lavados
e convida-nos de rosto no chão para o último fandango.»

Manuel de Freitas | lido no campo de afectos, depois de o ter encontrado n' a natureza do mal.





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posted by saturnine | 11:42 | 0 Comentários


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a vida não é aqui


a cada minuto me desequilibro e tropeço e me precipito para a certeza da queda. movo-me desastrada pelas fibras densas da memória, na verdade nunca tive a delicadeza dos gestos que garante a firmeza dos passos. desmorono-me à passagem dos enganos. esqueço-me de continuar. permaneço enredada em sonhos impossíveis.





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posted by saturnine | 02:16 | 0 Comentários


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domingo, 5 de outubro de 2003




Which Will | Nick Drake

Which will you go for
Which will you love
Which will you choose from
From the stars above

Which will you answer
Which will you call
Which will you take for
For your one and all
And tell me now
Which will you love the best.

Which do you dance for
Which makes you shine
Which will you choose now
If you won't choose mine
Which will you hope for
Which can it be
Which will you take now
If you won't take me
And tell now
Which will you love the best.





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posted by saturnine | 22:58 | 0 Comentários


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space is the place


um dos motivos porque me fascina a ficção científica é a capacidade de provocar o espanto - em inglês o belíssimo 'awe'. este espanto deriva da introdução inesperada de pequenos momentos de reflexão existencial, em que os personagens ficcionados se tornam veículos de expressão de pequenas verdades substanciais sobre a natureza humana no Cosmos. hoje aconteceu-me muito simplesmente com o Babylon 5:

«só uma raça que possui um tempo de vida breve pode sentir a ilusão de que o amor é eterno.»

para isto não tenho palavras, nem é preciso.





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posted by saturnine | 20:58 | 0 Comentários


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Love Ridden | Fiona Apple

Love ridden, I’ve looked at you
With the focus I gave to my birthday candles
I’ve wished on the lidded blue flames
Under your brow
And baby, I wished for you

Nobody sees when you are lying in your bed
And I wanna crawl in with you
But I cry instead
I want your warm, but it will only make
Me colder when it's over
So I can’t tonight, baby

No, not ‘baby’ anymore - if I need you
I’ll just use your simple name
Only kisses on the cheek from now on
And in a little while, we’ll only have to wave

My hand won’t hold you down no more
The path is clear to follow through
I stood too long in the way of the door
And now I’m giving up on you

No, not ‘baby’ anymore - if I need you
I’ll just use your simple name
Only kisses on the cheek from now on
And in a little while, we’ll only have to wave






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posted by saturnine | 20:51 | 0 Comentários


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apresento-vos a diva do Outono




When The Pawn Hits The Conflicts He Thinks Like A King
What He Knows Throws The Blows When He Goes To The Fight
And He’ll Win The Whole Thing ‘Fore He Enters The Ring
There’s No Body To Batter When Your Mind Is Your Might
So When You Go Solo, You Hold Your Own Hand
And Remember That Depth Is The Greatest Of Heights
And If You Know Where You Stand, Then You Know Where To Land
And If You Fall It Won’t Matter, Cuz You’ll Know That You’re Right




o título mais longo de um álbum, que se conhece. e pensar que esperei este anos todos para compreender. esta senhora, que é pouco mais velha que eu, é um assombro. a sério. compõe, escreve e canta (não vamos falar no facto de que é linda de morrer). na música são visíveis as marcas do abismo. mas há toda aquela força, a voz
absolutamente outonal, e o jazz, o jazz inequivocamente presente na base de tudo, e resulta daí uma sonoridade apaixonante, cheia de gritos e silêncios, que não se explica por palavras.




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posted by saturnine | 20:15 | 0 Comentários


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sábado, 4 de outubro de 2003






para que Outubro passe
para que o vento venha
para que o fruto caia
algo em mim se destroça
e arde em soluços

[neste corpo de fogo e chão
em polpa e terra
me desmancho].





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posted by saturnine | 01:14 |


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spot player special




"us people are just poems"
[ani difranco]


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calamity.spot[at]gmail.com



~*. through the looking glass .*~




little black spot | portfolio
Baucis & Philemon | tea for two
os dias do minotauro | against demons
menina tangerina | citrus reticulata deliciosa
the woman who could not live with her faulty heart | work in progress
pale blue dot | sala de exposições
o rosto de deus | fairy tales








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~*. rearview mirror .*~


maio 2003 . junho 2003 . julho 2003 . agosto 2003 . setembro 2003 . outubro 2003 . novembro 2003 . dezembro 2003 . janeiro 2004 . fevereiro 2004 . março 2004 . abril 2004 . maio 2004 . junho 2004 . julho 2004 . agosto 2004 . setembro 2004 . outubro 2004 . novembro 2004 . dezembro 2004 . janeiro 2005 . fevereiro 2005 . março 2005 . abril 2005 . maio 2005 . junho 2005 . julho 2005 . agosto 2005 . setembro 2005 . outubro 2005 . novembro 2005 . dezembro 2005 . janeiro 2006 . fevereiro 2006 . março 2006 . abril 2006 . maio 2006 . junho 2006 . julho 2006 . agosto 2006 . setembro 2006 . outubro 2006 . novembro 2006 . dezembro 2006 . janeiro 2007 . fevereiro 2007 . março 2007 . abril 2007 . maio 2007 . junho 2007 . julho 2007 . agosto 2007 . setembro 2007 . outubro 2007 . novembro 2007 . dezembro 2007 . janeiro 2008 . fevereiro 2008 . março 2008 . abril 2008 . maio 2008 . junho 2008 . julho 2008 . agosto 2008 . setembro 2008 . outubro 2008 . novembro 2008 . dezembro 2008 . janeiro 2009 . fevereiro 2009 . março 2009 . abril 2009 . maio 2009 . junho 2009 . julho 2009 . agosto 2009 . setembro 2009 . outubro 2009 . novembro 2009 . dezembro 2009 . janeiro 2010 . fevereiro 2010 . março 2010 . maio 2010 . junho 2010 . julho 2010 . agosto 2010 . outubro 2010 . novembro 2010 . dezembro 2010 . janeiro 2011 . fevereiro 2011 . março 2011 . abril 2011 . maio 2011 . junho 2011 . julho 2011 . agosto 2011 . setembro 2011 . outubro 2011 . janeiro 2012 . fevereiro 2012 . março 2012 . abril 2012 . maio 2012 . junho 2012 . setembro 2012 . novembro 2012 . dezembro 2012 . janeiro 2013 . janeiro 2014 . julho 2015 .


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~*. spying glass .*~


a balada do café triste . ágrafo . albergue dos danados . almanaque de ironias menores . a natureza do mal . animais domésticos . antologia do esquecimento . arquivo fantasma . a rute é estranha . as aranhas . as formigas . as pequenas estruturas do ócio . atelier de domesticação de demónios . atum bisnaga . auto-retrato . avatares de um desejo . baggio geodésico . bananafish . bibliotecário de Babel . bloodbeats . caixa-de-lata . casa de cacela . chafarica iconoclasta . coisa ruim . com a luz acesa . comboio de fantasmas . complicadíssima teia . corpo em excesso de velocidade . daily make-up . detective cantor . dias com árvores . dias felizes . e deus criou a mulher . e.g., i.e. . ein moment bitte . em busca da límpida medida . em escuta . estado civil . glooka . i kant, kant you? . imitation of life . isto é o que hoje é . last breath . livros são papéis pintados com tinta . loose lips sink ships . manuel falcão malzbender . mastiga e deita fora . meditação na pastelaria . menina limão . moro aqui . mundo imaginado . não tenho vida para isto . no meu vaso . no vazio da onda . o amor é um cão do inferno . o leitor sem qualidades . o assobio das árvores . paperback cell . pátio alfacinha . o polvo . o regabofe . o rosto de deus . o silêncio dos livros . os cavaleiros camponeses no ano mil no lago de paladru . os amigos de alex . Paris vs. New York . passeio alegre . pathos na polis . postcard blues . post secret . provas de contacto . respirar o mesmo ar . senhor palomar . she hangs brightly . some variations . tarte de rabanete . tempo dual . there is only 1 alice . tratado de metatísica . triciclo feliz . uma por rolo . um blog sobre kleist . vazio bonito . viajador


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~*. the bell jar .*~



os lugares comuns: against demons . all work and no play . compêndio de vocações inúteis  .  current mood . filosofia e metafísica quotidiana . fruta esquisita menina aflita . inventário crescente de palavras mais-que-perfeitas . miles to go before I sleep . música no coração  .  música para o dia de hoje . o ponto de vista dos demónios . planos para dominar o mundo . this magic moment  .  you came on like a punch in the heart . you must believe in spring


egosfera: a infância . a minha vida dava um post . afirmações identitárias . a troubled cure for a troubled mind . april was the cruellest month . aquele canto escuro que tudo sabe . as coisas que me passam pela cabeça . fruto saturnino (conhecimento do inferno) . gotham style . mafarricar por aí . Mafia . morto amado nunca mais pára de morrer . o exílio e o reino . os diálogos imaginários . os infernos almofadados . RE: de mail . sina de mulher de bandido . the woman who could not live with her faulty heart . um lugar onde pousar a cabeça   .  correio sentimental


scriptorium: (des)considerações sobre arte . a noite . and death shall have no dominion . angularidades . bicho escala-estantes . do frio . do medo . escrever . exercícios . exercícios de anatomia . exercícios de respiração . exercícios de sobrevivência . Ítaca . lunário . mediterrânica . minimal . parágrafos mínimos . poemas . poemas mínimos . substâncias . teses, tratados e outras elocubrações quase científicas  .  um rumor no arvoredo


grandes amores: a thing of beauty is a joy forever . grandes amores . abraços . Afta . árvores . cat powa . colectânea de explicações avulsas da língua portuguesa  .  declaração de amor a um objecto . declaração de amor a uma cidade . desolação magnífica . divas e heróis . down the rabbit hole . drogas duras . drogas leves . esqueletos no armário . filmes . fotografia . geometrias . heart of darkness . ilustraçãoinício . matéria solar . mitologias . o mar . os livros . pintura . poesia . sol nascente . space is the place . the creatures inside my head . Twin Peaks . us people are just poems . verão  .  you're the night, Lilah


do quotidiano: achados imperdíveis . acidentes quotidianos e outros desastres . blogspotting . carpe diem . celebrações . declarações de emergência . diz que é uma espécie de portfolio . férias  .  greves, renúncias e outras rebeliões . isto anda tudo ligado . livro de reclamações . moleskine de viagem . níveis mínimos de suporte de vida . o existencialismo é um humanismo . só estão bem a fazer pouco


nomes: Aimee Mann . Al Berto . Albert Camus . Ana Teresa Pereira  . Bauhaus . Bismarck . Björk . Bond, James Bond . Camille Claudel . Carlos de Oliveira . Corto Maltese . Edvard Munch . Enki Bilal . Fight Club . Fiona Apple . Garfield . Giacometti . Indiana Jones . Jeff Buckley  .  Kavafis . Klimt . Kurt Halsey . Louise Bourgeois . Malcolm Lowry . Manuel de Freitas . Margaret Atwood . Marguerite Duras . Max Payne . Mia Couto . Monty Python . Nick Drake . Patrick Wolf  .  Sophia de Mello Breyner Andresen . Sylvia Plath . Tarantino . The National . Tim Burton


os outros: a natureza do mal . amigos . dedicatórias . em busca da límpida medida . retalhos e recortes



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...it's full of stars...


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