sábado, 22 de dezembro de 2012



.~*~. Making Christmas time! .~*~.



fig. 1
© little black spot 2012




A infância é um lugar estranho. À distância, mantém-nos ligados a si como uma correia subtil, que cresce connosco, apaziguando as dores do crescimento. Esta época, mais do que por qualquer outra razão, é especial por causa das raízes profundas que tem nesse território desconhecido, tão fascinante quanto assustador - a memória de ter sido criança. Por isso, venha a crise ou o apocalipse, nós aqui somos como a Antígona - não nos vergamos contra as desgraças - e se calhamos de acordar de um sonho terrível com o primeiro ministro de Portugal (céus, são mesmo sinais do fim dos tempos!), atiramos-lhe com a magia festiva para cima! A fórmulan infalível, por aqui, compreende:


* visionamento da trilogia "Senhor dos Anéis", do "Nightmare Before Christmas" e de um arbitrário filme de domingo (de entre uma panóplia selectiva, que pode estender-se desde o "A Series of Unfortunate Events" até ao "Edwardo Mãos-de-Tesoura");
* leituras de estimação: "Good Omens", de Terry Pratchett e Neil Gaiman, ou qualquer livro de Tolkien;
* comer biscoitos de gengibre como se não houvesse amanhã, disfarçados com chá de hortelá e canela;
* ouvir músicas de Natal com, pelo menos!, 30 anos de idade;
* fazer postais natalícios personalizados para a família e amigos (conferir fig. 1);



E para começar já, já, já:





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posted by saturnine | 13:17 | 0 Comentários


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quarta-feira, 17 de agosto de 2011



How to disappear or not to disappear completely


Um dia, decidi fazer da minha vida um blog, porque não tinha nada melhor que fazer com ela. Traduzi-me num pequeno ponto preto, cheio de inspirações monolíticas, e esse foi o meu melhor exercício de identidade. Nunca uma fuga tão inútil - de si mesmo, para dentro - tão bem se disfarçou de uma vontade de aproximação. A minha inabilidade pessoal e social fez de mim uma excelente blogger, por um tempo determinado (uma das minhas mais sublimes vocações inúteis).

Não esperava que iria um dia crescer, e que esse crescimento iria deixar o rasto da minha fuga a descoberto, reluzindo como o branco do osso no centro de uma fractura exposta. As ligações que, em plena fuga, estabeleci, apresentam-se-me agora na terminação de braços que se agitam, mas não se ligam a coisa nenhuma. Um dia, subitamente, algo abranda, suspende-se a fuga. Agora, tenho habilidades, acreditem-me. Só que estou já demasiado longe e deixei demasiada coisa para trás, não é? É, pois.

As minhas 100 visitas diárias há muito tendem progressivamente para zero, o que me parece perfeitamente de acordo com a minha muito antiga premonição de que um dia este pequeno ponto preto iria encolher encolher encolher até desaparecer completamente. Estou em pleno deserto e sou um mero grão de areia. Aprendi a gostar de cortar as folhas velhas sem remorso. Por agora, meus amigos, este blog está em pause.





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posted by saturnine | 19:03 | 10 Comentários


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domingo, 29 de maio de 2011



Q & A


Não resisto às coisas inúteis. Por isso mesmo, seguindo este mote, deixei as coisas importantes de lado e tratei de responder:


1 – Existe um livro que lerias e relerias várias vezes?
Existem vários. Os livros que mais me marcam vão sendo relidos, na medida do possível, para as histórias não se deixarem esbater pela passagem do tempo. Todos livros da Flannery O'Connor, todos os do Ruan Rulfo, todos os do Malcom Lowry, todos os do Tonino Guerra, pff, tantos. E, ainda assim, o tempo não chega para reler tudo aquilo que gostaria, especialmente quando ainda há tanto para ler pela primeira vez.


2 – Existe algum livro que começaste a ler, paraste, recomeçaste, tentaste e tentaste e nunca conseguiste ler até ao fim?
Há, sim. "A Ordem Natural das Coisas", de António Lobo Antunes. Esse venceu-me, e tive que me assumir derrotada. Nunca vi coisa tão intragável, e olhem que eu li "A Sibila" de fio a pavio.


3 – Se escolhesses um livro para ler para o resto da tua vida, qual seria ele?
Isto é o mesmo que a primeira pergunta, não é? Se fosse só um, suponho que seria a "Odisseia" de Homero. (adenda: depois de ter pensado melhor, acho que seria o "Livro do Desassossego", de Bernardo Soares.)


4 – Que livro gostarias de ter lido mas que, por algum motivo, nunca leste?
50% dos livros que tenho nas minhas estantes, ainda em fila de espera. Um cuja falha mais me aborrece é o "Ofício de Viver", de Cesare Pavese.


5 - Que livro leste cuja ‘cena final’ jamais conseguiste esquecer?
Normalmente, são as cenas finais as primeiras que esqueço. Vá-se lá saber porquê. Lembro-me sempre muito melhor de como os livros começam. Talvez porque, na verdade, seja muito mais raro encontrar um final que realmente me impressione tanto como o resto do miolo. Aquele que me recordo melhor será, talvez, o d'"A Estrada" de Cormac McCarthy.


6 - Tinhas o hábito de ler quando eras criança? Se lias, qual era o tipo de leitura?
Tinha, pois. Tinha inclusive o hábito de ler às escondidas, pela noite dentro, depois da hora do "recolher obrigatório" e de, por essa razão, ser uma dor de cabeça constante para os meus pais, que sabiam que um livro novo não me entretinha durante uma semana, como gostariam. Era particularmente fã de aventuras, mistério, fantasia, the works. Suponho que seja por isso que me tornei muito cedo fã de Hitchcock.


7 - Qual o livro que achaste chato mas ainda assim leste até ao fim? Porquê?
Até já falei dele. "A Sibila", da Agustina Bessa-Luís.


8 - Indica alguns dos teus livros preferidos.
Alguns. Só mesmo alguns, e sem qualquer tipo de ordem de preferência.

"Tudo o que sobe deve convergir", Flannery O'Connor
"Debaixo do Vulcão", Malcolm Lowry
"O mar, o mar", Iris Murdoch
"O Mundo (é a rua da tua infância)", Juan José Millás
"O livro das igrejas abandonadas", Tonino Guerra
"O Ponto de Vista dos Demónios", Ana Teresa Pereira
"Antígona", Sófocles
"A Estrada", Cormac McCarthy
"Memorial do Convento", José Saramago
"Pedro Páramo", Juan Rulfo
"Contos de S. Petersburgo", Nikolai Gogol
"As Cidades Invisíveis", Italo Calvino
"Os Passos em Volta", Herberto Helder
"Os Pássaros e Outros Contos Macabros", Daphne du Maurier
"Teoria da Viagem", Michel Onfray


9 - Que livro estás a ler neste momento?
Contos da Katherine Mansfield. "O Garden-Party" e "A Viagem Indiscreta".


10 - Indica dez amigos para o Meme Literário:
Algum dos meus dez leitores habituais. Façam o favor de se servir, isto aqui é tipo buffet.





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posted by saturnine | 19:27 | 4 Comentários


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quarta-feira, 11 de agosto de 2010



foi assim:


As férias de verão - para quem gosta do verão, como eu - representam o melhor momento do ano, a hipótese de fazer um reboot, de esvaziar a cabeça das agruras do inverno, de esquecer que a vida é difícil e começar de novo. Este ano, pela primeira vez, regressei a casa sabendo que é a minha casa, que esteve fechada e sozinha este tempo todo à minha espera, e essa sensação é, de igual modo, reparadora. Deve estar na altura de reler a Teoria da Viagem do Michel Onfray, é o que é.


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Depois de ter visto este post do Bibliotecário de Babel, não resisti a elaborar mentalmente, de imediato, os meus próprios resumos de férias. Em particular, porque temos alguns lugares em comum. Assim, se eu fosse fazer um top das melhores experiências de férias, seria qualquer coisa como isto:


Melhor areal: Praia da Falésia (Açoteias)
Melhor banho de mar: Praia do Cabeço (Azinhal)
Melhor passeio de fim de tarde (com direito a ostras e amêijoas): Cacela Velha, onde as ruas têm todas nomes de poetas
Melhor restaurante: Sacas (Zambujeira do Mar)
Melhor descoberta gastronómica (doce): bolo de gila e amêndoa, no Azinhal
Melhor objecto: a combinação guarda-sol/cadeira de lona, para as leituras no areal
Melhor céu nocturno: Aljezur (a 4km da povoação)





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terça-feira, 10 de agosto de 2010



colecção de azuis-perfeitos













Fui e voltei. Sul rima com azul e não é por acaso. Consegui a minha colecção de azuis-perfeitos. Lavei a alma em água salgada a 26º centígrados. Gosto do barulho do mar durante o mergulho. Gosto dos cheiros do verão, a ervas secas e a figos e a buganvílias, e gosto dos sabores refinados da comida quando se come com apetite. Voltei a procurar constelações ao som do canto das cigarras. Reconciliei-me.

Fui a mais um festival, contrariada, na minha aversão às multidões, à procura da comoção. Gosto de Beirut e daquilo que me dizem as suas músicas, que se fixam na memória como postais ilustrados de momentos fugazes. Mas foi fraquinho, não houve magia, não chegou para aquecer o coração. A lagrimita no canto do olho pela Elephant Gun vinha de dentro, do que ouvia na minha própria cabeça. Lá, não brilhou. Valham-nos as bandas sonoras de estrada, cuidadosamente planeadas, para compensar.






Vetiver | More of This






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quinta-feira, 29 de julho de 2010



the dog days are over




© Gil Elvgren



Vou por aí. Vou em busca da minha merecida dose de sol, mar, areia, sal, verão. Férias, carai. Vou ali lavar a alma e já venho. Vou limpar o corpo do mofo de um longo inverno e vou fazer da praia o meu bálsamo contra as dores de crescimento. Vou com Florence ans The Machine a abrir a banda sonora e vou convicta de ir em direcção às noites perfumadas, ao céu despovoado do sul, à minha colecção de azuis-perfeitos. Vou só ali ser feliz um instante. Até breve.





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segunda-feira, 26 de julho de 2010



keep it simple: less is more


Gosto do sul porque vivo no hemisfério norte. A minha identidade é mediterrânica. Se vivesse abaixo da linha do Equador, não sei como seriam os meus desejos de evasão. Sei que aqui, onde brotei, preciso de ir fazer a minha fotossíntese onde o sol é mais inclemente e o céu é despovoado. Preciso desse silêncio, que existe só dentro da minha cabeça. Sou coleccionadora de azuis perfeitos, por isso sofro com as nuvens. Gosto do verão minimalista.




© little black spot | 2008






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terça-feira, 23 de março de 2010



being idle #1


Se fosse enunciar alguns dos meus prazeres ociosos, a coisa passaria mais ou menos por escrever; comer cerejas durante todo o dia, sob todos os pretextos, como se não houvesse amanhã; cozinhar só para mim, quando não há mais ninguém por perto, requintadas refeições, como cogumelos Portobello recheados e gratinados no forno com folhadinhos de requeijão com espinafres e azeitonas; folhear livros de receitas apetitosas, com fotografias de fazer crescer água na boca, imaginando quão saborosas serão, mas que muito provavelmente nunca irei experimentar; ter um gato ao colo, afundando as mãos na sua barriga fofinha e felpuda, enquanto o seu ronronar me acalma e embala; passear em livrarias, escrutinando todas as estantes e todas as preciosidades, como se tivesse todo o tempo do mundo, mesmo que não tenha no fim de contas dinheiro para comprar nada; ficar deitada na areia da praia, de olhos fechados, sentindo um crescente rejúbilo enquanto o sol me aquece a pele, ouvindo ao longe os gritos das crianças a brincar, enquanto o cheiro do protector solar se mistura com o odor da maresia.

Este é um dos meus prazeres mais antigos. Situa-se bem enrarizado nas memórias afectivas da infância e transporta-me para os longos verões que passava na praia com os meus primos (que eram os meus irmãos, no final de contas), onde o ponto de encontro era sempre debaixo da bola gigante da Nivea (ainda hoje não sei, sendo a praia tão vasta, como é que toda a gente marcava encontro debaixo da bola da Nivea, e toda a gente se encontrava), onde fazíamos das toalhas turbantes e véus, e onde me lembro, desde sempre, de aprender aquilo que reencontrei continuamente nos poemas de Sophia de Mello Breyner, anos mais tarde: mergulhar, nadar, brincar nas rochas, sabendo que é com o sal do mar que se sacode a poeira do desencontro e se parte em busca da límpida medida.





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segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010



da sobrevivência como um exercício de estilo


tenho-me deparado com um problema que me tem tirado uma boa quota parte do sono que por estes dias tenho perdido. é um problema de estilo que ainda não consegui resolver e portanto, como será evidente, um problema gravíssimo. trata-se da falta de uma expressão adequada que designe um estado desadequado. vejamos: sofrer de um mal psicossomático é a coisa mais simples do mundo. quase toda a gente que conheço não regula bem da cabeça e, portanto, funciona assim. a cabeça é fodida e dá cabo do corpo sempre que pode. o problema é que eu sou o inverso - não somatizo no meu pobre corpinho as dores da alma, mas, de forma assertiva e categórica, as dores do corpinho fustigam-me a alma até à depressão. o problema é quase epistemológico. eu não tenho um nome para a natureza deste estado. como é que é um psicossomático ao contrário?





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domingo, 18 de outubro de 2009



man, it was really fast!


não dormi durante quarenta e oito trinta e seis horas (e a prova disso é que ainda não recuperei a habilidade para fazer contas). passei o limbo da directa e sobrevivi - não sem a difusa memória de me ter metamorfoseado em abóbora e em zombie e num ser vagamente alucinado com lentes de contacto pregadas aos olhos. andei pelas ruas com sapos príncipes e lagostas, OVNI's e joaninhas voa-voa, rãs saltitonas e cogumelos gigantes. estive no meio de uma alucinação colectiva com o Darth Vader, mas o Darth Vader perdeu-se e não apareceu. corremos pela rua fora em direcção à Velha-a-Branca de computador na mão ainda a renderizar um filme. conseguimos entregar o filme, mas esquecemo-nos da cena final. no fim da noite, a exibição dos filmes transformou-se num fiasco devido a uma série de problemas técnicos e assim pudemos culpar a organização. no meio disto tudo, comprovou-se que a Lei de Murphy e seus corolários são uma das únicas verdades universas incontestáveis, e ao longo de cerca de 24 horas pudemos perceber que, não só


If anything can go wrong, it will go wrong



mas também que


If anything simply cannot go wrong, it will anyway




e acima de tudo que


If there is a worse time for something to go wrong, it will happen then




sim, estivemos no Fast Forward e foi a puta da loucura. thumbs up, voltamos para o ano.



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terça-feira, 29 de setembro de 2009



meter o lixo debaixo do tapete


o grande e insuperável benefício da passagem dos anos é a questão da perspectiva: o abrandamento inevitável, ainda que possa assinalar uma dura transição, tem sempre a vantagem de permitir desfrutar muito mais da paisagem. e, em retrospectiva, as grandes causas já não parecem assim tão grandes. em compensação, o universo alarga-se um pouquinho mais além do círculo do próprio umbigo. digo eu, claro, que vivi fechada dentro da minha própria cabeça quase até aos 30 anos, e percebi entretanto que é fixe estar a par das coisas que acontecem no mundo à nossa volta. ainda que, na generalidade, as pessoas me aborreçam e me cause fastio a maioria das coisas que com elas se relacionam.
há que assumi-lo, é muito pouco aquilo que me desperta verdadeiro interesse... os meus livros, os meus discos, os amigos e a família, o amor, o tempo livre para não fazer a ponta de um chavo. depois, vem o trabalho que, apesar de dever ser proibido por lei, sempre ajuda a definir identidade e carácter. e vá... se não é ele próprio causador de depressão, sempre pode ajudar a escapar-lhe.isto tudo para dizer que eu era um ser extremamente parvo aos 20 anos. e já era um bocado parva na adolescência. são, portanto, muitos anos de parvoíce que eu, de bom grado, esconderia debaixo do tapete. nessa impossibilidade, surge o auxílio da perspectiva: 'estou muito mlhor agora.'

este já foi um blog de muitas coisas: de arte, de música, de livros, de astronomia, de parvoíces, de escrita, de cartoons, de correspondência sentimental, and soi on and soi on... sempre tudo ao molho e fé em dEUS. já teve 300 000 layouts diferentes, com sidebar, sem sidebar, já teve descrição e depois teve legenda, já foi tão sério que dava vontade de rir, já cometeu bloguicídio várias vezes, mas voltou sempre, já foi pateta, já foi melodramático, já foi super cool, já foi aquilo que me ia apetecendo que ele fosse. um pouco bipolar, vagamente esquizo aqui e ali, eu prefiro dizer que ecletismo é a palavra de ordem. a verdade é que estão aqui 6 anos da minha vida. este blog torna-se inequivocamente uma espécie de diário. de viagem, diria. há-de continuar, sobre tudo e sobre nada, essencialmente veículo da minha posta de pescada ocasional. afinal de contas, a minha vida dava bué de posts.





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quinta-feira, 27 de agosto de 2009



compêndio de vocações inúteis #2


o Senhor Palomar deixa-me vagamente nervosa. eu, que só tenho acesso à internet escassas horas por dia - quando o trabalho e um certo tipo de lazer incompatível com paredes fechadas (*) estão despachados -, fico perturbada quando o Google Reader me diz que tenho p'ra cima de 300 posts novos para ler. o Senhor Palomar não pára quieto e eu assim não consigo concentrar-me. imaginem se me dava para clicar naquele botão miraculoso do Google Reader que basicamente permite fingir que já se leu aquela cena toda? podia ter-me escapado isto:

mais um item para o meu rol de vocações inúteis, um achado imperdível, uma daquelas descobertas que me faz tremelicar toda de emoção e sorrir muito por dentro com um certo sorriso mafarrico. a verdadeira bola de cristal da leitura, o fantástico Book Seer. é como pagar a alguém para nos dizer aquilo que gostamos de ouvir, com a única diferença que é de graça. depois de eu lhe ter dito que tinha acabado de ler Debaixo do Vulcão de Malcolm Lowry (**), ele recomendou-me ler - entre outras coisas - o 2666 do Bolaño. obviamente, trata-se de um sinal. está tudo escrito nas estrelas. (***)
e eu faço anos daqui a menos de 30 dias.






(*) já dizia o René Char, aquele que acredita no girassol, não medioatrá dentro de casa.

(**) o meu pequeno drama trata-se de perceber agora se serei capaz de pegar num outro livro, qualquer que seja, depois deste atropelo que foi o Lowry. parece que estive mas é a escalar o vulcão.

(***) já quando lhe perguntei o que me recomendaria se tivesse acabado de ler O mar, o mar, da Iris Murdoch, o tipo recomenda-me toda a restante obra da autora, e eu estou em crer que a esse palpite eu poderia bem ter chegado sozinha.





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compêndio de vocações inúteis #2


o Senhor Palomar deixa-me vagamente nervosa. eu, que só tenho acesso à internet escassas horas por dia - quando o trabalho e um certo tipo de lazer incompatível com paredes fechadas estão despachados -, fico perturbada quando o Google Reader me diz que tenho p'ra cima de 300 posts novos para ler. o Senhor Palomar não pára quieto e eu assim não consigo concentrar-me. imaginem se me dava para clicar naquele botão miraculoso do Google Reader que basicamente permite fingir que já se leu aquela cena toda? podia ter-me escapado isto:

mais um item para o meu rol de vocações inúteis, um achado imperdível, uma daquelas descobertas que me faz tremelicar toda de emoção e sorrir muito por dentro com um certo sorriso mafarrico. a verdadeira bola de cristal da leitura, o fantástico Book Seer é como pagar a alguém para nos dizer aquilo que gostamos de ouvir, apenas com a diferença que aqui a conselhia é de graça.





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domingo, 18 de janeiro de 2009



troféu amargo


depois de muitos anos de treino intensivo e contínua auto-superação, eis que me chega finalmente a nomeação: idiota profissional. não é para qualquer um.





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terça-feira, 16 de dezembro de 2008



compêndio de vocações inúteis #1


o Paulo, sem grande esforço, impingiu-me um vício digno de figurar a par das minhas vocações inúteis que não garantem sustento: a admiração contemplativa do exercício da sátira. Married To The Sea, it is. isto podia ser uma espécie de current mood.











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segunda-feira, 15 de dezembro de 2008



declaração de fim de ano


os balanços de fim de ano constrangem-me e perturbam-me especialmente porque

a) eu já passo o ano todo em balanços - em desequilíbrio constante, cai-não-cai, oscila para aqui, tomba para ali, sempre em busca de um equilíbrio precário, qual Humpty Dumpty em cima do muro;

b) não percebo honestamente como é que alguém se consegue lembrar das coisas todas de um ano inteiro para depois dizer categoricamente ora então estas foram assim as melhores e as piores, por ordem directa descendente. (já para não dizer que me recuso terminantemente a comentar essa coisa de que ouço falar, diz que há gente que tem tudo organizado em listas de Excel, a vida toda arrumada em gavetas perfeitamente organizadas e localizáveis.)


ainda assim, vou agora mesmo demorar-me num balanço de fim de ano. é que o olhar para trás é inevitável. um ano é um ciclo, e como sempre, cada ciclo é como um círculo, que se quer fechado. olha-se para trás em busca das pontas soltas. onde estive e o que fiz para chegar até aqui? (mais) 12 meses pesam em cima do corpo. não pretendendo deter-me em longas enunciações/enumerações, este foi por excelência o ano da Ana Teresa Pereira e da Iris Murdoch (o que acrescenta mais uma à minha lista de vocações inúteis, que não garantem sustento).

de resto, vejamos: o ano passado, foi um encolhimento só. houve Odawas, houve The National, houve Richard Haley, tudo o que era frio e nocturno tomou conta de tudo o resto. passei um ano nos subterrâneos. o que 2008 me trouxe de bom foi a trégua do verão: Vampire Weekend e Fleet Foxes, duas pérolas maravilhosas que efectivamente salvaram a minha vida ao puxar-me para o sol. não é assim com tanta frequência que qualquer coisa me soa francamente nova e surpreendente e apaixonante. et voilà!, de uma vez só o inesperado em duplicado.

é claro que não posso esquecer que 2008 foi também o ano de Scout Niblett [This Fool Can Die], que quase poderia desmanchar o meu sossego e atirar-me de volta para junto daquele canto escuro que tudo sabe e me olha sempre, permanentemente vigilante, não fosse eu saber já que há canções que matam mas também há canções salva-vidas, e por vezes a mesma de que morremos nos traz depois a cura. não fosse eu saber que onde há muito amor há também muito medo, mas não deixa de haver muito amor, e que neste diálogo entre a Scout Niblett e o Bonnie "Prince" Billy


If I'm to be the fool
Then so it be
This fool can die now
With a heart that's soaked

(...)

My heart is charged now
Oh, it's dancing in my chest
And I fly when I walk now
From the spell in that kiss


Kiss




há sobretudo o sobressalto da alegria inesperada. uma canção é um veneno tanto quanto é um amuleto. à chegada do outono, um disco que era noite cerrada, fez-se subitamente claro, com a primeira luz da manhã. um corpo olhando outro corpo, recitando mentalmente cada passo necessário para desenhar uma boca no rosto do outro, secretamente dizendo


What a way to start a fire
Broken with the break of day


Kiss






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quarta-feira, 22 de outubro de 2008



frases feitas com títulos de livros


a mim também ninguém me perguntou nada, mas já se sabe que eu não posso ver nada que quero logo imitar também.

primeiro ensaio: os livros pousados na estante. não fazem frase nenhuma, mas têm uma sequência semântica que tem o seu quê de curioso:



© little black spot






segundo ensaio e seguintes: posso bem ter descoberto uma outra vocação/ocupação/obsessão de tempos livres:





"Se nos encontrarmos de novo quando atravessares o rio, beau séjour. O amor... o amor é fodido."







"Ontem, através do canal do Panamá, as ondas. A espuma dos dias, é tudo."







"Para além do Bem e do Mal, Prometeu agrilhoado, o homem revoltado: 'que farei quando tudo arde?'"

© little black spot






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segunda-feira, 12 de abril de 2004



:: moradia ::


no verão passado, interrogávamo-nos sobre a nossa chegada aqui, sobre a natureza dos weblogs (nunca cederei à deturpação do pindérico blogue), sobre a nossa vontade de escrita, sobre o que nos fazia estar aqui. eu lembro-me de pensar nisto como uma casa de férias, onde viria de vez em quando, repousar a vista cansada das urbes cheias de movimento frenético. o pequeno apartamento imaginado acabou converter-se numa autêntica moradia, que nunca mais abandonei desde então, porque encontrei aqui a medida justa das minhas aspirações. aqui dentro, mesmo se não é verão, mesmo o que dói e o que está frio, estão próximos da ternura. de tudo o que escrevo faço ferida, arrancando as palavras à matéria do silêncio, e à distância nutro afecto pela memória dessas feridas, se graças a elas me deitei numa noite longa sobre cinzas, aguardando o regresso da luz prometida.


«(...) consolemo-nos das nossas amargas mágoas, fazendo-as vir à lembrança! As próprias provações têm uma certa doçura para o homem que muito sofreu, muito vagueou.»

fala de Eumeu a Ulisses, disfarçado de mendigo
Odisseia | Homero




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spot player special




"us people are just poems"
[ani difranco]


*

calamity.spot[at]gmail.com



~*. through the looking glass .*~




little black spot | portfolio
Baucis & Philemon | tea for two
os dias do minotauro | against demons
menina tangerina | citrus reticulata deliciosa
the woman who could not live with her faulty heart | work in progress
pale blue dot | sala de exposições
o rosto de deus | fairy tales








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~*. rearview mirror .*~


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~*. spying glass .*~


a balada do café triste . ágrafo . albergue dos danados . almanaque de ironias menores . a natureza do mal . animais domésticos . antologia do esquecimento . arquivo fantasma . a rute é estranha . as aranhas . as formigas . as pequenas estruturas do ócio . atelier de domesticação de demónios . atum bisnaga . auto-retrato . avatares de um desejo . baggio geodésico . bananafish . bibliotecário de Babel . bloodbeats . caixa-de-lata . casa de cacela . chafarica iconoclasta . coisa ruim . com a luz acesa . comboio de fantasmas . complicadíssima teia . corpo em excesso de velocidade . daily make-up . detective cantor . dias com árvores . dias felizes . e deus criou a mulher . e.g., i.e. . ein moment bitte . em busca da límpida medida . em escuta . estado civil . glooka . i kant, kant you? . imitation of life . isto é o que hoje é . last breath . livros são papéis pintados com tinta . loose lips sink ships . manuel falcão malzbender . mastiga e deita fora . meditação na pastelaria . menina limão . moro aqui . mundo imaginado . não tenho vida para isto . no meu vaso . no vazio da onda . o amor é um cão do inferno . o leitor sem qualidades . o assobio das árvores . paperback cell . pátio alfacinha . o polvo . o regabofe . o rosto de deus . o silêncio dos livros . os cavaleiros camponeses no ano mil no lago de paladru . os amigos de alex . Paris vs. New York . passeio alegre . pathos na polis . postcard blues . post secret . provas de contacto . respirar o mesmo ar . senhor palomar . she hangs brightly . some variations . tarte de rabanete . tempo dual . there is only 1 alice . tratado de metatísica . triciclo feliz . uma por rolo . um blog sobre kleist . vazio bonito . viajador


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~*. the bell jar .*~



os lugares comuns: against demons . all work and no play . compêndio de vocações inúteis  .  current mood . filosofia e metafísica quotidiana . fruta esquisita menina aflita . inventário crescente de palavras mais-que-perfeitas . miles to go before I sleep . música no coração  .  música para o dia de hoje . o ponto de vista dos demónios . planos para dominar o mundo . this magic moment  .  you came on like a punch in the heart . you must believe in spring


egosfera: a infância . a minha vida dava um post . afirmações identitárias . a troubled cure for a troubled mind . april was the cruellest month . aquele canto escuro que tudo sabe . as coisas que me passam pela cabeça . fruto saturnino (conhecimento do inferno) . gotham style . mafarricar por aí . Mafia . morto amado nunca mais pára de morrer . o exílio e o reino . os diálogos imaginários . os infernos almofadados . RE: de mail . sina de mulher de bandido . the woman who could not live with her faulty heart . um lugar onde pousar a cabeça   .  correio sentimental


scriptorium: (des)considerações sobre arte . a noite . and death shall have no dominion . angularidades . bicho escala-estantes . do frio . do medo . escrever . exercícios . exercícios de anatomia . exercícios de respiração . exercícios de sobrevivência . Ítaca . lunário . mediterrânica . minimal . parágrafos mínimos . poemas . poemas mínimos . substâncias . teses, tratados e outras elocubrações quase científicas  .  um rumor no arvoredo


grandes amores: a thing of beauty is a joy forever . grandes amores . abraços . Afta . árvores . cat powa . colectânea de explicações avulsas da língua portuguesa  .  declaração de amor a um objecto . declaração de amor a uma cidade . desolação magnífica . divas e heróis . down the rabbit hole . drogas duras . drogas leves . esqueletos no armário . filmes . fotografia . geometrias . heart of darkness . ilustraçãoinício . matéria solar . mitologias . o mar . os livros . pintura . poesia . sol nascente . space is the place . the creatures inside my head . Twin Peaks . us people are just poems . verão  .  you're the night, Lilah


do quotidiano: achados imperdíveis . acidentes quotidianos e outros desastres . blogspotting . carpe diem . celebrações . declarações de emergência . diz que é uma espécie de portfolio . férias  .  greves, renúncias e outras rebeliões . isto anda tudo ligado . livro de reclamações . moleskine de viagem . níveis mínimos de suporte de vida . o existencialismo é um humanismo . só estão bem a fazer pouco


nomes: Aimee Mann . Al Berto . Albert Camus . Ana Teresa Pereira  . Bauhaus . Bismarck . Björk . Bond, James Bond . Camille Claudel . Carlos de Oliveira . Corto Maltese . Edvard Munch . Enki Bilal . Fight Club . Fiona Apple . Garfield . Giacometti . Indiana Jones . Jeff Buckley  .  Kavafis . Klimt . Kurt Halsey . Louise Bourgeois . Malcolm Lowry . Manuel de Freitas . Margaret Atwood . Marguerite Duras . Max Payne . Mia Couto . Monty Python . Nick Drake . Patrick Wolf  .  Sophia de Mello Breyner Andresen . Sylvia Plath . Tarantino . The National . Tim Burton


os outros: a natureza do mal . amigos . dedicatórias . em busca da límpida medida . retalhos e recortes



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...it's full of stars...


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