voltar o corpo para o sol, alimentarmo-nos do sal sobre a pele, resistir na ferida do excesso sobre o corpo. sonhar enquanto é tempo, avançar com os olhos pela noite dentro, como se fosse possível desvendá-la. enterrar as mãos na areia, equilibrar os ombros com o implacável azul do horizonte, pressentir o oásis longínquo que será o refúgio para a nossa sede. habitar um mundo que não nos pertence, ser nómada, ser viajante, na própria matéria dos nossos dias. moldar a boca à forma do silêncio, aprender a sustentar o desejo para que não doa a ausência, deitar o corpo sobre a terra para sentir o ardor do chão. limpar dos pés a poeira do desencontro *, acolher o azul-negro da noite com os olhos postos no firmamento, saber assim que o universo é aberto de vastos espaços, mas que só no deserto as estrelas nos falam, animadas pelo sopro dos deuses.
* Sophia de Mello Breyner Andresen
Etiquetas: matéria solar, mediterrânica, sol nascente, Sophia de Mello Breyner Andresen, substâncias
posted by saturnine | 21:38 |
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