April was the cruellest month #5
Não gosto de misticismos. Ironicamente, o meu imaginário é povoado por redes complexas de associações líricas e mitológicas. Acredito em divindades improváveis, como os livros, as pedras, ou os girassóis. Gosto de pequenos rituais, em altares simulados, que espalho pela casa. Um frasco de vidro translúcido com flores, três pedras lisas no canto de um móvel, quatro conchas dispostas em arco, em redor de um objecto mundano. São os meus amuletos, os meus totens, a minha garantia de que é possível atravessar os dias em segurança, à margem do apelo dos velhos demónios. Porque gosto do sol, do mar, dos passeios nos lugares desabitados, do recolhimento dentro das histórias, cada um destes objectos me recorda de que o mundo não está em ruínas; que existe ainda o sol, o mar, os lugares pouco habitados e o conforto das histórias. Por causa de cada um destes objectos - o percurso matinal, desde o quarto à outra ponta da casa, "bom dia, concha", "bom dia, pedra", "bom dia, flor" - é possível respirar claramente, acreditar que em breve será possível correr para o exterior e sacudir o mofo do inverno agarrado aos ossos. A minha única religião é a do girassol e, por isso mesmo, não medito dentro de casa.
Etiquetas: april was the cruellest month, declaração de amor a um objecto, em busca da límpida medida, exercícios de respiração, o exílio e o reino
posted by saturnine | 13:07 |
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2 Comentários:
...posso deixar um beijinho?
claro! :)
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