A imagem do artista atormentado foi ficando progressivamente
demodé depois do romantismo. O artista do século XX é o homem pleno, realizado. Valeu-nos, se calhar, a psicanálise, ou o bom senso, para perceber que a miséria e o sofrimento não alimentam, por si só, a raiz da obra de arte. Ainda que Jean Genet seja um caso a considerar, e não se possa contrariá-lo de ânimo leve quando diz que
«na origem da beleza está unicamente a ferida». O que se passa é que ao artista é sempre favorável a ausência da fome, da pobeza, da enfermidade. À criação, é favorável uma certa serenidade que deriva do atenuar progressivo de uma inflamada angústia existencial. O homem sereno, em paz consigo prórpio, reune as melhores condições para criar. A ironia - filha da puta, como sempre - reside no facto de, na supressão dessa angústia de existir, se lhe secarem as razões que justificam a criação - toda ela uma certa forma de exorcismo. De que lhe serve a maturidade, quando não há mais demónios para domesticar?
Etiquetas: (des)considerações sobre arte, as coisas que me passam pela cabeça, filosofia e metafísica quotidiana
2 Comentários:
também me parece que muito zen não dá senão mais zen, demónios a exorcisar, vale não só para a arte mas sobretudo para ela, da perspectiva autoral, claro.
devo dizer que nao percebi nada. :|
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