sob o signo do sol:
pré-congelado #2
há música que me faz sonhar com uma Terra que eu não posso saber de todo se existe mesmo. uma visão romântica dos desertos, das plantações de café, da dureza dos lugares inóspitos onde a presença humana diz pouco da civilização, onde a água é, mais que uma benção, uma religião. mas a música leva-me a essa terra que trago dentro da cabeça, dentro do corpo, à espera de desabrochar.
entre Junho e Setembro, a única música possível é essencialmente árabe e africana. o fascínio do exotismo está claramente marcado, sempre foi assim para o homem ocidental. mas há qualquer coisa de extremamente maravilhoso em escutar aquelas vozes, como cânticos vindos do princípio e do fim do mundo, não conseguir inteligir, e sentir que assim é que está bem, tudo está no seu lugar, que é a própria terra antiga que nos fala, e que é tempo de nos entregarmos ao abandono do sofrimento excessivo.
Sines
este ano, renunciei (não sem alguma angústia) aos festivais de verão habituais. fiz a minha estreia no Festival Músicas do Mundo em Sines. de lá, trago uma injecção de boas vibrações (que conseguiu felizmente superar a minha crescente fobia de multidões e freaks e espíritos de festival), e o espanto e a alegria de dois momentos: Faiz Ali Faiz (Paquistão) e Rokia Traoré (Mali). no primeiro, levitei para outra dimensão, quase hipnotizada, como uma cobra encantada; no segundo, dancei como se não houvesse amanhã, e viajei, viajei para longe, tão longe quanto a minha cabeça me conseguiu levar. as vozes, as vozes. como se o tom de pele conferisse dignidade ao espírito: quanto mais escuro melhor. durante dias a fio, andei com um refrão paquistanês que não compreendo de todo na cabeça. músicas longuíssimas, seguramente com 10, 15, 20 minutos. cheias de cambiantes, avanços e recuos, mas sempre guiadas por uma harmonia subtil que as encerrava dentro de uma unidade implícita. ou seja: regressávamos sempre ao ponto onde algo era reconhecido, mesmo se não soubéssemos que rumo tomávamos.
sobre a voz de Rokia Traoré consigo dizer pouco, a não ser que parece trazer a África toda dentro. ia deixar aqui umas amostras, mas não sou capaz. não faz jus ao que vi e ouvi. é partir em busca, se faz favor, ver para crer (querer).
Etiquetas: férias, mediterrânica, música para o dia de hoje, o exílio e o reino, planos para dominar o mundo, us people are just poems, verão
posted by saturnine | 23:56 |
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