She's keeping busy, yeah she's bleeding stones
e tu, através dos anos ainda não cresceste. ainda não aprendeste que nós não tínhamos um quarto de hotel nem uma tarde de chuva, mas tínhamos a luz de Lisboa e os passeios junto ao Tejo, e inventamos um dia o amor com carácter de urgência. não aprendeste que o Nick Drake tinha razão, e entretanto a espera esgota-se e esgota-me e esgota-nos. tu ficas desse outro lado de dentro das coisas onde eu não chego, e esse amor que inventamos outrora fica suspenso, pendurado como um bacalhau seco que ninguém come, como roupa esquecida no estendal, à mercê da chuva, do vento e do sol. enquanto dormes, nos meandros do medo, a noite abre meus olhos:
da que deixei pela manhã
no mundo
a água tomou o lugar de tudo
reuno baldes, estes vasos guardados
* mas chove sem parar há muitos anos
Durmo no mar, durmo ao lado de meu pai
uma viagem se deu
entre as mãos e o furor
uma viagem se deu: a noite abate-se fechada
sobre o corpo
Tivesse ainda tempo e entregava-te
o coração.
José Tolentino de Mendonça in A Noite Abre Meus Olhos
Etiquetas: fruta esquisita menina aflita, morto amado nunca mais pára de morrer, poesia
posted by saturnine | 12:38 |
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3 Comentários:
houvesse tempo suficiente no mundo...
"... porque não vejo como possa falar de ti entre dois ou três séculos."
*
outch! (...)
música linda. tudo perfeito. bonito que dói.
*
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