posts perdidos em rascunhos tardios, atrasados: 29.09.2007
Esfinge | Museu Nacional de Arqueologia de Atenas | 2006
primeiro auto-retrato: aos 16 anos, descobri o mundo antigo e o mundo clássico. descobri a anima, e acreditava no sopro que anima o corpo. pressenti que poderia envelhecer cedo. aos 20 anos, descobri o sentido da pureza inexcedível da poesia, via Sophia de Mello Breyner. ensinaram-me que, num certo modo de sentir, um peito é uma construção, um labirinto, que carrega um minotauro dentro. e passei então a saber que pertenço à raça daqueles que mergulham de olhos abertos e conhecem o abismo pedra a pedra, anémona a anémona, flor a flor.
pouco tempo depois, afigurou-se-me justo e certo que se pudesse escrever em busca da límpida medida. por tudo isso, arrisquei um gesto: os dias prometidos, com rostos de Medusas e Antígonas e Penélopes agastadas pelo tempo. desfazendo de noite o meu caminho. esse era o mundo ao qual o mundo deveria pertencer. porque é implacavelmente verdade que o mar de Creta por dentro é todo azul e eu não tenho outras palavras para a comoção da terra e da grandeza de pertencer a todas as coisas, ser igual a uma pedra e desejar chorar de alegria com a cara encostada ao chão.
Dikos, Creta | 2006
Etiquetas: afirmações identitárias, em busca da límpida medida, fotografia, o exílio e o reino
posted by saturnine | 17:45 |
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2 Comentários:
gostei muito do que se sente nestas duas últimas linhas.
bom outono.
obrigada, bruno. desejo-te o mesmo. :)
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