o exílio e o reino
O exílio fala da solidão do estrangeiro, de sua marginalização e "recusa à representação de um papel que a sociedade lhe atribui", enquanto o reino é o paraíso da história particular, universal, lugar onde o homem encontra a suposta felicidade.
o que me detive a pensar é que os conceitos de exílio e reino estão igualmente presentes na obra poética de Sophia, e com a mesma substância simbólica, ou semelhante. se bem que podemos diferenciar no entendimento do exílio de Sophia um outro tipo de marginalização que não se refere exclusivamente à dualidade indivíduo/sociedade; o exílio, em Sophia, transcende ainda essa ideia, na medida em que o indivíduo que se opõe ao mundo, consciente da sua condição de ser-no-mundo, confronta-se com um mundo que não guarda senão vestígios fragmentados da interna beleza das coisas que a alma conheceu - na obra de Sophia, esta ausência que exila o indivíduo é a ausência do rosto de Deus (ou dos deuses), símbolo de uma alegria de viver que a vida material não permite resgatar senão em sonhos.
sobre o conceito de reino, a proximidade é maior: reino é o lugar primordial da verdade de cada alma, e é em busca dessa verdade que a poeta prossegue, da plenitude essencial do 'primeiro homem', em comunhão perfeita com o ritmo secreto, verdadeiro e universal do mundo. em última instância, o indivíduo é o homem exilado do seu reino.
mas as semelhanças entre Sophia e Camus não cessam por aqui. poderia continuar, não fosse a minha aversão a posts (demasiado) longos. fica o mote para posterior reflexão. possivelmente, regressarei a ele com um poema em cada mão.
Etiquetas: Albert Camus, o exílio e o reino, Sophia de Mello Breyner Andresen
posted by saturnine | 17:47 |
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