Já não descubro, em mim, senão uma grande secura de coração. Vou cair e não sinto desespero algum.
A dor está ligada aos frémitos da vida.
O sol estancou em mim a fonte das lágrimas.
Não esquecem tal alimento os que uma vez o provaram.
Não me queixo de nada. Joguei e perdi. São ossos do ofício. Mas, apesar de tudo, sempre respirei o vento do mar.
Estavas atormentado por esse corpo exausto, ao qual davas oltas e mais voltas, sem conseguires pô-lo a dormir. Ele não esquecia os rochedos e as neves.
Nem mesmo terminaras a caminhada, arquejavas ainda e quando recaías sobre a almofada, em busca de sossego, uma irreprimível procissão de imagens que não podias deter, uma procissão que se impacientava nos bastidores, entrava logo em movimento no teu crânio. E desfilava. E vinte vezes voltavas ao combate contra inimigos que renasciam das cinzas.
O meu maior trabalho foi o de me impedir de pensar. Sofria muito, e a minha situação era extremamente desesperada. E não podia atentar nela, para não perder a coragem de andar. Infelizmente, eu controlava mal o cérebro, que trabalhava como uma turbina.
O que salva, é dar um passo. Mais um passo. Repete-se sempre o mesmo passo.
Ele sabe que, uma vez colhidos por um acontecimento, os homens já não se assustam. Só o desconhecido apavora os homens. Mas o desconhecido deixa de existir para todo aquele que o afronta.
Do fundo do abismo das noites difíceis, tantas vezes apeteceste a aparição dessa roseta pálida, dessa laridade que desponta a oriente, das terras negras. Algumas vezes, diante de ti, essa fonte miraculosa degelou-se devagar e salvou-te quando te julgavas perdido.
posted by saturnine | 23:30 |
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