One Hopper a day keeps the doctor away #3
Edward Hopper | House at dusk
«Quando um homenzinho chega a uma cidade desconhecida e procura um lugar para ficar, sente-se bruscamente desprotegido, privado do saber, à mercê de todas as investidas. Os espíritos demoníacos que habitam o mundo primitivo, regressam à luz, abandonam o exílio. Dissimulados e triunfantes, voltam a rastejar pelas secretas cavidades das rochas e pelos sulcos dos bosques de onde a razão os expulsara. O forasteiro solitário, assustado com a sua própria sombra e com o som dos seus passos, caminha entre filas de vigilantes divindades inferiores, com obscuras intenções. Não é bem ele que olha para as casas, são as casas que olham para ele. As ruas estão atentas, espreitam. Tabuletas, janelas, portas, estão repletas de olhos e bocas que o observam e murmuram. A tensão nervosa cresce e estrangula-o, cada vez mais. Se alguém lhe dirige um sorriso de boas-vindas, é o suficiente para provocar uma espécie de explosão. A sua pele, tão arrepiada como uma luva nova de pelica, parece que vai rebentar pelas costuras, libertano o espírito; então poderá abraçar os muros de pedra e dançar sobre todos os telhados, aqui ou além. Os demónios dispersaram uma vez mais, regressando ao seu limbo; tranquilo está o mundo, tranquilo e ameno e reduzido de novo à sua inércia - é como um boi embrutecido, andando à volta, sulcando o tempo como convém ao homem.»
'A Maldição'
in A Noite da Iguana e Outras Histórias, Tennessee Williams
Assírio e Alvim, 2009
Se isto não é uma das mais brilhantes aberturas para um livro de sempre, não sei o que será.
Etiquetas: Edward Hopper, matéria solar, os livros, pintura
posted by saturnine | 11:29 |
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2 Comentários:
Com estes posts o doctor está mesmo muito away!
é uma espécie de terapia solar. :)
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