no fundo, chamaram-lhe provinciano
«Internationally, Lobo Antunes is overshadowed by his older colleague José Saramago, who won the Nobel Prize in 1998. At home, the two writers, like rival political parties or sports teams, have noisy partisans, and those who cheer for Lobo Antunes claim that the wrong man won the Nobel. Lobo Antunes himself apparently agrees: when the Times called for a comment on Saramago’s victory he grumbled that the phone was out of order and abruptly hung up.
Their cramped country may not be big enough for both men, but from a distance the internecine feud hardly matters. Good novelists are unique, which makes them incomparable. Saramago is a benign magus whose fictions smilingly suspend reality; Lobo Antunes is more like an exorcist, frantically battling to cast out evil and to heal the body politic. Saramago’s secular parables, set mostly in unnamed or imaginary countries, easily float off into universality. Lobo Antunes remains obsessively local, worrying over the inherited ailments of Portuguese history and the debilities of its culture.
A novel always reveals to us the world inside someone else’s head. In the case of Lobo Antunes, that world is the size of a country — small and marginal, perhaps, but teeming with villainy and vice, and as crammed with wounds and festering sores as an overcrowded hospital ward.?
> ler o artigo completo aqui
tenho pena de nunca ter conseguido terminar o único romance de Lobo Antunes em que peguei, ainda na adolescência. o problema foi exactamente esse, suspeito. voltei a tentar ao longo dos anos seguintes, mas o resultado foi sempre o mesmo: A Ordem Natural das Coisas nunca passou do meio até ser arrumado de vez. nesse, sei-o de certeza absoluta, nunca mais voltarei a pegar. e também sei que o esforço minou o desejo e que, por isso mesmo, dificilmente irei ainda a tempo, entrada a idade balzaquiana, de me apetecer experimentar o Lobo Antunes só para saber como é, para além do aborrecimento que foi em tempos. por isso é que tenho pena. porque tenho na estante à espera um Que Farei Quando Tudo Arde, que eu queria mesmo muito ter lido porque este título ilustra um período da minha vida e porque gosto mesmo muito do Sá de Miranda e porque aquele verso é dos melhores que há, do mesmo calibre de um do not go gentle into that good night, que por acaso o Lobo Antunes também soube aproveitar para um título. o que receio e, admito, me mantém na segurança da ignorância, ou seja, sem disposição para perder tempo, advém disso mesmo: naquilo que ele é muito bom é na escolha dos títulos; se eu pudesse ler por osmose, só por segurar um livro nas mãos, leria certamente quase todos os do Lobo Antunes, só porque os títulos são muito bons. o que acontece é que são quase sempre roubados de outros autores. então, suspeitando que o melhor de Lobo Antunes são os poemas que ele leu, acho que para já prefiro cingir-me ao Sá de Miranda e ao Dylan Thomas.
nota à margem: na mesma altura em que tentei ler A Ordem Natural das Coisas li, de uma ponta à outra, com entusiasmo e paixão, o Memorial do Convento do Saramago cujos contornos, passados tantos anos, começam a esbater-se na minha memória, a pedir releitura, mas não sem se manter intuitivamente no círculo mais ou menos alargado dos meus livros predilectos.
Etiquetas: greves renúncias e outras rebeliões, os livros, retalhos e recortes
posted by saturnine | 12:33 |
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7 Comentários:
A crítica do New Yorker vale o que vale. É o jornal que nos anos 70 também aclamou Stephen King como um dos melhores escritores de sempre. São capazes do melhor e do pior.
Pessoalmente prefiro o Lobo Antunes ao Saramago, mas não os coloco em confronto, gosto dos dois. Essa comparação lembra-me um velho dilema da fotografia que nunca teve solução: Nikon ou Cannon?
Resta-me discordar da questão do "roubo" dos títulos. Só seria roubo se o escritor não assumisse as suas fontes de inspiração e o ponto de partida para o seu trabalho - é verdade, ele assume. Ao que muitos gostam de chamar plágio, a literatura, neste caso, e com os devidos cuidados, chama de intertextualidade - um conceito que vai muito além do simples aproveitamento de ideias.
Para entrar no mundo do Lobo Antunes nada como começar pela sua primeira obra, Memória de Elefante. Se não resultar... escritores há muitos.
Um bem haja para este blogue que costumo acompanhar silenciosamente (no google reader)
a crítica da New Yorker vale o que vale, como qualquer outra coisa. até como esta minha posta de pescada.
eu não digo sequer que prefiro o Saramago ao Lobo Antunes, digo apenas que gosto do primeiro e do segundo não me parece, mas a verdade é que nem sei bem. a minha comparação foi circunstancial, motivada pela feita no artigo - que de certo modo é inevitável, independentemente de ter ou não solução.
quanto à questão dos títulos, não há nada a discordar, penso eu de que. eu sei que é do conhecimento público que ele faz uma apropriação daquilo que o inspira (como, de resto, penso que seja o caso em quase toda a literatura). li-o dos dedinhos dele, em crónica ou entrevista, já não sei.
o meu "roubo" não era pejorativo nesse sentido. era uma chalaça, pretendendo insinuar que o melhor da obra de Lobo Antunes não era do próprio Lobo Antunes, mas das suas fontes de inspiração. ainda assim, mantenho o resto do que disse: o receio de terminar com a sensação de o título ser melhor que o resto do livro (entre outras coisas) mantém-me afastada do autor. se para sempre, não sei. mas para já, isso é certinho.
excelente post. Recomendo ver uma disparatada entrevista de Lobo Antunes aqui: http://www.youtube.com/watch?v=5qDmQnGGzCI
ahahaha, já tinha ouvido falar disso, mas por acaso nunca tinha visto. a sequência alucinante sobre o Nobel é impagável. :')
sim, excelente post.
Tal como um romance revela a visão do mundo que tem quem o escreve (e sendo certo que o Saramago e o Lobo Antunes têm visões do mundo diametralmente opostas), o "preferir-se" Saramago ou Lobo Antunes resulta da visão do mundo que tem quem o lê. Claro, a discussão vai muito para além do maniqueísmo daquela frase... Mas sendo natural visões diferentes, também é natural leituras diferentes, identificadas com essas visões.
Concordo com a ideia da intertextualidade: em tudo, mesmo tudo, nunca se é absolutamente original - todos lemos, pensamos e levamos um pouco de tudo o que lemos. A originalidade consiste em avançar um pouco mais no caminho. postei ha dias no meu canto o poema do dylan thomas e achei interessante tê-lo encontrado aqui.
Tem piada, quando li "Os cus de Judas" (é por este que devias ter começado) lembro-me de pensar que por fim havia um escritor português de dimensão universal, cujo tradução de obra não afectaria o contexto. Não me parece de todo que a obra tenha o tamanho do país.
bem, somos todos diferentes, e ainda bem, pennac. :) acredito que possa estar a perder qualquer coisa, mas paciência. não há vida que chegue para tudo.
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