ainda que a lírica seja de suma importância, não existe só - ou pelo menos não existe
sempre - a
vida toda nas canções. tentamos sempre - uns mais que outros, é certo - insistir até encontrar um sentido para todas as coisas. fazemo-lo porque, obviamente,
não aguentamos a desordem estuporada do mundo.* e é verdade que as canções até podem parecer, só por si, justificar um consolo, pelo reconhecimento. mas não há só os versos que dizem todas as coisas. também há a desordem que foi só desordem, e os versos que foram simplesmente versos de canções. há meia dúzia que me são extremamente caros, que de certa forma me definem.
hello darkness, my old friend** é um deles, mas cada vez menos pelos motivos que pressupunha. vejo-me rodeada de versos assim, despejados e despojados de um sentido metafísico, encontrando outros sentidos, alguns que nem vão além do prazer da música, outros que assinalam movimentos de redescoberta. a minha vida, que se podia descrever toda em versos de canções, está cheia de poemas que eram como profecias que nunca chegaram a cumprir-se. e ainda bem.
* Herberto Helder
** Simon & GarfunkelEtiquetas: afirmações identitárias, escrever, us people are just poems
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