ninguém me perguntou nada, mas
primeiro, há que reconhecer que de facto se trata de um hype e concordar que «os departamentos de marketing das editoras e os críticos literários e opinion makers que se entusiasmam em efeito de dominó, às vezes trabalham em conjunto sem o saberem», como diz Eurico de Barros, numa máquina publicitária muito bem construída. de resto, basta lembrar o fenómeno do ano passado com a tradução, pela Cavalo de Ferro, da Rayuela de Júlio Cortázar; claro que, menos mediatizado, menos enfatizado, ainda por cima sabotado o projecto de contínua (re)descoberta do autor por motivo desse triste episódio burocrático que é a ausência de distribuição por parte da Cavalo de Ferro, o hype esmoreceu mais rapida e silenciosamente.
no final de contas, interessa depois ter o bom senso de perceber que daí não vem mal nenhum ao mundo. da criação de hypes, isto é. se serve para dar a conhecer o que não deve permanecer na obscuridade do desconhecimento, porque não? se serve para apontar uma obra-prima no caminho dos best-sellers, quiçá destronando um enfadonho Dan Brown, porque não? haja mas é dinheiro para comprar livros ao preço que este 2666 saiu para o mercado e o resto é conversa.
a mim, pessoalmente, perturba-me e distrai-me um bocado o ruído vindo de todos os lados, motivo pelo qual me furto habitualmente ao acompanhamento imediato dos hypes. a minha própria desorganização, física e mental, impedir-me-ia de consegui-lo com sucesso. assim, pouco me interessa se 2666 é o próximo Ulysses ou Bolaño o Borges da nova geração. do primeiro, li apenas uma coisa minúscula de seu nome Estrela Distante, que me parece uma excelente porta de entrada na bolañoesfera. está lá a desmultiplicação autobiográfica, as referências literárias e políticas, o toque surrealista no absurdo da narrativa. tudo em jeito de apontamento. a seguir, ainda hei-de passar pelos Detectives Selvagens e provavelmente não sem terminar primeiro a Rayuela de Cortázar. por isso me parece ainda um tudo nada distante o dia em que poderei ostentar uma t-shirt que diga "sim, eu também li 2666". só não me parece é que haja qualquer interesse ou utilidade em, por outro lado, andar por aí a fazer lema de "eu não li o 2666".
Etiquetas: os livros
posted by saturnine | 15:36 |
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