The Bell Jar
hoje sei-o, A Campânula de Vidro é o livro mais terrível da minha vida, demoníaco, assombrado, perverso pela subtileza com que vai, muito lentamente, sugando o ar à minha volta sem que o perceba, até me fazer acordar a meio da noite incapaz de respirar. é claro que o cérebro é maleável, deixa-se enganar e manipular só até certo ponto; a velha máquina eficiente volta a tomar as rédeas da situação e assume a reafirmação da memória como aprendizagem: esta é a tua rua de sentido proibido, na qual não voltarás a prevaricar. a enfermidade é sempre tentadora, mas a aprendizagem da respiração é um exercício de resistência.
a ironia disto tudo reside nas partidas que o pobre cérebro prega a si próprio. o mergulho no esquecimento, tão útil na superação daquilo que dói, estende uma perigosa armadilha, e o afincado impulso de auto-protecção acaba por encontrar-se na origem das mais constrangedoras contradições: é que a memória sempre impulsiona os mecanismos de prevenção de reincidências. senão vejamos o exemplo da personagem de Kirsten Dunst no Eternal Sunshine of The Spotless Mind, a reviver uma e outra vez a mesma história dolorosa, justamente aquela que tinha preferido apagar do seu cérebro, mas que pela ausência de um luto, de um marco na memória, a deixa vulnerável às recaídas, e ao regresso aos mesmos lugares errados de um passado ainda recente.
Etiquetas: aquele canto escuro que tudo sabe, os livros, Sylvia Plath
posted by saturnine | 01:24 | 3 Comentários
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