«Tenho frio, a pele cola-se-me aos ossos, os membros tremem-me e estou feliz com isso. Vivo numa pequena aldeia nos arredores de Lovaina. O céu está cinzento. Chove quase todo o ano. Neva durante algumas semanas. O aquecimento avariou-se e não me apetece mandá-lo arranjar. Gosto da sensação de frio, de sentir todo o meu corpo tiritar, e de esfregá-lo energicamente para que me aqueça um pouco. Tenho assim, a todo o instante, a prova de que estou vivo, de que a minha existência já não é espectral, de que os meus sentidos estão alerta. Presentemente, quando me olho ao espelho, fico sossegado: é mesmo o meu rosto que faz caretas e sorri, é mesmo a minha imagem que se reflecte naquele objecto que me devolvia, há alguns meses, apenas uma ausência, um vazio.
Se hoje existo, se já não duvido da minha identidade, é simplesmente porque sou amado. Todos os dias, uns olhos cinzentos e ternos pousam em mim e dão-me de novo vida.»Tahar Ben Jelloum, O Homem Ausente de Si Mesmo
in Amores FeiticeirosEtiquetas: grandes amores, os livros
2 Comentários:
"Se hoje existo, se já não duvido da minha identidade, é simplesmente porque sou amado."
E se não for amado? Perde a identidade por causa disso? Não, não perde. Isso é absurdo.
Há um poema que diz devemos amar quem nos ama e não quem nos sorri.
o(a) caro(a) henedina bem que podia pensar um bocadinho mais sobre a questão do reconhecimento. mas deixa-me adivinhar... é um problma com as metáforas, não é? :)
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