ontem voei. tive uns bons 10 segundos de imortalidade. flutuei no vazio terrorífico do tempo que se suspende, por breves instantes, como a minha respiração, também sustida. nenhum som em redor senão o cavalgar desenfreado do meu coração a querer saltar para fora do peito. cerca de 20 metros em queda livre, e é tão claro como o medo é, apesar de tudo, a melhor coisa que existe, a única coisa que nos separa - na maioria das vezes - da auto-destruição, mecanismo automático que é da auto-preservação. ontem desafiei todos os (meus) limites, e pelo caminho os do meu pobre coração insuficiente. quando me queria arrepender, já era tarde de mais. já estava suspensa sobre o vazio, e a voz que me sustentava segundos antes -
sentes as minhas mãos? - já soava distante, como um passado -
azar do caraças, porque vou tirá-las. e assim me atirei abaixo de uma ponte, acreditando que podia voar, e voei de facto, por breves momentos, até as cordas me interromperem a queda e me assegurarem que o meu destino não era o de Ícaro. com os pés de volta em solo firme, sentia-me gigante, como se não coubesse dentro do meu corpo. poderia fazer qualquer coisa, era maior que tudo, maior que o mundo. era um resíduo de imortalidade, para o qual não há palavras, nem comparação.
hoje, e factura não tardou e é bem pesada. todo o corpo me dói violentamente como se tivesse sido brutalmente açoitado. o meu pescoço é um prato de esparguete ferido. ainda assim é coisa pouca, em comparação com as noites bem dormidas que se avizinham. contra a insónia, as descargas de adrenalina. é-me subitamente claro que hoje já não sou de modo algum a mesma pessoa que era ontem quando acordei. quem disse que aos homens não estão acessíveis as coisas dos deuses?
Etiquetas: a minha vida dava um post, do medo, planos para dominar o mundo
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