Esta noite, entrou-me no quarto, pela janela aberta, um pássaro em voo disparado, que terminou com um embate violento contra a parede em frente. Apanhei o seu corpinho minúsculo do chão, uma pequenina cabeça esmagada, um bico partido, a aflição de um coração que ainda bate, mas sem destino, sem sentido, sem futuro. O pequeno pássaro está já morto, mas o mundo está atrasado. O seu pequeno coração bate na palma da minha mão, um corpo quente de penugem macia na minha mão impotente para travar um voo disparado rumo à morte certa. A sua aflição é a minha aflição. O meu pânico. O meu pai grita-me:
Tens que largar o pássaro, tens que o deitar fora já! Mas eu não posso. Abandoná-lo em sofrimento, a meio caminho entre dois impossíveis: restituir-lhe a vida, apressar-lhe a morte.
Não posso, pai, não posso. Tens que o largar... Não posso, pai.quando acordei, tinha a palma da mão suada. era capaz de jurar que nessa palma vazia havia ainda o calor de um pequeno corpo de penugem macia, em que um coraçãozinho aflito bate.
Etiquetas: a minha vida dava um post, acidentes quotidianos e outros desastres, the creatures inside my head
4 Comentários:
:*
Tb eu tive um encontro imediato com pássaros em apuros. São criaturas em tudo tão frágeis que é mesmo impossível largar. Abraço
tendo gatos em casa desde que nasci, foram vários os meus encontros com pássaros em apuros. por mais do que uma vez, arranquei coisinhas minúsculas de dentro da boca dos gatos, na maioria das ainda a tempo, não tarde demais. aquilo de que me lembro melhor é desse corpo quente, pequeno e macio, com um coraçãozinho a palpitar na palma da minha mão. a maior alegria, quando a palma se estende e o dito levanta voo.
neste sonho, não sei ao certo o que o meu pai me pretendia dizer, ele queria que eu deitasse o pássaro fora, eu queria primeiro parar-lhe o coração. provavelmente asfixiaria na aflição da decisão. o nosso cérebro salva-nos muitas vezes, forçando-nos a vir respirar à tona da água.
aqui há uns 3 anos, tentei salvar um passarito novinho, caído de um ninho no meio do meu quintal. ainda o alimentei durante quase uma semana, mas acabou por não resistir, devo ter feito alguma coisa errada. foi num dia em que estive quase todo o tempo fora. fui tendo notícias que ele não estava bem. assim que cheguei a casa e lhe peguei deve ter aguentado só mais uns minutos. fiquei sempre com a sensação que esperou para morrer na minha mão.
possas... :S
vou (tenho de) linkar-vos ao meu ultimo post
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