ou como ter a mania de que se pode ir ao inferno e voltar. na verdade, não deve haver nada de extraordinário no facto de um moribundo subitamente ensaiar um gesto de despedida, fazer um último aceno, um esgar que seja, antes de partir deste mundo. não haverá, portanto, nada de místico em saber (ou pressupor) que se vai morrer. os orgãos falham e os sentidos vão-se, o corpo fala e nós ouvimos. é fácil: (mais coisa menos coisa) primeiro o coração dá sinal; hesita, acelera, atrapalha-se, anuncia a retirada. depois o estômago encarrega-se de trazer o inferno à boca (o que facilmente se confundirá com a probabilidade de um vómito). o primeiro sentido a ir-se é a audição. a cabeça dentro de um ovo opressor, à sua volta o mundo afasta-se e roda, roda, roda. no rodopio, vai-se o equilíbrio. do que se segue, nada se sabe. então das duas uma: ou se recobra, ou não se recobra. a diferença está na possibilidade de continuidade daqueles a quem a consciência falhou, mas é ágil no regresso. em qualquer dos casos, um súbito nada devorador engole tudo sem deixar qualquer vestígio. caso para dizer, brincando com os limites do corpo, só há consciência da queda para aqueles que se levantam.
Etiquetas: a minha vida dava um post, and death shall have no dominion, as coisas que me passam pela cabeça, fruto saturnino (conhecimento do inferno)
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