My private tortures
houve uma altura em que me levaram a crer que o tão longamente esperado novo álbum de Portishead se intitularia Saturnine. como é fácil de calcular, exultei. teria tudo a ver. trata-se da minha banda preferida dos meus 20 anos. são os meus anos a vestir só preto e antracite e sombras negras nos olhos, os anos dos jardins das Belas Artes, dos desenhos a carvão, do tempo em que todas as promessas pareciam ainda possíveis - mesmo circunscritas pela tristeza.
a música era um embalo, uma dor fina, um conforto amargo - mas reconfortante ainda assim. gloom. agora, parecer-me-ia que uma certa soturnidade revisitada bem poderia traduzir-se 10 anos depois em saturnidade. mas não. em Abril de 2008, teremos apenas um Third. naturalmente eu ainda não tenho o disco, mas se tivesse, e se o tivesse ouvido, diria desde já que é assombroso. que há sons estranhos e sombrios, perturbadores como garras a arranhar uma parede num espaço totalmente às escuras, e depois aquele mesmo encanto, quase um vislumbre de doçura, a mesma mágoa contida a transparecer na voz de Beth Gibbons.
poderia dizer ainda que "We carry on" é uma canção do camandro, que a "The Rip" lembra a Beth Gibbons outonal de "Out of season", que a "Plastic" é Portishead puro e duro num estádio de evolução muito avançado. se eu tivesse ouvido o disco, não teria gostado à primeira audição. teria constatado apenas umas 3 audições depois que nem tudo o que é bom é fácil, confirmando que na generalidade das vezes é sempre melhor um mau começo. paradoxal que seja. é que de decepções está o inferno - e nós aqui também - bem cheio.
I'm so tired, of playing
Playing with this bow and arrow
Gonna give my heart away
Leave it to the other girls to play
Glory Box
Etiquetas: drogas leves, música para o dia de hoje
posted by saturnine | 02:36 |
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3 Comentários:
Não me passaram duas ou três músicas (que não ouvi) do disco, e foi o que me ficou - tal como dizes, não foi coisa que me deixasse logo confortável, descansado.
Foi um velho amigo a aparecer, entrar porta dentro, e eu a olhar para o tipo e o tipo está diferente, mas na mesma. Estranho mas com traços reconhecíveis. COmprarei o CD (faço o mesmo com os Neubauten) ;-) e depois, devagarinho, meto aquilo ali na aparelhagem e deito-me aqui no sofá a absorver. Só depois é que saberei.
eu também não tenho o disco, não. mas cheira-me que tem uma 'deep water' lindíssima ;)
eu por acaso, se tivesse ouvido o disco, acho que gostaria mais das outras coisas mais estranhas, mais duras, mais sombrias. mas essa também seria uma faixa curiosa. :)
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