carta obscena
ou chaque seconde
est une poigneé de terre
ou chaque minute
est un sanglot
vois comme je lutte
vois ce que je perds en sang et en eau
en sang et en eau
*
como olharia um homem para a terra devastada? como olharia para o solo negro de cinza, uma morte ampla e duradoura entranhada no silêncio. para as suas mãos, sujas de culpa. como olharia esse homem para o rosto devastado de uma mulher, para os seus olhos apagados, afogados, devorados bocado a bocado pela feroz boca da tristeza?
devo confessar que fugi à pressa. evadi-me da cidade antes do previsto, acossada, querendo escapar a esses grandes braços espremendo o sossego da minha respiração. não tinha esperado um confronto assim, de peito aberto. fugi, portanto, de coração nas mãos e tórax escancarado. naturalmente, fugi para evitar a progressão do ataque. o rasto insistente das tuas mãos a abrir-me este espaço entre as costelas. é que um dia eu não aguento mais a desordem estuporada da vida. esse dia que pode ser um dia como o de hoje. hoje, morreu categorica e desastrosamente algo na parte mais relevante de mim. algo me diz que há um lugar desta cidade a que eu não poderei nunca mais regressar. só falta que as pequenas mortes se sucedam e produzam o seu alimento primordial: ouve-me/ que o dia te seja limpo e/ a cada esquina de luz possas recolher/ alimento suficiente para a tua morte [Al Berto]. hoje, tenho um braço que sangra, de uma ferida onde eu quis inscrever a tua ausência. um dia eu não aguento mais a desordem estuporada da vida. que dos subterrâneos se diga: "morreu de prolongada infecção amorosa".
* * *
desculpa-me se numa tarde de sol nos jardins do Palácio de Cristal nunca te disse que te tinha posto o coração nas mãos. desculpa-me anoitecer demais. desculpa-me ter riscado cinco pontinhos ...-.. numa página escondida de O Rosto de Deus antes de to devolver. desculpa-me ter acreditado demasiado no Nick Drake e na certeza dos teus abraços. desculpa a recusa. não sigo em frente. fico. de qualquer das formas, o coração já estava no prego. eu tenho um grande irreparável desgosto, e nenhum ventrículo grande o bastante que o esgote.
T'offrir mes bras pourquoi pas
Mon lit ok encore
pour rire a salir les draps
mais je crains que pour tout ça
Tu doives entendre je t'aime
Tu doives entendre je t'aime
*
Les Chansons d'Amour
Etiquetas: a troubled cure for a troubled mind, correio sentimental, fruta esquisita menina aflita
posted by saturnine | 02:43 |
---------------------------------------------------------------------------------------------------------------
4 Comentários:
há uma violênca orgânica latente, surda, corrosiva nas separações. ninqguém as escreve como tu
escrever uma carta é sempre deixar tanto por dizer. por entre a respiração da escrita. tu dizes. até quando a respiração falha.
(...)
*
aos três (...) *
Enviar um comentário
Subscrever Enviar feedback [Atom]
<< Página inicial