a tentação da queda é do camandro. o fascínio da vertigem, do movimento abrupto da descida, do medo - sempre o medo - colossal anterior à queda. saber que um abismo muito olhado é um abismo que olha também para dentro de nós. com olhos redondos, silenciosos, recortados no escuro como dois braços que se estendem até nós como raízes. olhos como braços como raízes. num peito desprotegido, o degredo da terra. uma caverna, um subterrâneo. eu sou dos subterrâneos, sou dos abismos. não fui seduzida com uma romã: eu vim de livre vontade, como caída num lago de cuja imagem não consegui desfixar os olhos. e a cada passo, tropeço, hesito, assalta-me o desejo profundo de cair. há livros que nos sovam como gente, gente que nos sova como gente, uma tristeza primordial na predisposição para as coisas excessivamente comoventes. cai-se, levanta-se, sacode-se o pós das mãos, a terra das calças, prescruta-se o horizonte em redor na antecipação de um futuro:
aqui estou, pronta para ser sovada. que me doam essas pedras que sangro, então, para que através delas se manifeste a vida dos meus braços. depois de terminar
A Estrada de Cormac MaCarthy, pensei que nunca mais iria ser capaz de ler livro nenhum. agora, eis-me perante o Vulcão de Malcolm Lowry, e sei-o: sobreviverei a custo na sua torrente de lava.
Etiquetas: Malcolm Lowry, o ponto de vista dos demónios, os livros
4 Comentários:
belo texto.
tens tido cá um ritmo de leitura...invejável. e eu ainda não desbloqueei.
reparo agora que ando a repetir-me. belo texto. belo texto. belo texto. bá. isso é lá coisa que se diga a um belo texto?
como um eco...belo texto...exto...xtoo...tooo ;)
não é por acaso...as palavras sublimes de outros inspira-nos o melhor em nós. ;)
limão, acabam por ser osos do ofício. ando a ganhar ritmo de leitura porque me imponho algum exercício de auto-disciplina. e porque me é doloroso conviver com os livros sem os ler. ehehehe :P
Enviar um comentário
Subscrever Enviar feedback [Atom]
<< Página inicial