um lugar com excesso de música, com excesso de imagens, converte-se lentamente num imperceptível desaparecimento: excesso de silêncio, escassez de palavras. há um virar para dentro próprio do cansaço, e das horas insuficientes para que repouse e assente e serene interiormente a amálgama ruidosa dos dias. olho para os cadernos, de páginas vazias, e finjo que escrevo. leio à luz de uma fraca lâmpada eléctrica livros adiados, companhia inexorável das noites longas, em que resistem frios os pés sob os cobertores. Thomas Bernhard e Ana Teresa Pereira, sem querer, aproximam-me de quem me quero esquecer. o
ponto de vista dos demónios é, afinal, por todo o lado. ao lado da cama, aguarda-me pacientemente Boris Vian, esse
Arranca-Corações. parece-me adequado, quando se sofre com o desabrochar de
nenúfares no peito, e se escreve então incisivamente, como quem arranca à matéria do corpo esse naco de carne dorido e infeliz.
Etiquetas: Ana Teresa Pereira, exercícios de anatomia, o ponto de vista dos demónios, os livros
3 Comentários:
Há quem sinta falta...
não se desaparece assim, quando ainda falta muito para dizer. ou já se disse tanto.
eu nunca desapareço totalmente. e agora, neste momento específico, o que me falta é só tempo e energia. o que vier, quando o tempo sobrar, há-de vir em catadupa. :)
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