Bad liver and a broken heart
em miúda já era má, muito má rês. uma espécie de Amy Winehouse pré-alcoólica - I told you I was trouble, you know that I'm no good. tive o meu primeiro pesadelo aterrorizador por volta dos 5 anos, e aos 3 já contava com um crime premeditado de apedrejamento da cabeça alheia no cadastro. nasci na cidade, morei num prédio em frente à escola primária que frequentava. saía de casa quando ouvia a campaínha dar o toque de entrada e esperava que a minha mãe já não me conseguisse ver da janela para saltar para dentro das poças de água e molhar os pés.
nessa altura diz que era inteligente demais para a minha idade, era má como as cobras para qualquer mosca-morta que não conseguisse fazer-me frente e basicamente desde os 6 anos sempre me apaixonei pelos gajos mais bestas e bandidolas. o primeiro filme que vi no cinema não foi o habitual A Branca de Neve, mas Os Salteadores da Arca Perdida. ainda hoje o Indiana Jones é o meu maior herói.
joguei ao elástico, joguei à macaca, joguei à cabra-cega, joguei à mosca e sempre que possível joguei todos os jogos que me permitissem dar porrada nos outros. reservava o tempo solitário com as bonecas para mim. cortei-lhes cabelo, pintei-lhes as caras (chorei muito de arrependimento depois), pus a Barbie e o Ken a fazer coisas marotas, tentei vestir as roupas das bonecas aos gatos. também andei pelos quintais dos meus avós a brincar na terra tardes inteiras, tive 3 meses seguidos de férias na praia onde o ponto de encontro era debaixo da bola gigante da Nivea, e obrigava os meus tios a levar-me todos os verões a ver as tartarugas do Aquário Vasco da Gama. acreditava que viviam reis e bruxas na Torre de Belém que à noite se mostravam às janelas.
li a colecção inteira dos livros de Uma Aventura e do Triângulo J e fiuqie enamorada de algumas personagens (assim mais ou menos como hoje em dia, quando me enamoro por gajos reais: é sempre tudo muito literário, insuficiente para trazer calor aos pés). gravava os desenhos-animados que via para depois poder pôr as imagens em pausa no ecrã e copiar os desenhos. gostava muito do Bocas e do Tom Sawyer e da Ana dos Cabelos Ruivos, mas quem eu sonhava ser era a bruxinha Bia ou a Cleópatra. sempre tive a mania das grandezas.
mas o que eu gostava mesmo era de quando o meu irmão (10 anos mais velho) chegava a casa e
a) me deixava jogar Tetris e Bumpy e Space Invaders com ele no computador
b) me deixava ver filmes para maiores de 16 com ele.
c) me deixava ver o Music Box (longínquo antepassado do Top+) com ele na televisão (e assim fiquei a conhecer o Prince e o Rick Astley e o Glenn Medeiros e a Samantha Fox e The Cure os Communards e... ok, adiante).
o meu irmão é a palavra-chave afectiva da minha infância. primeiro, porque não é um irmão verdadeiro, é um irmão de escolha, um ser-perfeito do afecto. depois, porque foi graças a ele que entrei por volta dos 10 anos no fabuloso universo do David Lynch. há quem diga que há certas e determinadas coisas através das quais se explica esta minha cabeça torcida. eu não sei. eu cá acho que tive uma infância feliz. muito feliz. nessa altura, eu queria beijar os rapazes e eles deixavam. era só escolher e fazer de Herr Flick: you may kiss me now. não gosto dos rapazes crescidos, independentemente do sítio para onde olham.
assim de repente, não me apetece muito pensar em reencaminhar isto. quem quiser, esteja à vontade.
Etiquetas: a infância, a minha vida dava um post, afirmações identitárias
posted by saturnine | 22:28 |
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4 Comentários:
o tom sawyer :D
:) Como te percebo... Foi sem duvida uma infancia feliz pelo que contas. Achei piada a importancia do teu irmao na tua infancia, é q o meu 8 anos mais velho tb me abriu algumas portas pra outros horizontes q sozinha com aquela idade n iria la parar...
"sempre me apaixonei pelos gajos mais bestas e bandidolas"
tem a vantagem de lhe poderes chamar cabrão a todas as horas do dia :p
"não gosto dos rapazes crescidos, independentemente do sítio para onde olham"
:-)
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