phobic meditations
eu nunca poderia ter (durante muito tempo) um template com sidebar ou com caixa central de texto estreita.
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tudo o que qualquer ser humano deseja é um reconhecimento de valor. de importância, significado, presença. qualquer coisa.* e tudo o que se precisa é de um breve sinal, como um beacon (bolas, como se traduz beacon?) na noite escura, através do silêncio, só para se saber que ainda há no mundo homens como lugares que nos reconhecem.
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os perigos da literalidade começam com a condição contraditória do escritor. quando em falo em ti não tens um nome nem um rosto decalcáveis, mas meras marcas avulsas de vidas passadas. sobrevive-se carregando atrás uma hoste de fantasmas anónimos, profundamente familiares. escreve-se para ordenar memórias, atribuir sentido ao que não o tem. escreve-se como quem inventa, para preencher os pedaços que faltam, espaços em branco como buracos, deixados pelas pessoas que passam. escrevo para ordenar-te, para conceber-te, acima de tudo para adormecer-te, porque o meu peito é já uma casa de espíritos onde morto amado nunca mais pára de morrer [Mia Couto].
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* Qualquer coisa
pergunta-me qualquer coisa
uma tolice
um mistério indecifrável
simplesmente
para que eu saiba
que queres ainda saber
para que mesmo sem te responder
saibas o que te quero dizer
Mia Couto
Etiquetas: as coisas que me passam pela cabeça, blogspotting, Mia Couto, poesia
posted by saturnine | 04:09 |
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5 Comentários:
Olá! Deduzo que citas - posso tratar-te por "tu"? - Mia Couto porque te revês ou de algum modo concordas com o que este diz. Na sequência disso,devo dizer que não creio que a escrita preencha um espaço. Acho que ela é esse fio condutor,é o mensageiro que diz ao mundo que os teus espaços estão preenchidos. Só me sinto impelida a escrever quando as coisas já estão organizadas,porque as memórias já estão sistematizadas, já encontraram o seu lugar - se bem que troquem de sítio e prioridade: umas vezes são número um,outras vezes apenas amantes,relegadas para segundo plano,às quais só acedo quando me apetece. Como tal,não escrevo para preencher,faço-o para realçar qua algo está preenchido. Creio que o único espaço em branco que a escrita preenche é mesmo o do papel. Para mim, a escrita é um meio,não um conteúdo. É um veículo. é uma forma de expressão,não a expressão. É tão natural quanto chorar ou gritar porque todos se traduzem numa tentativa de registar algo,de exteriorizar o que já não cabe cá dentro. Se a emoção é forte - ou se a sensação que nos invade é tão intensa que nos "obriga" a procurar refúgio (leia-se,veículo de expressão)- aí,escreve-se. Depois de tudo o que disse,não me interpretes mal: não pretendo dar uma definição únivoca de escrita (nem é meu objectivo defini-la. Para quê fechá-la num rótulo,prendê-la num conceito no qual nunca se irá encaixar por completo?). Só quis expressar-te -através da escrita - o que ela significa para mim. Claro que não se limita a ter uma forma: o seu produto final é sempre um conteúdo. mas esse é teu,já te pertencia. Agora,ela dá-lhe forma. E que forma...
à gentji fála nu fórum.
ai.
*respirar fundo*
margarida, o "tu" é bem-vindo. à parte isso, esta caixa de comentários está aberta aos desabafos de toda a gente, portanto independentemente do que eu vou dizer a seguir, desabafa à vontade :')
e o que eu vou dizer a seguir é que de modo algum qualquer das coisas que escrevo descreve ou organiza uma realidade universal. nem pretendo sequer lançar discussões filosóficas/metafísicas/afins. naturalmente refuto as considerações do teu comentário, pelo simples facto de que não estava obviamente a esclarecer ninguém sobre 'para que serve escrever'. é um exercício literário (ou lírico) como todos os outros.
não quero que penses que estou a amofinar-me ou coisa parecida. é que acho irónico, considerando que o próprio parágrafo começa por referir 'os perigos da literalidade' (não se me pode levar muito a sério nem muito à letra). :)
limão: lol
beacon = feixe, raio (?)
feixe, prefiro...
mas soa "mal"...
enfim... tradutore, traditore...
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