num minúsculo ponto preto, outro coração também não caberia. esta noite, só me apetecia ajoelhar e chorar. há imagens absolutamente perfeitas, e o segredo do American Beauty reside numa delas: ter o coração tão cheio de comoção que parece um balão de ar quente prestes a rebentar. esta noite, só me apetecia ajoelhar e chorar. pensar sempre em demasiadas coisas ao mesmo tempo. o universo infinitando-se progressivamente, crescendo como se respirasse - inspiração, expiração, inspiração, expiração - como uma harmónica. e dentro dele, todas as coisas acompanhando essa respiração. os encontros, as paixões fulminantes, o arrefecimento, os desencontros, o afastamento, a queda para os escombros da memória, e eis depois, glorioso, o movimento reconciliador da inspiração: o regresso. das pessoas, das palavras, dos lugares conhecidos. respirando com o universo, todas as coisas regressam. e de comoção, esta noite, só me apetecia ajoelhar e chorar. no regresso a casa, a noite é um lugar semelhante ao corpo, inflamado, em chamas, afundado no breu. no carro, a Amy Winehouse a gritar you go back to her and I go back to black. só me apetecia ajoelhar e chorar. serpenteando através dos campos, a estrada nocturna é um lugar desabitado. poderia imaginar-me perdida, não saber de mim, se fingisse por um momento que não são estes os mesmos caminhos de todos os dias. na estrada, um cãozinho enroscado para dormir, que eu tive vontade de acolher, dar colo, cobrir com o espaço côncavo do meu corpo, porque um coração pequenino e apertadinho precisa sempre muito de dar um colo a alguém. só me apetecia ajoelhar e chorar. não ter palavras, saber que não há uma palavra que baste, que circunscreva, como um abraço, aquilo que designa. burilar, como uma pedra, a comoção. não ter um nome. se eu pudesse, esta noite ajoelhava e chorava.Etiquetas: a minha vida dava um post, as coisas que me passam pela cabeça, fruta esquisita menina aflita, miles to go before i sleep
12 Comentários:
completamente desprevenido para uma leitura destas, saturnine.. belíssima a amplificação crescente, até quase tornar-se um universo, em que retorna o refrão. todo o ritmo, num aperto crescente. e nisso o sinal da liberdade maior, escondida nisto, que nos bate.
gostei muito. isso que baste.
o nosso, quando lemos ou vemos, também cresce, e às vezes precisa de dizer uns disparates, só para não morrer logo da sua finitude.
vou ficar mais um bocado.
um abraço.
quantas imagens bonitas. destaco uma:
a noite é um lugar semelhante ao corpo, inflamado, em chamas, afundado no breu.
http://nada.droggo.zip.net/
ouch. :|
Quero lá saber disso. O que é feito do outro “template” (qual é a palavra portuguesa para, lá está, “template”?) primaveril? Devias guardar este para o outono (“saison” da tv).
Samuel, é só um descanso. o outro está em reformulação, para aos pouquinhos se ir transformando em template de verão. há-de voltar já já. ;) (but thanks for noticing)*
lindo texto. escrito com a urgência da "faca demasiado perto dos dedos".
foi exactamente isso, menina limão. (/me encabulada por ter lembrares disso... *)
Lá fiz uma impressão do texto para ler mais tarde. Está bonito, está.
:)*
acresce dizer, Samuel, que naquela descrição sobre a respiração do universo me lembrei do concerto do Steve Reich. :)
É bem :)
na mesma noite em que ias acolhendo um cão eu fui atropelado por um gato :)*
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