#1
hoje
experimentar a respiração:
mundo, tira as mãos
de dentro da minha garganta.
#2
mundo, afrouxa os dedos
sobre as minhas entranhas
dói-me o corpo
em lugares que não tenho
onde eu vou
tu já não alcanças.
#3
este corpo conhece o exercício
da hedionda imobilidade
ante o que dói excessivamente
mundo, retira a tua mão agora
para que eu possa cair de borco.
#4
apodreceu o perfume
dos lilases nas janelas
gangrena o dia
alienado do sol
mundo, remove o teu braço
deste inútil naco de carne
#5
eu teria esperado um dia inteiro
agora não resta senão o vazio dos bolsos
a dor de todas as ruas vazias *
mundo, desaperta a crispação
em redor da carne viva.
#6
Será possível que nada se cumprisse? *
como pode alguém levar alguém pela mão
e largá-la sozinha no meio das sombras?
que foi feito dos abraços que enuciaste
da fé nos dias, do contentamento pelas
pequenas coisas?
já não tenho espaço para todas as canções
para todos os poemas em que me faltas
o meu corpo excedia-te e tudo
me excede agora a mim.
mundo, se tem que ser
aperta as tuas mãos
sobre o meu pescoço
mas não vaciles
corta-me o ar
que eu morro
deste veneno
que respiro.
* Sohpia de Mello Breyner Andresen
#7
ainda que saiba de cor
a textura das manhãs
que sucedem os desastres
abro os olhos somente
para os oferecer
aos pombos e aos abutres
mundo, ajuda-me a desnascer.
#8
como é nojento o bicho-pessoa
dorido, de entranhas abertas
dá o coração a comer aos ratos
para fingir-se não vazio substitui
a pele por barbitúricos
e benzodiazepinas.
Etiquetas: exercícios de sobrevivência, poemas mínimos
posted by saturnine | 22:22 |
---------------------------------------------------------------------------------------------------------------
4 Comentários:
1. agora
3. tu
2. aqui
*** nice to see you, Spot
:)
there's not much of me to see. :|
even a small particle like you,
can be great, and beautifull too :)
Little Spot, não sei que tens, mas sê de novo a menina, que quando pára a chuva, sorri para o sol claro da Primavera
***
tinha perdido o hábito de aqui vir. ainda bem. vir aqui a este blogue nunca poderá ser um hábito. é um stacato. uma respiração mais forte. obrigado
Enviar um comentário
Subscrever Enviar feedback [Atom]
<< Página inicial