chateiam-me as coisas para fazer, as obrigações, as responsabilidades, os prazos para cumprir, o trabalho para entregar, a pressão para se fazer mesmo o que se gosta, o chegar a casa e sentir angústia pela preguiça, porque o tempo, afinal, nunca é nosso. chateia-me tudo isso como se eu não fosse deste mundo e estivesse destinada a viver à sombra das árvores. também a mim a terra me chama, para estar mais próxima do silêncio. é inequivocamente mais urgente o chamamento do deserto. um dia parto e não volto mais. perder-me-ei por vontade, e serei de certeza mais feliz, com a boa seca pelo pó e as pálpebras feridas pela luz. poderá um homem viver de água e de sol?
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agora percebo como o próprio ar se torna grades:
Este é o tempo
Da selva mais obscura
Até o ar azul se tornou grades
E a luz do sol se tornou impura
Esta é a noite
Densa de chacais
Pesada de amargura
Este é o tempo em que os homens renunciam
Sophia de Mello Breyner Andresen
posted by saturnine | 01:55 |
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