o momento chega em que já nem as epifanias nos bastam, porque não as há, onde as palavras já gastaram tudo, e se exauriram da substância das importantes revelações. que há para concluir aqui, onde já tudo é sabido? que surpresa existirá em abrir a mesma porta do mesmo quarto fechado onde o mesmo canto escuro me olha e de mim tudo sabe, sabendo que eu sei? é verdade que já não me espantam os corredores estreitos povoados de espectros, é verdade que não há medo em mim, é verdade que entro a correr na noite escura. tudo me é familiar. não é por acaso, é porque pertenço à raça daqueles que mergulham de olhos abertos / e reconhecem o abismo pedra a pedra anémona a anémona flor a flor *. reconheço a fibra deste lugar, e nele nada me horroriza. tornei-me nisto, habitante íntima deste inferno. não posso escrever sobre a dor porque não há nada que ela tenha para me revelar. é isto que sou, em redor de mim todas as coisas que conheço, o mesmo braço de ferro com os demónios amestrados, sem poesia alguma, não há redenção, só há o tempo passado que sempre é melhor que a ferida aberta, so let's just get it over with. se agora insisto nas palavras, é para as gastar inutilmente, à espera que o tempo passe. porque é só esse o meu ofício. esperar que o tempo passe, vasculhando os escombros.
posted by saturnine | 21:23 |
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