já tinha falado nisto brevemente. findo o inverno, é tempo de depôr os livros pesados e tristes, como quem se despe dos casacos de lã, das golas altas, e da angústia intrínseca do frio. até que o chão de novo se encha de uvas, até que os caminhos escuros, as ruas da aldeia, cheirem de novo a lenha, não mais pegarei nesses livros que me fazem sofrer o frio dentro dentro deles. e pegarei noutros. o primeiro sol, para mim, significa Ana Teresa Pereira, o leve aroma dos pequenos frutos à sombra silenciosa das minhas árvores; o verão significa-me Duras, implacável como o sol do meio-dia é a sua palavra, como se cravada à força no espaço branco do papel - cada palavra produz uma ferida, o que lemos é o próprio vazio que sangra. andarei com os livros de Marguerite Duras sempre por perto, tê-los-ei ao meu lado mesmo se apenas me sento para fechar os olhos, porque tenho o tempo, não há pressa de chegar ao fim de Duras, se não que faria eu dos restantes verões? e, acima de tudo, na claridade das horas longas, na limpa respiração dos dias luminosos e das noites perfumadas, reencontro Sophia, mas a essa trago-a por dentro, (re)escrita sob a pele.
Etiquetas: Marguerite Duras, os livros, verão, you must believe in spring
posted by saturnine | 19:45 |
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