:: elogio da maldade #1::
«Minha senhora, eu sou o Diabo. Sim, sou o Diabo. Mas não me tema nem se sobressalte.»
E num relance de terror extremo, onde boiava um prazer novo, ela reconheceu, de repente, que era verdade.
«Eu sou de facto o Diabo. Não se assuste, porém, porque eu sou realmente o Diabo, e por isso não faço mal.
Certos imitadores meus, na terra e acima da terra, são perigosos, como todos os plagiários, porque não conhecem o segredo da minha maneira de ser. Shakespeare, que inspirei muitas vezes, fez-me justiça: disse que eu era um cavalheiro. Por isso esteja descansada: em minha companhia está bem. Sou incapaz de uma palavra, de um gesto, que ofenda uma senhora. Quando assim não fosse da minha própria natureza, obrigava-me o Shakespeare a sê-lo. Mas, realmente, não era preciso.
«Dato do princípio do mundo, e desde então tenho sido sempre um ironista. Ora, como deve saber, todos os ironistas são inofensivos, excepto se querem usar da ironia para insinuar qualquer verdade.
Ora eu nunca pretendi dizer a verdade a ninguém — em parte porque de nada serve, e em parte porque não conheço. Meu irmão mais velho, Deus todo poderoso, creio que também a não sabe. Isso, porém, são questões de família.»
A Hora do Diabo | Fernando Pessoa
The priests and the friars
Behold me in dread
Because I still love you
My love and you're dead
I am stretched on your grave | Dead Can Dance
Etiquetas: mafarricar por aí, retalhos e recortes
posted by saturnine | 02:19 |
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