para dois dias de chuva ::
De novo a laranjeira — olhai! — traz ante nós os frutos,
quais lágrimas vertidas
nos tormentos do amor
e de vermelho coloridas
Nos ramos de topázio
vede como as rútilas esferas
em ágata moldadas ficam expostas às suaves mãos do zéfiro
que têm martelinhos para uma a uma as percutir
E nós
ora as beijamos
ora nelas aromas aspiramos
e assim elas parecem faces de donzela ou perfumados pomos
Ruy Belo | A Laranjeira
tradução do poema de Abensara de Santarém (séc. XII)
* * *
Invisível, espectro, ave escarninha,
por que te escondes nos arbustos negros?
Na casota esburacada do estorninho,
nas cruzes quebradas ora faíscas,
ora gritas da torre de Marinka:
«Hoje voltei a casa.
Admirai, campos maternos,
o que por causa disso me esperava.
Meus seres amados sorvidos num abismo,
a casa dos meus pais aniquilada.»
Hoje andamos, marina, tu e eu,
pela capital da meia-noite, em nossa
peugada milhões de semelhantes,
e não há procissão mais silenciosa,
à volta dobram fúnebres os sinos
e os gemidos selvagens da nevasca
moscovita, cobrindo nossos trilhos.
Anna Akhmátova | Resposta Tardia
Etiquetas: fruto saturnino (conhecimento do inferno), poesia
posted by saturnine | 11:02 |
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