se há coisa que me fascina, são os sonhos. o absurdo, o bizarro, a estranheza todavia tão natural e tão (quase) lógica da ordem onírica das imagens. e além disso os fenómenos: o solavanco no sono, naquele limbo algures entre dormir e estar acordado, a perninha que salta ou o corpo inteiro num espasmo, a certeza de que se está a cair dentro de um poço ou abaixo de um precipício; e depois disso a questão do voo - é que toda a gente parece voar nos sonhos, há quem se veja acima dos fios eléctricos e tudo, mas eu não -, não chego propriamente a voar, o que me acontece é planar, quando caio do topo de um edifício ou de uma ponte, reduzindo suficientemente a velocidade da queda para sobreviver-lhe; digam lá se isto não é uma manobra bem mais criativa que uma tentativa icariana de alcançar o lugar dos pássaros. depois ainda a mudez, tão frequente, ou o entorpecimento do membros, não conseguir correr, não conseguir agarrar uma mão, ou qualquer dessas outras imagens de constrangimento pela falta de um elemento crucial, como caminhar despido pela rua - ou pior que isso!, sair à rua vestido, mas em chinelos - ou chegar a um
exame sem caneta para o fazer. à parte disto tudo, lugares-comuns do subconsciente humano, ainda me fascina e intriga o derradeiro fenómeno: a consciência dentro do sonho. sei que sonho. sei perfeitamente que posso decidir o rumo do que imagino, porque
estou a sonhar. não acontece sempre, nem sequer na maioria das vezes, mas bastantes. dessa forma até é possível dominar o medo, sossegá-lo, saber que está tudo bem porque estamos num lugar da nossa própria criação.
lembro-me quase sempre de sonhos e pesadelos. e quando não me lembro das imagens, acordo pelo menos com a memória vívida de uma sensação, abstracta e indescritível, mas que ainda assim resume por completo a essência do que sonhei a noite inteira. é uma espécie de angústia. como acredito que há uma simbologia a ter em conta na linguagem aparentemente ilógica dos sonhos, antes prestava atenção a tudo, a cada pormenor, tinha inclusive um caderno onde anotava diariamente os sonhos de que me recordava. depois, nem sei bem porquê, perdi esse hábito. é possível que os meus sonhos se tenham tornado menos interessantes.
para terminar, porque isto veio afinal a propósito do 'sonho de Laurie Anderson' e do pesadelo da
Alexandra, acrescento que o Seta Despedida fica muito bem com o vestido novo. acho que tem tudo a ver. :)
Etiquetas: as coisas que me passam pela cabeça
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