dois poemas sobre os mortos
aonde, sendo mais secas,
as folhas juntam o pródigo tesouro
da tristeza.
O seu distúrbio, em torno
dos negros troncos, festeja
o fragilíssimo lugar, o modo
de estar cedendo, a transparência
ao movimento universal do sono
que acorda adequação de inteligência.
E é desse lado que os mortos
sua inocência irrequieta
avivam. E aventam o ouro
outonal das folhas secas.
Sobre os mortos | Fernando Echevarría
Ed. Afrontamento (1991)
Nunca, entre tanta serenidade,
poderia pousar uma crispação, uma recusa
ou um brusco estremecimento do coração
desmedido. Não conhecer a paixão
é o privilégio dos mortos. Entre a mão
e a barca,
entre o silêncio e a aridez,
entre a claridade
e o tremor
caem as sombras sobre a água como
a roupa se desprende e cai do corpo desejado,
entrevisto
como de tanto amor se tece a Morte!
A ilha dos mortos | Luís Filipe Castro Mendes
Quetzal (1991)
Etiquetas: poesia
posted by saturnine | 02:24 |
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