Spring cleaning

De vez em quando gosto de limpar o pó à casa. Ver debaixo dos tapetes aquele pedaço de cotão esquecido. Enxotar os insectos chatinhos janela fora. Agora que está sol, abri então as janelas desta casa: little black spot is currently bug free!

Manifesto

© little black spot, para umaCena




Estou à espera do dia em que o trabalho será proibido.

You must REALLY believe in spring

Já começo a sentir o nervoso miudinho. É uma espécie de desespero finíssimo, que antecede a antecipação. É o preâmbulo da expectativa. Não fui feita para seis meses de inferno. Meia vida na estação das chuvas.
Sim, a antecipação já está quase quase aí à porta, e nós cá acreditamos sempre na primavera, mas que fazer com este céu de chumbo, que continua a fechar-nos a porta na cara? Vá lá, só mais um pouco. Março está quase aí. Mais trinta dias de suplício, depois quero todo o sol a que tenho direito.

Tea for two

Baucis & Philemon




Somos nós. Somos espectaculares. Eu sou aquela que. Ele é o outro. Estamos cá para a viagem. Ainda não temos destino. Mas temos outras coisas.

There's a devil waiting outside your door

Nick Cave & The Bad Seeds | Loverman




Gosto do Nick Cave, de paixão assolapada. Gosto dos seus extremos. Do seu ar de pastor traficante, da sua irónica religiosidade e paradoxal consciência do mal, da sua imaginação fantasmagórica, cheia de cenários impossíveis, mas tão prováveis. Gosto da sua lamechice baladeira tanto quanto da sua rockalhice fervorosa. Gosto de tudo, não sei se me entendem. Gosto de como o Henry's Dream parece um livro de histórias assombradas, uma floresta encantada, um pátio cheio de demónios. Gosto da singela raiva melancólica dos duetos de Murder Ballads. Gosto de como o Let Love In continua a parecer o álbum da minha vida, em recortes que se metamorfoseiam e permanecem exactos. Poderia ter escolhido 31 canções diferentes. Foi esta porque é assim que acontece com as assombrações: elas aparecem, possuem-nos, tomam conta de nós. Escolhemos muito pouco, ou quase nada.

...

Dói-me quase tudo. Dói-me principalmente aquilo que não posso nomear. Dói-me quase tudo, e eu agora sou o homem que não dorme e que se vira para o lado esquerdo, mas nem assim vence. Não se consegue esmagar o coração.

(you are a dream upon waking)

Yo La Tengo | Gentle Hour





It's such a pleasure to touch your skin
To touch your skin
It's such a pleasure to touch your heart
To touch your heart
I can hardly wait

I couldn't bare it, to live for fear
Undressing you
You're in my heart all the time
All the time
I will wait till you arrive
To make it to the grave
And I couldn't have done
Anything else

A gentle love
A gentle heart
A gentle love
A gentle heart

All things that cause you joy cause pain

It's such a pleasure to touch your skin
To touch your skin
It's such a pleasure to touch your heart
I can hardly wait

And I'm waiting to hear you now
To make it to the grave
And I couldn't have done
Anything else
I couldn't have done anything else








my apocalyptic friend.

♥

lugares mágicos #4

© little black spot 2008





Tenho um amor infinito às pedras. Pela solidez da palavra, pela sua existência rigorosa. Secreta, imóvel, mínima. Uma pedra é sempre uma metáfora perfeita. As criaturas que habitam o interior da minha cabeça são, frequentemente, criaturas de pedra. Também imóveis, mudas, assombrosas. Tenho a certeza que dentro delas arde uma carne viva e quente, que lateja e dói, que têm um corpo secreto que caiu em ruína sob o olhar de uma qualquer Medusa. Uma pedra é o incomensurável sofrimento contido.

Too good to be true

Moon and Venus Over Switzerland
© David Kaplan
via APOD



Há qualquer coisa de errado neste cenário. A metade inferior da fotografia é deslumbrante. A solidão despojada daquela casinha no meio da neve comove-me. Parece um pequeno poema. Mas depois, se me distraio, lá está a metade superior, obscena e desavergonhada na sua imponência. É tudo tão bonito, tão irrealmente colorido, e tão absolutamente bem composto que acaba por me parecer mais um daqueles exemplos de aerografia de mau gosto. Que, pensando bem, é o que me acontece quando vejo os quadros do Casper David Friederich. Que, não sendo suíço, é alemão, o que é quase a mesma coisa.

miles to go before I sleep #25

© wronislawa



Há dias em que acordo com um humor impossível de descrever. Há emoções tão perto de impossíveis de descrever que raramente há boas imagens que as descrevem. Acho que foi por isso que se inventou a música. Há dias, como hoje, em que acordo exactamente assim:






Black Mountain | Tyrants



Nesses dias, costumo ter alguma dificuldade em adormecer.