quinta-feira, 13 de setembro de 2007



A explicação do Mal


gosto de pensar na blogoesfera como uma espécie de cosmogonia. gosto de pensar que observo, à medida do tempo que passa, a evolução das gerações. acredito no devir. e acredito na sobrevivência que me faz pensar numa obrigação de continuidade, para que as memórias persistam. foi assim que me surgiu a designação de deuses de primeira geração para um blog como A Natureza do Mal, que será sempre e sem qualquer sombra de dúvida um blog irmão deste.

há uns anos, durante o primeiro ano do Olimpo, a Sofia - possuidora de um lirismo refinadíssimo - surpreendeu a blogosfera com um auto-retrato inesperado, em RE: de mail:


«Habito a terra dos que passam. A morte é a minha maior especialização. Detesto a chuva nos pulsos, desconcerta-me quem se senta ao Sol. Tive um amor que deixei no Verão. Sofro dum mal de espanto, tenho um problema de estilo, sou vulgar. Hoje entristeci demais.»



a blogoesfera respondeu, como um eco vindo de todos os cantos. primeiro foi o Carlos Aberto Machado. depois fui eu, lembrando um exercício passado. aos poucos, fomos todos - os amantes d'O Mal. os nossos RE: de mail foram publicados ao longo de mês de Outubro de 2003 e qualquer blogger que se preze deveria necessariamente consultar estes arquivos. creio que durante algum tempo pensamos que nunca mais iríamos parar de responder, em RE: de mail. foi daí que nasceu, pelas mãos do Hugo, a imagem que durante mais tempo povoou a literatura deste blog: um certo canto esuro, que tudo sabe.

fiz muitas versões do primeiro auto-retrato em RE: de mail que enviei para o Mal, que estarão certamente perdidas ao longo dos arquivos deste blog. não gosto de quase nenhuma, embora haja verdade em quase todas. por isso é que não podia deixar de me comover com este post desta menina, deusa de geração jovem, que se mostrou ao mundo em RE: de mail sem o saber, sem ninguém lho ter dito, sem ninguém lhe ter perguntado. menina limão, não és família só por seres citrina. és família porque também transportas O Mal.




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posted by saturnine | 16:25 | 1 Comentários


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sexta-feira, 17 de outubro de 2003




Re:

Sofro de um prolapso sistólico da válvula mitral que desde a infância determina que não sou capaz de grandes corridas, que o peito frequentemente se me aperta em palpitações confrangedoras, que um mal de ansiedade gritante ocupa os meus dias. Os meus passos traduzem-se em respiração ofegante, as minhas noites em longas lutas contra o cansaço. Tenho uma relação frágil com a minha seratonina, invento pretextos para que o desequilíbrio se desfaça, e todo o meu tempo é passado no constante sobressalto de não saber sossegar. Custa-me o tempo que não passa. Indigna-me a mediocridade, a criança que não é incentivada a consultar o dicionário. Arrebata-me a preguiça.





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posted by saturnine | 12:50 | 0 Comentários


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quinta-feira, 16 de outubro de 2003




assumi a minha verdadeira forma. a partir de agora, de mim, só falarei em Re: porque é apenas em resposta que sei inventar-me, é apenas porque outros escrevem que eu me encontro nas palavras.





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posted by saturnine | 01:47 | 0 Comentários


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RE: de mail

encontrei um post que daria um RE:
é espantoso. já não me lembrava.





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posted by saturnine | 01:21 | 0 Comentários


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RE: Re: Re:

Um dia aprendi que quando os olhos se abrem é para sempre. Que uma vez visitado o deserto passamos a transportá-lo connosco sob a pele. Mesmo este mundo, que não era o que os meus olhos queriam ver, agora acomoda-se à forma aberta do meu olhar. Aprendi que o buraco que tenho no peito não decresce, não diminui, não fecha, não substitui. Está presente, por vezes adormecido, por vezes silenciado, por vezes morno como a pele debaixo das camisolas de lã, outras tantas grita, lateja, ferve na sua polpa de ferida aberta. Prova-o esta minha existência constante de soluços cardíacos. Um dia, como tu, entristeci demais, e não há regresso ao antes disso. Trago sombras nos olhos, umas vezes nota-se outras não. Ainda temo o apagar da luz, não gosto de acordar cedo, não gosto de ser chamada às tarefas mundanas. Escrevo, sabendo que nenhuma palavra alcança o mundo. Sonho, sabendo que a matéria dos meus sonhos não se compara ao contorno vivo de uma ausência.





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posted by saturnine | 00:08 | 0 Comentários


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segunda-feira, 13 de outubro de 2003




Re: Re:

O que sei de mim é pouco mais que os pés irremediavelmente gelados no inverno, o transtorno que é recordar um amor que se despediu no verão, a cicatriz funda abaixo do joelho esquerdo que não me deixa esquecer que em criança não quis aprender a andar de bicicleta. Tenho medo do escuro e do que nele habita, custa-me o primeiro silêncio da noite e a resignação de apagar a luz. Gosto dos cachecóis de muitas cores e de camisolas brancas em Dezembro, gosto do barulho dos comboios na estação, gosto dos gatos pequeninos quando ainda não têm senão garras e orelhas. O meu pecado mortal é a preguiça e o mal de que sofro é de intimismo excessivo. Tenho os olhos carregados de sombras e uma promessa de azul nas pálpebras cerradas. Um dia recriei-me numa figura que habita o papel, de olhos esbulhagados para o vazio.





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posted by saturnine | 12:43 | 0 Comentários


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Re: Re:

o canto escuro do quarto, conhece-lo bem
é sua a mesma matéria triste dos meus ombros
e eu já não reconhecia esse canto, já não sabia
que as portas portas fechadas rangem ao abrir
e lá do fundo um rumor se passeia pelas paredes
porque as mesmas sombras habitam o seu negro
quando entro
não sei de mim
mas ele sabe
esse canto
o que te assombra e fala contigo,
aquele a quem te confessas,
aquele que sabe tudo
.





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posted by saturnine | 12:17 | 0 Comentários


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quarta-feira, 8 de outubro de 2003




Re: Re: Re:

de mim costumo dizer que sou um girassol, que no fundo dos meus olhos brilham dois sóis negros. a tristeza é o meu ofício. vivo de verão, de sede de sol, definho e encolho-me no Outono à passagem das folhas caídas. levei anos a substituir o negro, o antracite do meu guarda-roupa pelos vermelhos e azuis. levei anos a deixar crescer o cabelo. os anos não aprenderam ainda a expulsar o deserto que me habita. 'pedra', 'sal', 'ruína' são as minhas plavras preferidas. de vez em quando. também tive um amor que me deixou no verão. um que, se morresse, me deixaria os olhos como dois sóis apagados.

for nostalgic moods: Around My Smile | Hope Sandoval & The Warm Inventions

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primeiro fiquei assombrada com isto. e a seguir veio isto.

Re:

«Habito a terra dos que passam. A morte é a minha maior especialização. Detesto a chuva nos pulsos, desconcerta-me quem se senta ao Sol. Tive um amor que deixei no Verão. Sofro dum mal de espanto, tenho um problema de estilo, sou vulgar. Hoje entristeci demais.»


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Re: Re:

«vieste assim triste é essa a sabedoria de prender
os corpos uma laranja que se solta
ao ritmo do coração desarranjado
as pessoas tristes não sabem soluçar
o pensamento está preso fundo muito fundo
e é por isso que apenas se deixam adivinhar»






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posted by saturnine | 12:51 | 0 Comentários


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spot player special




"us people are just poems"
[ani difranco]


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little black spot | portfolio
Baucis & Philemon | tea for two
os dias do minotauro | against demons
menina tangerina | citrus reticulata deliciosa
the woman who could not live with her faulty heart | work in progress
pale blue dot | sala de exposições
o rosto de deus | fairy tales








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a balada do café triste . ágrafo . albergue dos danados . almanaque de ironias menores . a natureza do mal . animais domésticos . antologia do esquecimento . arquivo fantasma . a rute é estranha . as aranhas . as formigas . as pequenas estruturas do ócio . atelier de domesticação de demónios . atum bisnaga . auto-retrato . avatares de um desejo . baggio geodésico . bananafish . bibliotecário de Babel . bloodbeats . caixa-de-lata . casa de cacela . chafarica iconoclasta . coisa ruim . com a luz acesa . comboio de fantasmas . complicadíssima teia . corpo em excesso de velocidade . daily make-up . detective cantor . dias com árvores . dias felizes . e deus criou a mulher . e.g., i.e. . ein moment bitte . em busca da límpida medida . em escuta . estado civil . glooka . i kant, kant you? . imitation of life . isto é o que hoje é . last breath . livros são papéis pintados com tinta . loose lips sink ships . manuel falcão malzbender . mastiga e deita fora . meditação na pastelaria . menina limão . moro aqui . mundo imaginado . não tenho vida para isto . no meu vaso . no vazio da onda . o amor é um cão do inferno . o leitor sem qualidades . o assobio das árvores . paperback cell . pátio alfacinha . o polvo . o regabofe . o rosto de deus . o silêncio dos livros . os cavaleiros camponeses no ano mil no lago de paladru . os amigos de alex . Paris vs. New York . passeio alegre . pathos na polis . postcard blues . post secret . provas de contacto . respirar o mesmo ar . senhor palomar . she hangs brightly . some variations . tarte de rabanete . tempo dual . there is only 1 alice . tratado de metatísica . triciclo feliz . uma por rolo . um blog sobre kleist . vazio bonito . viajador


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