preâmbulo ::
o silêncio sopra nas janelas. é inequívoca a inquietação. será do calor, do súbito espanto por Marlon Brando, da noite que arde, o meu próprio corpo arde. o verão aflige-me. a hedonista que há em mim conquista terreno a cada dia. sei-o, quando interpelo a minha consciência e só a epiderme me responde. fico só, eu e o desejo. so many men, so little time. um mundo inteiro de delícias à minha espera. não tenho a menor dúvida que o inferno será o meu lugar:
Hieronymus Bosch
Inferno | do tríptico O Jardim das Delícias
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depois, há que prestar atenção a textos como este sobre o flirt, o abissal apelo dos sentidos, e é bem sabido que nas noites de insónia é que o corpo se demora pelos lugares escuros, em precário equilíbrio sobre o fio da navalha:
«Tem que ver com atracção, atracção pelo Outro. Por querer possuir a alma dos outros. O que os amedronta, que é simultaneamente, o que guardam como mais precioso. Por querermos, tão simplesmente, tão desesperadamente, chegar a outra humanidade que não a nossa. Que não a nossa por vezes tão amortalhada, tão duvidada, tão ignorada, tão incerta. E aí, como um supremo abandono, mas com a nossa última humanidade, partindo, emigrada, fugitiva, exilada, flirtamo-nos ao outro, como um arremesso, para um abraço.
É viver no fio da navalha, de forma criativa, porque do flirt tudo pode nascer. Desde a mais continuada esterilidade até à mais arrebatadora eternidade.»
Paradoxo
posted by saturnine | 01:19 |
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