diz-se da memória que desconstrói a dor. a dor passada é dor que não dói tanto. da mesma forma que o frio parece sempre distante e inofensivo durante o auge do verão. assim é também com as palavras. repetidas, gastas, tornam-se pedras. mas o peso que delas transportamos connosco se vai aliviando nos passos que damos saindo da noite negra em direcção ao dia coroado de sol. não é que nos esqueçamos do que querem dizer. apenas esquecemos que dirão sempre o mesmo:
Não saberei nunca
dizer adeus
Afinal,
só os mortos sabem morrer
Resta ainda tudo,
só nós não podemos ser
Talvez o amor,
neste tempo,
seja ainda cedo
Não é este sossego
que eu queria,
este exílio de tudo,
esta solidão de todos
Agora
não resta de mim
o que seja meu
e quando tento
o magro invento de um sonho
todo o inferno me vem à boca
Nenhuma palavra
alcança o mundo, eu sei
Ainda assim,
escrevo
Mia Couto | Poema da Despedida
não saberei nunca dizer adeus. nunca. é verdade. é disto que me esqueço. que por muito tempo que passe, indiferente à quantidade de regressos que consolem o meu peito, nunca saberei dizer adeus.
posted by saturnine | 20:23 |
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